1 de dezembro. Bebi mais uma dose e senti minha garganta queimar. Um ano a espera dela. Um ano acreditando que ela abriria os olhos e eu estaria lá para declarar todo o meu amor. Eu esperava por aquele momento com todas as minhas forças, mas aquele dia parecia não chegar.
A madrugada estava fria. Não me importei muito. Meu celular vibrou dentro do bolso. Maisie. Revirei os olhos e rejeitei mais uma chamada. Acho que ela estava pensando que eu fugiria da cidade. Não seria má ideia. Algo a se pensar.
Amy. Amy. Amy. Bati no balcão com força e apertei minhas mãos. Como eu odiei aquela garota por me fazer sentir o que eu estava sentindo. Bebi mais 5 doses seguidas e senti minha cabeça girar. Acho que já estava bom. Paguei a conta e segui para o meu carro.
Ouvia uma música alta enquanto cantava junto. Gritava.
Meu celular começou a tocar mais uma vez. Maisie. Bufei. Desci o vidro do carro, joguei o celular pela janela e passei por cima dele com o carro. Problema resolvido. Ao menos por agora.
Minha voz estava embolada, minha vista estava...
- MERDA! - Gritei ao sentir o impulso do meu carro contra um poste de luz. - Que droga. - Passei as mãos pelo cabelo e desci do carro.
- Tudo bem ai, amigo? - Um homem de meia idade perguntou da janela do seu quarto.
Não reconheci seu rosto.
- Logan? O que houve? - Uma mulher indagou da janela. Eu conhecia aquela voz.
Ela desceu depressa, abriu a porta da casa e correu para perto de mim. Ótimo, eu havia batido em seu poste.
- Você bebeu. - Grace pôs as mãos na cintura e me olhou com um olhar materno.
- Um belo estrago. - David bateu em meu ombro.
- Me desculpem, eu... - Grace me interrompeu.
- Entre, querido. - Ela me pegou pelas mãos e me puxou para dentro de sua casa. - Você precisa de um bom banho e uma noite de sono. Amanhã chamaremos um reboque.
Assenti e segui suas ordens. Eu não fazia ideia de que bairro era aquele e de como eu fui parar ali. Mas estava ali.
Subi as escadas tombando.
- Esse é o quarto da Amy. - Grace abriu a porta e me permitiu entrar.
Gelei.
- Tudo bem, querido? - Grace indagou preocupada.
Instantaneamente o álcool parou de fazer efeito em meu corpo.
Olhei para cada canto daquele quarto. Me senti atordoado. Pisquei algumas vezes, só então voltei a raciocinar.
- Tudo... - respondi baixinho enquanto começava a explorar o quarto.
Seu quarto era grande, possuía uma enorme janela com vista para a rua, as paredes pintadas com tons pastéis, tudo muito delicado, era de se esperar. Seu quarto não dispunha de muitas decorações, talvez não fosse do seu gosto. Todavia, muito bonito.
Observei algumas fotos suas como um grande mural em uma parede. Toquei-as e sorri. Amy parecia tão feliz, alegre e espontânea naqueles momentos. Meu sorriso se desfez bater os olhos em suas fotos com o Dylan.
- Vou te trazer uma toalha e roupas.
- Grace, eu te agradeço, mas não precisa disso. Eu estou bem. - assenti.
- Logan Price, você acabou de beber a ponto de bater em um poste. Você estar tudo, menos bem. - Ela deixou o quarto.
Sentei naquela cama espaçosa e senti um cheiro suave e doce. Seria o perfume de Amy?
Grace me trouxe toalha e roupas. Disse que poderia me sentir a vontade, como se a casa fosse minha. Avisou que não era proposital que eu estivesse no quarto de sua filha, mas que o quarto de hóspedes estava ocupado. Não me incomodei.
Tomei um banho frio, vesti as roupas e me joguei na cama. Olhei para a mesa de cabeceira e sorri ao ver um prato com biscoitos e um copo de leite. Me senti uma criança. Adoraria ter Grace como sogra.
