quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Capítulo 1 (parte 3) - O acidente

Algumas semanas já haviam se passado e o corpo de Amy não reagia aos tratamentos. Os médicos conseguiram fazer com que o inchaço em seu cérebro diminuísse, mas como esperado, a consequência daquele impacto, seria o coma em que a garota se encontrava.

Para Grace, a difícil convivência com o estado da filha. Para Logan, a impotência por não poder fazer nada pela paciente.

- De acordo com a escala de coma de Glasgow, há 1 ponto para a abertura ocular. - Explicava.

- Sem resposta. - Respirou profundamente e virou o rosto. Não conseguia encarar aquela família.

- Resposta verbal, apenas 1 ponto também. - Ela torceu o lábio. - Resposta motora, apenas 1 ponto.

- O que somam 3 pontos. Ela está em coma profundo. - Logan concluiu levemente irritado com as circunstâncias.

- Ela não vai acordar, não é? - A irmã de Amy questionou chorosa.

- Não há como prever isso. - falou a médica que estava ao lado de Logan.

- O que você acha, Dr. Price? - Grace olhou em seus olhos esperançosa. Acreditava na bondade e nas habilidades do jovem médico.

- Eu estou aqui todos os dias, e torço para que a sua filha acorde. - Ele sorriu sem graça. - Mas não posso afirmar que isso acontecerá.

- O que devemos fazer?

- Esperar. - Ele tocou em seu ombro. - Eu não irei desistir.

- Podemos visitá-la?

- A Amy já está em um quarto, a enfermeira Wood irá acompanhá-los. - Eles assentiram.

Logan estava com os olhos marejados. Sentia uma enorme vontade de quebrar todos os objetos que encontrasse ao seu redor. Desejava abraçar aquela garota e dizer o quanto esperava pelo dia que ela acordaria. Não conseguia controlar o seu precoce apego pela paciente.

- Esperar? Logan, você sabe muito bem que essa garota vai passar o resto dos seus dias vegetando em uma cama. Só irá respirar com ajuda de aparelhos e você manda que essa família espere? Por que você quer que eles tenham esperança? Nós sabemos que ela não vai sair do coma viva.

- Mas eu acredito que vai. Eu quero que ela saia.

- Você ficou louco? Que tipo de médico você se tornou? Nós não podemos nos apegar ao que achamos ou ao que queremos. Você precisa ter certeza. Largue esse caso, você já se envolveu demais. - Ela o olhou preocupada e se afastou.

O jovem médico esmurrou a parede e fechou seus olhos com força. Estava ao lado de Amy todos os dias, entregou-se a rotina de estudar casos semelhantes na tentativa de descobrir uma maneira de fazer evoluir, nada adiantava.

- Por que você está fazendo isso comigo, Amy? - Ele sentiu uma lágrima quente escorrer pelo seu rosto e notou o quanto estava envolvido com uma garota que sequer sabia de sua existência.

***

- Filha... - Grace abraçou o corpo da filha. - Reage, reage!

Grace se entregou ao choro, assim como Megan e David, sua filha e marido. Sempre foram uma família unida e bem resolvida. Ambos sofriam com o estado em que Amy se encontrava. Interiormente, cada um questionava o motivo daquele acontecimento tão doloroso, que marcara a vida de cada um deles e destruíra​ a vida de uma jovem garota com tantos sonhos a serem realizados.

- O fim do ano já está chegando... - Grace acariciou o rosto da filha e sorriu com algumas lembranças que passaram em sua mente. - Você sempre comprava uma roupa bonita para essa ocasião, sua data preferida. Amava reunir a família e observar a queima de fogos, sempre admirei a sua alegria com essas coisas simples. - Ela apertou a mão da garota. - Gostaria que você estivesse ao nosso lado mais uma vez.

- Mãe, não faz isso. - Megan abraçou a mulher enquanto chorava. - Só vai te deixar mais triste.

- Eu não irei desistir dela, Meg.

- Ninguém irá desistir dela. - David abraçou as duas.

Megan era um pouco mais velha que Amy, o que fez com que as duas crescessem brincando juntas. Ambas sempre foram muito próximas. O estado da caçula deixava Megan destroçada, mas precisava ser forte por sua mãe.

