quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Capítulo 4 (parte 2) - O despertar

Depois do banho e dos exames, fui transferida para a enfermaria. Estava bem melhor. Mas precisaria passar por exames neurológicos, para saber a gravidade dos traumas que sofri.
Minha vida era considerada um milagre. Os médicos esperavam que eu não falasse ou entendesse coisa alguma. A perda de memória foi o menor dos males esperados.

Minha mãe havia passado aqui cedinho, junto com a minha irmã e meu padastro. Não reconheci seus rostos, nem lembrei de momento algum ao lado deles, mas estava feliz por saber que tinha uma família que me amava.

Ela me trouxe alguns livros para que eu pudesse me distrair. Estava lendo um deles quando Logan chegou. Seu sorriso me trazia uma paz tão grande. Me sentia tão feliz por tê-lo ao meu lado, mesmo conhecendo tão pouco sobre ele.

Depois que ele deixou o quarto, voltei a ler o livro, mas estava pensativa. Será que esse namorado mencionado por ele um dia significou muito para mim? Será que eu o amava?

- Meu amor... - Um jovem rapaz aproximou-se de mim tentando me beijar. Virei o rosto.

- Quem é você? - Fitei seus olhos.

Como em um déjà vu, vi passar diante dos meus olhos momentos nossos. Nosso relacionamento parecia tão perfeito. Observei seus lábios, estava falando alguma coisa, mas eu não conseguia ouvi-lo.

- Amy? - Ele despertou-me de meu transe.

- Me desculpe. - Falei enquanto o encarava.

- Você está se sentindo bem?

- Eu lembrei de você. Lembrei de nós.

Observei-o ficar nervoso, o que era estranho, ele deveria querer isso.

- Do que você lembrou?

- De tudo. - Sorri sem graça. - Sei que nos conhecemos na infância, que você foi o meu primeiro namorado e que estamos juntos desde então. Algo bonito. - Sorri e o abracei. Ele retribuiu um pouco tenso.

- Você não consegue lembrar de tudo?

- De toda a minha vida? Não. - Suspirei.

Conversamos mais um pouco sobre diversas coisas. Dylan parecia tão gentil, não era difícil se apaixonar por alguém como ele.

***

"Vi naquele rapaz um aliado. Eu não aceitaria perder Logan, assim como ele não parecia conformado em perder sua namorada.

- Ei! - Sussurrei. - Você aí! - Ele me olhou.

- Oi. - Caminhou até mim. - Algum problema? - Ele me encarou.

- Meu nome é Maisie, prazer em conhecê-lo. - Estendi a mão.

Ele apertou minha mão e me encarou.

- Eu já vi você... - Ele torceu o lábio pensativo. - Vi você mais cedo com o médico da minha namorada.

Balancei a cabeça positivamente.

- Tenho algo a tratar com você, algo do seu interesse. Podemos almoçar juntos e eu te conto.

- Vamos.

Bonito, charmoso, com atitude. Gostei dele. Seria um colírio para os olhos, enquanto me livrava de sua namorada.

Fomos até um restaurante não muito distante do hospital, mas um pouco mais reservado. Não desejava ser vista ao seu lado. Precisava manter tudo em secreto.
Olhei pelos vidros do restaurante uma intensa chuva caía lá fora. Nada fora do comum nessa cidade. Londres sempre fora um lugar com um clima imprevisível.
Aconcheguei-me melhor na cadeira e encarei seus olhos azuis.

- Então, o que você tem para me dizer?

- Eu fui abandonada no dia do meu casamento, pelo Dr. Logan Price.

- Lamento. - Ele torceu o lábio. - Mas o que eu tenho a ver com isso?

- O Logan me abandonou para ir ao hospital. Dia 01 de dezembro, o dia em que sua namorada saiu do coma. Não foi uma coincidência. - Balancei a cabeça negativamente e observei seu rosto ficar vermelho.

- Dê um jeito de manter seu noivo longe da minha namorada.

- Digo o mesmo para você. - Sorri irônica. - É por isso que vi em você a possibilidade de que consigamos isso. Você mantém sua namorada longe do Logan, e eu trato de manter ele bem longe dela.

- Como você fará isso? A Amy estava em estado vegetativo e mesmo assim você não deu conta do seu noivo, como fará isso agora que ela acordou?