Aquele quarto fazia sentir-me mais perto de Amy. Avistei seus inúmeros livros e entendi a sua escolha por Literatura Inglesa. Ela realmente apreciava a leitura e escrita. Grace já havia me falado sobre alguns de seus gostos. Além disso, vi em seu Facebook algumas publicações de textos literários.
***
"Eu estava desespera e enfurecida. Logan havia saído cedo da noite e não deu mais sinais de vida. Liguei centenas de vezes durante a madrugada, ele ignorou todas as chamadas, até desligar o celular. O odiava com todas as minhas forças.
Passei a noite acordada pensando nos locais que aquele homem estaria, mas tinha a certeza de que era naquele maldito hospital.
5 da manhã. Entrei no hospital enfurecida e o procurei por todos os lugares. Espera... Ele não estava lá. Onde mais estaria? Surtei.
Ele não estaria em uma despedida de solteiros, não era do seu feitio.
- ONDE VOCÊ ESTAVA? - Gritei ao vê-lo entrar pelas portas de casa.
- Cala a boca, por favor. - Ele me ignorou e começou a subir as escadas.
- Por que não atendeu minhas ligações?
- Passei por cima do celular com o carro. - Ele revirou os olhos e continuou subindo as escadas.
- Você é um grande idiota. - Choraminguei. - E essas roupas? - Finalmente vi.
- Eu não quero falar, Maisie. Me deixe em paz.
- Como você vai se casar comigo dessa forma? Você nem fala comigo.
- EU NÃO QUERO ME CASAR COM VOCÊ. - Ele cuspiu aquelas palavras. - EU NÃO TE AMO!
- E por que vamos nos casar?
- Por que é o que você quer. - Ele suspirou. - Você foi a minha melhor amiga na adolescência. Eu achava sentir algo muito profundo por você... Me enganei. Passei 7 anos ao seu lado apenas me iludindo, mas agora não faz muita diferença. - Ele deu de ombros. - Se em 7 anos nada mudou em minha vida, não me importo mais.
- Mas eu te amo.
- Não, não ama. - Ele balançou a cabeça negativamente. - Você ama o status de estar ao meu lado." - Maisie
***
O que eu estava fazendo da minha vida? Iria mesmo me casar com aquela mulher? Tudo parecia loucura. O casamento seria no fim do dia e eu estava ali, como se fosse um dia qualquer.
Maisie saiu para o seu dia de noiva.
Levantei-me da cama, fiz a barba e sai para pegar o bendito terno. Aproveitei e comprei um celular novo... Precisaria dele.
Tentei o máximo possível manter meus pensamentos bem distantes de Amy, falhei na tarefa. Fazia um ano que aquela garota havia entrado na minha vida para desestruturar tudo que parecia estabelecido. Amy, como eu gostaria de te abraçar.
Amy não acordaria. Meu estômago revirou, meu coração se contraiu. Desejava todos os dias que ela acordasse para que eu tivesse uma esperança, uma pontinha de esperança de que poderia ser feliz. Um ano e isso não aconteceu.
Eu estava lá. Cabelos penteados, barba feita, terno perfeito, convidados sentados, padrinhos e madrinhas, o juiz de paz, nossos pais... Tudo parecia bem, com excessão de mim.
Algumas pessoas me mandavam ter calma, a noiva logo chegaria, mas eu só desejava que uma nave extraterrestres abduzisse ela.
A marcha nupcial começou a tocar. Olhei para frente e lá estava ela. Maisie era uma mulher muita bonita, estava ainda mais. Sorri fingindo empolgação e felicidade.
Os convidados começaram a se levar e voltar seus olhares para ela.
Aceitamos.
Antes de que a cerimônia fosse oficializada, meu celular começou a tocar freneticamente dentro de meu bolso. Todos me olharam. Maisie lançou-me um olhar fuzilante.
Era do hospital.
Meu coração começou a bater de maneira descompassada.
- Desliga esse celular. - Maisie me beliscou.
Eu só pensava em receber a notícia de que ela havia morrido.
- Pode falar. - Atendi nervoso.
- Dr. Price, Amy Watson abriu os olhos.
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