Coloquei as pipocas na tigela, peguei uns refrigerantes na geladeira e me joguei no sofá, bem ao lado do Logan. Demos play no filme e ali ficamos por algum tempo.
Aproveitávamos cada momentinho que tínhamos, quando o Log não estava de plantão. Não cobrava a sua presença todos os dias, eu sabia o quanto ele era cuidadoso com seus pacientes e o quanto eles precisavam do Log, assim como eu precisei.
Já estava deitada junto a ele no sofá quanto a campainha tocou. Levantei para atender a porta e dei de cara com aquela garota de cabelos médios, claros e ondulados. Seus olhos castanhos brilhavam. Seu rosto não demonstrava felicidade alguma. Maisie.
- Que bom que os dois estão aqui. - Ela forçou um sorriso e entrou na casa esbarrando em mim.
Logan levantou do sofá e arqueou as sobrancelhas como se questionasse a sua aparição ali. Fechei a porta e caminhei para perto dele.
- Eu estou grávida, Logan.
Senti meu mundo desabar. Ela não fez arrodeios, não contou uma historinha, não preparou o terreno, só falou. Ela se mantinha séria e centrada, não parecia mentir.
Senti meu estômago revirar, minha cabeça doer e meus olhos se encherem de lágrimas. Se Maisie estava ali contando essa "novidade", o filho era do Logan.
- Maisie, não vai colar dessa vez. - Logan sorriu debochado. - Já conheço suas armações, só que dessa vez você foi muito longe. - Ele deu de ombros.
Ela não pestanejou. Tirou um envelope de sua bolsa e o entregou. Logan engoliu em seco e conferiu o conteúdo ali impresso.
Eu não falava nada, apenas observava a cena. Não tinha forças e nem coragem para entrar naquela briga, já era grande demais.
- Nós não estamos juntos há meses, como esse bebê pode ser meu? - Ele já suava.
- Eu armei toda aquela história das fotos, você sabe, mas você acordou ao meu lado, Logan. - Ela deu de ombros. - Fiz você ficar fora de si, delirar... Então nós... - Ele a interrompeu.
- Você só pode está brincando comigo... - Ele estava nervoso. Passou as mãos pelos cabelos sentou no sofá escondendo o rosto.
- Eu posso tirar essa criança e...
- NÃO! - Ele gritou. - Você não vai fazer nada com essa criança. Cometemos erros mas o bebê não pagará por isso.
Maisie não falou mais nada, mas pude ver sua expressão séria mudar para um sorriso vitorioso. Não, o Logan nunca concordaria com tamanha crueldade, ela sabia.
Nós três ficamos em silêncio por uns 20 minutos, até que Maisie anunciou a sua partida. Ela fechou a porta atrás de si e ouvi o seu carro arrancar e partir dali.
Logan me olhou triste e me abraçou com força. Eu amava aquele abraço com todas as minhas forças, mas o rejeitei.
- Amy... - Ele acariciou o meu rosto.
- A culpa não foi sua. - Forcei um sorriso. - Tudo bem.
- Meu amor, me desculpe por isso. Nós iremos passar por isso juntos.
Balancei a cabeça negativamente e sorri sem graça.
- Não, Log. - Me afastei dele e senti uma lágrima solitária escorrer pela minha bochecha. - Nós acabamos aqui.
- O quê? Amy, você ficou louca?
Talvez aquele fosse o meu momento de maior sanidade.
- Eu sei o que é crescer com pais separados, não quero que o seu filho cresça assim.
- Eu nunca o abandonarei. - Ele explicou choroso.
- Não é a mesma coisa.
- Amy, pense em nós. Pense em você. Nós nos amamos e não podemos terminar por isso. É um filho, a coisa mais séria da minha vida, mas eu te amo, não vou abrir mão de você.
- Essa é uma decisão minha, Log.
Ele insistiu, explicou que não poderíamos terminar, esperneou, chorou desesperado, tentou de todas as formas me convencer do contrário mas eu não cedi e não cederia.
Eu tinha um ano de vida quando os meus pais se separaram. O relacionamento dos dois passou por dificuldades e eles resolveram que o divórcio seria a solução. Talvez fosse a solução para eles, não para mim e minha irmã. Não que eu deseje um casamento infeliz para as pessoas, mas sabia o que o divórcio e crescer sem uma família estruturada custou para mim. Não seria o motivo de sofrimento para uma criança.
As minhas coleguinhas falavam sobre suas famílias lindas e completas, aquilo me doía. Meu pai fora morar nos Estados Unidos, quase nunca nos víamos. Cresci longe dele, longe do seu afago e proteção. Ele não estava lá ao lado da mamãe para assistir minhas apresentações da escola, todas as crianças sabiam disso e me excluíam por vezes. Ele não estava lá para implicar com o Dylan, meu primeiro namorado. Ele nunca esteve lá e eu sentia meu coração se despedaçar cada vez que precisava dele.
- Não é necessário que você me leve, eu posso pegar um táxi. - Expliquei quando ele insistiu para me levar em casa.
- Amy, você terminou comigo mas não precisa ser minha inimiga.
Fitei seus olhos azuis. Eu sentiria falta de encará-lo por minutos e depois abrir um grande sorriso. De beijar seus lábios lentamente ou com pressa. De andar de mãos dadas. De dormir ao seu lado. De receber seus cuidados. De ouvi-lo falar de seus pacientes. Estaria eu sendo uma louca por desistir da minha felicidade? Sim, estaria. Logan nunca me entenderia e não iria me perdoar, mas lá na frente, eu estaria com a consciência tranquila por saber que não destruí a infância de ninguém.
- Eu só quero que você saiba que eu NUNCA, repito mais uma vez, NUNCA, voltarei com a Maisie. - Ele me encarou ao parar em frente a minha casa.
- Eu não quero pensar em você com ela. - Torci o lábio. - Eu sei que ela nunca te fará feliz como eu dedicaria a minha vida a fazer. - Aproximei-me dele. - Eu também não serei feliz sem você. - Uni seu corpo ao meu em um abraço apertado.
Não contive mais as lágrimas e desabei no seu abraço.
- Mas faça o seu filho feliz. - Forcei um sorriso em meio às lágrimas. - Adeus, Log.
Acariciei o seu rosto e entrei na minha casa. Fechei a porta atrás de mim, escorei-me na mesma e escorreguei até o chão. Eu me odiei.
Não havia ninguém em casa, tudo estava vazio e escuro. Minha família estava viajando, o que veio bem a calhar, só assim eu poderia sofrer sozinha.
Depois de algumas horas jogada no tapete da sala, levantei e caminhei até a cozinha. Tirei do armário um conjunto de copos e joguei cada um deles na parede. Eu precisava extravasar minha dor, ou morreria.
Eu precisava dele. Eu queria ele. Eu não podia ter ele.
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