quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Capítulo 1 (parte 2) - O acidente

- O que você ainda faz aqui, meu amigo? Seu plantão já acabou. Você precisa dormir. - Ryan, seu colega de trabalho, indagou confuso.

- Estou acompanhando essa paciente. - Ele suspirou ao olhar para Amy.

Logan sentiu seu celular vibrar dentro do jaleco, o tomou em suas mãos e observou a foto da sua noiva brilhar na tela do aparelho. Respirou fundo, desculpou-se rapidamente com Ryan, pôs o aparelho no ouvido e iniciou a conversa.

- Oi, amor.

- Oi, amor? Logan, essa é a décima quarta vez que estou te ligando. Não adianta se justificar dizendo que está no trabalho, seu plantão já acabou. - A garota demonstrava sua fúria do outro lado da linha.

- Conversamos em casa.

Logan finalizou a ligação, desligou o aparelho, o devolveu ao bolso do jaleco e aproximou-se de Amy.

- Será que você também é assim? - Ele deu uma risadinha sem graça ao olhar para a garota esticada na cama.

A pele de Amy assemelhava-se à parede do quarto: branca. Pálida. Sem vida.

- Nenhuma reação? - Ryan questionou e Logan negou com a cabeça. - Então por que tanta insistência nesse caso?

- Eu prometi que cuidaria dessa garota. Não consigo explicar o motivo, mas me sinto ligado ao caso.

- Você deveria ir para casa e ficar com sua noiva. A Maisie é linda. Sua ausência pode fazer com que ela desista de você.

Logan deu de ombros. A suposição de Ryan parecia ser seu maior sonho.
Depois de algum tempo, ele se rendeu ao cansaço e decidiu ir para casa. Sabia que ao chegar, precisaria passar por mais uma das discussões diárias com sua noiva. Condenou-se mentalmente por isso. Tomou uma dose de coragem, caminhou até o seu carro e partiu.
No caminho, ele ouvia uma música calma que tocava no rádio, cantarolava junto com ela. Lembrou-se de Grace, mãe de Amy e resolveu informá-la sobre sua filha.

- Dr. Price? Boa tarde.

- Boa tarde, Sra. Watson.

- Aconteceu alguma coisa com a minha menina? - Sua voz parecia trêmula.

- Gostaria de lhe trazer boas notícias, mas nada aconteceu. Estou ligando para informá-la de que o caso da Amy não foi alterado em nada. - Ele mordeu seu lábio inferior lamentando suas palavras.

- A Amy é forte. Não sei quanto tempo isso levará, mas ela sairá dessa.

- Espero que sim.

Logan dirigiu mais alguns minutos, estacionou o carro em sua garagem e entrou em casa.
Maisie o olhava com uma expressão de fúria. Ele aproximou-se da garota, depositou um selinho em seus lábios e sorriu desanimado.

- Boa tarde.

- Eu te odeio. - Ela revirou os olhos irritada. - Você é o pior noivo do mundo. - Ela falou enquanto o empurrava com uma mão.

A garota subiu as escadas e bateu a porta do quarto com força. Ele comemorou por ficar sozinho.
Jogou sua pasta no sofá, caminhou até a cozinha e lavou as mãos. Jogou algumas uvas em sua boca enquanto retirava sua roupa. Estava tão cansado.

Logan caminhou até a sala com um pote de biscoitos, jogou-se no sofá, tomou o celular em suas mãos e digitou "Amy Watson" em uma rede social. Depois de alguns minutos de pesquisa, achou o seu perfil. Enquanto olhava as publicações da garota, os olhos de Logan brilhavam. Amy era a dona do rosto mais singelo já visto por ele. Seus traços delicados o encantavam cada vez mais. Sua boca apresentava um tom rosado, seus olhos castanhos brilhavam intensamente, seu sorriso... Aquele sorriso. Ele sorriu junto com ela.
Observava as palavras de Amy ao escrever qualquer texto e gargalhava baixinho com alguma coisa engraçada que a garota havia publicado. Quando se deu conta do quão encantadora aquela garota deveria ser, entristeceu-se e lamentou seu estado.

***

- Eu estava dirigindo um pouco acima da velocidade permitida, não posso negar, mas ela apareceu do nada. - O homem explicou nervoso. - Eu me sinto péssimo pelo acontecido, mas não pude evitar. Não havia ninguém na pista, quando vi, ela já estava ensanguentada no vidro do meu carro, depois rolou e caiu no chão.

