Senti um aperto no peito. Sentei-me na cama atordoada. Ainda era madrugada e eu estava assustada. Não havia tido um pesadelo ou coisa do tipo, apenas me sentia angustiada.
Desci para a cozinha, fiz um chá. Sentei no balcão e esperei o mesmo esfriar por alguns minutos. Engoli calmamente e voltei para a cama. O chá não havia me acalmado, mas precisava dormir. Não havia motivo algum para aquilo.
Depois de muito relutar, acabei adormecendo novamente.
Pela manhã acordei bem cedo. Olhei-me no espelho... As olheiras eram nítidas. Fiz minhas higienes matinais e desci para a sala.
- Filha, encontrei esse presente na caixa de correios. Li o cartão, parece que é para você. - Ela estendeu a mão me entregando uma pequena caixa.
- De quem será? - Sorri de lado.
Minha mãe caminhou em direção a cozinha, me deixando só. Sentei no sofá e abri a caixa com cuidado. Abri a boca algumas vezes na tentativa de falar alguma coisa, mas eu não conseguia. Sem delongas, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Cada vez que eu passava uma foto, as lágrimas caiam com maior intensidade. Não era possível... Não podia ser ele... Ele não. Ele estava comigo. Ele já fazia parte de mim. Como ele poderia fazer algo assim?
Como em um flashback, me vi atravessando a rua desesperada. Eu chorava compulsivamente. Naquele momento eu já não entendia mais nada.
Joguei um vaso na parede e gritei irritada.
- AMY! - Minha mãe correu em minha direção e me envolveu com seus braços. - Eu estou aqui. Acalme-se!
Desabei. Sentei no chão da sala e chorei. Chorei. Chorei... Só chorei. Minha mãe estava lá. Ela não perguntou nada, apenas me permitiu chorar. E eu chorei tudo o que eu pude chorar.
Minha mãe não entendia o que estava acontecendo, até olhar para a caixa. Assim como eu, ela abriu a boca algumas vezes a procura de palavras. Mas o que poderíamos falar diante do que os nossos olhos viam?
Tentei me convencer de que eram montagens, mas não eram. Tentei me convencer de que era uma farsa, mas lembrei-me de que ele era um homem, não um garoto fácil de ser manipulado.
É, Logan... Você havia me traído. Traído da pior forma possível.
***
Meus olhos estavam pesados. Com bastante relutância, consegui os abrir. Preferia não ter o feito.
- MAISIE?
Ela estava despida e deitada em meu peito, dormindo tranquilamente. Aquela era a cena mais improvável de se ver, mas aconteceu. Esfreguei meus olhos algumas vezes, aquilo não era real. Ela me agarrou com um braço, que eu logo tratei de tirar.
- MAISE, ACORDE! - Sacudi ela. - Meu Deus... - Passei as mãos em seus cabelos de maneira desesperada.
Ela abriu os olhos sonolentos e sorriu para mim. Ele respirei profundamente e sentei ao seu lado.
- O que aconteceu? Eu não lembro de nada. Como você veio parar aqui? Maisie, não brinca com isso...
- Como assim você não lembra de nada? - Ela sentou e me encarou. - Eu vim para conversar com você, mas a única conversa que aconteceu foi entre os nossos corpos. - Ela gargalhou irônica. - Senti sua falta. - Ela se aproximou para me beijar. Recuei.
- Você só pode tá brincando comigo, só pode ser isso. Maisie, eu namoro a Amy, jamais faria uma coisa dessas.
- Você não parecia lembrar da Amy quando estava tirando minha roupa. - Ela revirou os olhos. - Esquece essa garota, Log. Essa noite só provou que você me deseja.
- Maisie, eu só desejo distância de você. Pega as suas coisas e some daqui, por favor. - Joguei suas roupas em seus braços.
Me coloquei debaixo do chuveiro e tomei um banho frio. Eu estava desesperado por cogitar a hipótese de ter traído a Amy. Eu não conseguia lembrar de absolutamente nada. Nenhum beijo, nenhum toque... Nada. Só lembro de ter apagado e até lá, a Maisie não estava comigo.
Eu precisava contar para a Amy... Como ela reagiria? Como eu contaria? E se ela não acreditasse? Ao menos precisava ser sincero com ela.
- A noite foi boa, Logan... - Ela sorriu. - Da próxima vez peguem mais leve.
- Como é? - Indaguei surpreso.
- Ouvi você e a Maisie.
- Mãe, tem alguma coisa de errado nisso. Não consigo lembrar de nada.
- Não se faça de bobo, Log.
Aquilo não era real. Repeti para mim mesmo algumas vezes. Era real.
Dirigi com pressa para a casa da Amy. Toquei a campainha algumas vezes até a Grace me atender. Sua expressão não era das melhores.
- Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? - Engoli em seco.
- Pelo visto aconteceu sim, Logan. Esperava mais de você... Me custa acreditar nisso. - Ela balançou a cabeça negativamente e me entregou uma caixa.
Ao abri, me deparei com fotos minhas e de Maisie... Eu não estava acreditando.
- Ela armou para mim. - Sorri sem graça. - Ela quer me separar da Amy.
- Eu gostaria de acreditar nisso, mas é você aí. Como você explica isso?
- Eu não explico. - Suspirei. - Não consigo lembrar de nada que aconteceu.
- O que você faz aqui? - Amy me encarou no mais alto degrau da escada. - Vá embora.
- Você precisa me ouvir...
- Você vai dizer que isso não passa de uma armação e que você é inocente, certo?
- Mas é verdade.
- Logan, eu não vou acreditar em nada que você disser, então só vá embora.
- Amy, o que te faz achar que eu te trairia?
- Você que deveria me dizer isso.
- Eu NUNCA te trairia. Eu amo você com todas as minhas forças.
- E essas fotos? O que significam?
- Eu não faço ideia. Eu vim correndo te contar o que aconteceu, até perceber que você já sabia, e isso só prova que é uma armação.
- Se fosse uma mensagem me dizendo que você havia me traído, eu certamente não acreditaria, mas olha você... Não parece real? - Ela levantou uma das fotos. - Parece real para mim.
- É real, Amy. - Suspirei. - Eu acordei ao lado da Maisie, confesso. - Observei seus olhos encherem de lágrimas. - O problema é que eu não lembro de abso... - Fui interrompido.
- Muito conveniente... - Ela sorriu sem graça enquanto chorava. - Some daqui.
Suas mãos pequenas me empurraram até fora da casa.
- Não me procure mais.
Ela cuspiu suas últimas palavras e fechou a porta.
Senti-me destroçado. A minha pequena garota fora ferida por mim, mesmo não sendo minha intenção. Eu só queria proteger a Amy de tudo, mas ter um passado com Maisie só nos traria problemas.
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