Fechei meu rosto e o encarei furiosa. Como ele poderia ser tão ousado em suas palavras?" - Maisie

***

Depois de um plantão longo e corrido, entreguei os prontuários e passei novamente em cada quarto para verificar se tudo estava bem.
Caminhei até o banheiro, tomei um banho refrescante, vesti roupas limpa, me perfumei, passei as mãos em meu cabelo numa tentativa frustrada de arruma-los e segui para visitar Amy.

Não passava mais tanto tempo acompanhando-a. Amy não estava mais na UTI, portanto, fora de minha área. Independente disso, continuava de olho nela, não apenas por sentir algo além do afeto de um médico pelo seu paciente, mas pelo conhecimento do caso e por querer o melhor para ela.
Seus exames estavam bons. Fora o fato de se encontrar abaixo do peso ideal, Amy estava bem.

- Boa noite! - Sorri para ela.

- Boa noite! Você mora aqui? Por que não aproveita seus momentos livres para sair um pouco? Você leva uma vida tão corrida aqui.

- Nossa... - Sentei ao seu lado. - Que desabafo.

Depositei um selinho em seus lábios e ela sorriu. Nos abraçamos. Encostei meu queixo em seu pescoço. Ela possuía um cheiro tão suave em sua pele.

- Eu pretendo aproveitar meus momentos livres quando você sair daqui. - Acariciei seu rosto.

- Isso se você não se engraçar por outra paciente. - Ela revirou os olhos me fazendo rir.

- Impossível. - Aproximei meu rosto do dela e beijei seus lábios.

- Vocês formam um lindo casal. - Uma Senhorinha de cabelos grisalhos sorriu emocionada.

- Obrigada. - Agradeci.

- Como foi o seu dia? - Ela perguntou.

- Muitos pacientes e alguns casos novos. - E como foi o seu?

- Tenho uma coisa pra te contar. - Ela respirou profundamente e me olhou. Parecia um pouco nervosa. - Eu consegui lembrar de algumas coisas.

- Isso é ótimo, Amy! - Abri um sorriso largo e comemorei, mas ela não parecia feliz. - O que foi?

- Eu lembrei do Dylan. De como nos conhecemos, do nosso relacionamento...

- Entendi. - Sorri sem graça. - O que você sentiu?

Senti medo ao fazer aquela pergunta. Medo de que ela me dissesse que tudo o que um dia sentiu, havia voltado junto com as suas lembranças. Medo de que ela me rejeitasse.

- Parecia um namoro daqueles de contos de fadas, sabe? Ele sempre foi gentil, paciente... Maravilhoso. Mas sinto que há algo errado. - Ela torceu o lábio. - Não sinto nada. - Ela deu de ombros. - Conversamos por alguns minutos, mas não senti desejo algum de continuar aquela conversa. Eu não o amo. Se um dia o amei, não sei onde esse sentimento fora colocado.

Um enorme peso fora retirado de minhas costas. Abracei-a apertado. Ela não imaginava o quanto eu a amava.

- Eu amo você. - Segurei seu rosto e olhei em seus olhos. - Amo como nunca amei ninguém. Amo sem precisar te tocar para ter essa certeza. Amo porque consegui estar ao teu lado durante todo esse tempo sem ao menos saber se você também me amaria. Amo porque durante todo o dia, eu só consigo pensar no momento em que te encontrarei. Amo porque gosto de ouvir a sua voz a me falar as coisas mais bobas. Amo porque não consigo mais ficar sem ver o teu sorriso. Amo porque desejo ter uma vida ao seu lado. Talvez você não sinta o mesmo, mas não consigo reprimir esse sentimento. Nem o quero.

Aqueles olhos castanhos estavam cheios de lágrimas. Ela sorriu. Uma lágrima escorreu pela sua bochecha. Ela uniu seus lábios aos meus em um beijo apaixonado.

- Eu quero ficar com você. - Ela passou a mão pelos meus cabelos. - Quero aprender a amar você. Quero ouvir a sua voz muitas outras vezes, porque um ano em coma ouvindo o seu "bom dia" todas as manhãs, não foi suficiente. Não conseguia entender tudo o que você me dizia, mas sabia que você estava lá. Não me senti só. Sei que nunca estarei só ao seu lado.

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