- Ela se atirou na frente do seu carro? - O policial questionou.

- Foi tudo muito rápido, mas ela não parecia querer se suicidar. Eu acho que ela estava correndo para atravessar a pista. Não deve ter visto o carro, assim como eu não a vi. - Ele suspirou.

- O Sr. se considera culpado?

- Devo receber uma parcela da culpa por não ter respeitado a velocidade indicada, estava com pressa para chegar em casa, mas eu juro que não a vi, eu nunca faria isso de propósito.

Aquele depoimento passava o dia todo na cabeça de Grace. Sua filha estava correndo para atravessar a pista, mas por qual motivo? Era a sua festa, o seu momento, o que havia acontecido? Por que ninguém sabia explicar nada?
Os amigos de Amy afirmaram que a garota estava se divertindo naquela noite e que não repararam a sua saída da casa.
Grace não apresentava traços de raiva pelo motorista. Sabia que ele não havia tentado assassinar sua filha. Aquilo não passava de um acidente. Um terrível acidente.

- Eu gostaria muito de entender o que houve, Dylan. - Algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto.

- Será que a Amy estava tentando tirar a própria vida?

- CLARO QUE NÃO! - Ela gritou nervosa. - Me desculpe. - Ela suspirou. - A Amy sempre foi alegre, nunca demonstrou qualquer atitude que nos levasse a cogitar isso. Você deveria saber disso, é o namorado dela.

- Eu sei. - Ele deu de ombros.

- Por que ela não estava com você? - Grace o olhou desconfiada. - Onde você estava, Dylan?

- Grace, você não quer me acusar de ter tentado matar a Amy, não é? - Ele indagou surpreso.

- Eu só perguntei onde você estava.

- Estava pela festa, como vou saber o local exato?

- Tudo bem.

Grace começara a entender que havia algo de errado com essa história, e Dylan estava envolvido nisso, mas o que seria? Ele estava demasiadamente nervoso para alguém que supostamente não estava envolvido.

***

- Espera aí, você já vai voltar para o trabalho? - Maisie o olhou incrédula.

- Eu preciso cuidar de uma paciente.

- Mas e eu, Logan? - Ela caminhou até ele. - Sinto falta de você, de nós dois. - Depositou um beijo tímido em seu pescoço.

- Maisie... - Ele abraçou-a pela cintura.

- Por favor, fica mais um pouco.

Maisie beijou os seus lábios com pressa e o empurrou para sofá. Sentou em seu colo enquanto sentia o rapaz distribuir beijos pelo seu pescoço.
Ela sabia exatamente como mudar os planos dele.

- Preciso ir. - Ele levantou depressa enquanto vestia suas roupas.

Maisie é de fato uma mulher bonita. Logan sentia-se atraído por ela, mas não a amava. Quando não há amor, torna-se impossível conviver com os defeitos daquela pessoa.

- Mas já? - Ela questionou surpresa.

- Preciso trabalhar. Até amanhã.

Logan depositou um selinho rápido em seus lábios e correu para o carro. Dirigiu depressa. Precisava ver Amy. Só conseguia pensar no que poderia fazer para tirá-la daquele hospital. Desejava observar o seu rosto sereno, seu sorriso tímido e tudo o que ela desejasse falar. Parecia conhecer cada parte do seu ser.

- Dr. Logan, o que faz aqui novamente? O Sr. deixou o hospital essa tarde, por que voltou?

- Meus pacientes precisam de mim.

- Mas temos outros...

Não permaneceu para ouvir o que a mulher tinha a dizer, pegou o seu jaleco, o prontuário dos seus pacientes e correu para acompanha-los.
Alguns pacientes estavam reagindo aos tratamentos, e ele se empolgava cada vez mais. Adorava informar às famílias dos avanços dos pacientes. Gostaria de fazer o mesmo com Amy.
Entrou em seu quarto e sentou-se ao lado dela. Tocou em seu rosto, acariciando suas bochechas. Sorriu.

- Gostaria que você acordasse. Ao menos os seus batimentos se estabilizaram. - Ele assentiu com a cabeça e tocou em sua mão. - Por que você não reage, Amy? Sua mãe disse que você é forte, seja forte.

"O que estou fazendo?", Ele indagou mentalmente. Seria loucura em dois dias se apaixonar por alguém? E se esse alguém for sua paciente em coma?



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