***

O céu estava nublado, nada raro em Londres. O celular de Logan vibra dentro do bolso, já sabia de quem se tratava. Apertou o celular e buscou forças para atender aquela ligação.

- Oi, Maisie.

- LOGAN, ONDE VOCÊ ESTÁ? - Ela gritava com raiva.

- Primeiramente, fale baixo, eu certamente não tenho problemas de audição. Em segundo lugar, estou trabalhando. - Arqueou as sobrancelhas e revirou os olhos desanimado.

- Então devo lembrá-lo que seu plantão já acabou há algumas horas, meu bem.

- Eu sei.

- Se sabe, por que ainda não chegou em casa?

- Estou com uma paciente em estado grave e preciso monitorá-la.

- Logan, não há só você de médico nesse hospital. Eu preciso de você, venha logo para casa. - Esperneou.

- Desculpe, Maisie, preciso desligar.

"Sentei em um banco debaixo de uma árvore e questionei-me sobre o que eu sentia. Não fazia sentido viver uma relação conflituosa com um alguém que não vive os mesmos sonhos que eu, que não compartilha as mesmas alegrias que eu, alguém tão egoísta, alguém tão diferente de mim. Alguma coisa me prendia a ela, certamente não eram os meus sentimentos."

"Caminhei até o outro lado da rua, comprei um descafeinado e bebi enquanto voltava para dentro do hospital. Ao entrar, observei alguns enfermeiros correrem de um lado para o outro, franzi o cenho, joguei o resto da bebida no lixo e me aproximei da correria."

- Qual o problema? - Indagou curioso.

- Ainda bem que lhe achamos. - Henry falava ofegante. - A Srta. Watson sofreu uma parada cardíaca.

Logan ignorou qualquer outra informação adicional e correu para o quarto dela. Vestiu novamente seu jaleco e entrou na sala. Seu coração batia descompassadamente, não iria conformar-se em perde-la.

- O que houve?

- Ela sofreu uma parada cardíaca, estamos tentando reanimá-la, mas nada funciona.

- Me dê isso. - Da mão de alguém, tomou o desfibrilador e atingi seu peito freneticamente. Algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto e longe, eu pode ouvir vozes dizendo que já não adiantava mais. Chorava desesperado enquanto a enchia de choques, aquilo já não adiantava mais.

- Logan, pare, a perdemos.

- NÃO! - Gritou e bateu com força o aparelho em seu peito, ouviu a máquina apitar sinalizando a volta de seus batimentos.

"Joguei o aparelho nas mãos de algum enfermeiro ou médico, eu já não conseguia olhar para ninguém. Afastei-me de todos e curvei meu corpo sobre a janela. Tentei conter as minhas lágrimas, mas elas eram inevitáveis."

- Logan, não crie esperanças, mais cedo ou mais tarde isso irá acontecer, não se abale, você é um médico. - Ryan bateu em seu ombro. - Você lutou por todos os seus pacientes e sabe muito bem que poucos conseguiram sair vivos daqui. O que houve agora?

- Eu não sei. - Finalmente o encarou. - Eu só não... eu não consigo aceitar. Mas você viu, nós podemos reverter isso, ela não morreu e... - Ele o interrompeu.

- Pacientes em estados bem melhores que o dela não conseguiram, é impossível essa garota conseguir.

Logan o encarou por alguns segundos e levantou em seguida.

- É melhor você ir para casa descansar um pouco, seu plantão já acabou, meu amigo.

"Passei mais algumas horas naquele quarto com a Amy. Qualquer pessoa que visse meu estado, me desqualificaria como médico, minha única reação era chorar. Eu quase a perdi horas antes, jamais me perdoaria caso acontecesse."

***

"Pensei seriamente em não pisar em casa, mas eu precisava dormir algumas horas.
Para a minha surpresa, lá estavam os meus pais. Fui recebido por um abraço apertado do meu pai, e pela calorosa intromissão de minha mãe.

- Logan, que coisa feia o que você tem feito com sua noiva. - Ela balançou a cabeça negativamente e depositou um beijo em meu rosto. - Não foi isso que a mamãe te ensinou.

Sorri forçadamente e caminhei até a cozinha.

- Você não irá beijar sua noiva?

- Eleanor, por favor. - Meu pai a repreendeu.

Minha mãe sempre fora companheira da Maisie, o que tornaria essa visita o pior possível para mim."

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