quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Capítulo 1 (parte 1) - O acidente

- POR FAVOR, DEIXE-ME VÊ-LA! - A mulher de meia idade gritava enlouquecida com a recepcionista do hospital.

- Senhora, se acalme. - Ela olhou-a assustada. - Sua filha está sendo tratada pelos melhores médicos que temos.

- Eu só quero poder abraçar a minha menininha. - Ela falou enquanto debruçava-se sobre o balcão. Seu rosto estava tomado por lágrimas.

- Eu sinto muito, mas isso é impossível...

Antes mesmo de terminar de ouvir o que a funcionária tinha a dizer, ela correu rapidamente em direção à porta que dava acesso às salas de cirurgias.

- A SENHORA NÃO PODE ENTRAR AQUI. - Um enfermeiro gritou enquanto segurava a mulher, impedindo-a de prosseguir o seu caminho em busca de sua filha.

- Por favor... - Ela chorava de maneira desesperada.

- O que aconteceu? - Um jovem médico aproximou-se dos dois.

- Essa senhora não pode ficar aqui.

- Minha filha... Eu preciso saber da minha filha. - Ela segurou o jaleco do médico de maneira desesperada.

- Qual o nome da sua filha? - Ele tocou em seu ombro de maneira calma e respirou fundo.

Dotado de um jeitinho calmo, fora paciente e acolhedor.

- Amy. Amy Watson. - Ela falou com a voz trêmula.

- Eu sou o responsável por ela. Estamos fazendo o possível pela sua filha.

Lembrou-se da garota que acabara de ver. Sentiu seu coração apertar-se dentro do peito.

- Por favor, me deixe vê-la. - Ela abaixou a cabeça de maneira triste. - Ao menos me diga o que aconteceu.

- Senhora Watson, infelizmente o caso da Amy é delicado, não podemos permitir a sua entra...

- DOUTOR, PARADA CARDÍACA!

Aqueles gritos ecoaram por todo o corredor. Os visitantes do outro lado da recepção olharam espantados.

- TIRE-A DAQUI! - Ele gritou enquanto corria em direção a sala.

A mãe de Amy foi levada até a sala de espera. Seu coração estava apertado. Sequer entendia o que havia acontecido naquela noite, tudo parecia bem. Só parecia.
Minutos depois, seu marido e filha chegaram até lá. Todos estavam confusos com o acontecimento, e preocupados com o estado de Amy.

- Os batimentos estão fracos. - Ele lamentou com um suspiro demorado.

- Qual é a história? - Um colega indagou.

- Atropelamento. - Ele respondeu enquanto atualizava o prontuário da garota.

- Passamos a madrugada toda com ela, espero que se estabilize. O caso é complicado.

- É, eu também espero. - Ele falou baixinho enquanto olhava para o rosto da garota coberto de sangue. - Podem limpar. - Ele assentiu para os enfermeiros e deixou a sala.

Logan Price era um médico intensivista recém-formado. Um rapaz de 25 anos, sempre atencioso com seus pacientes, e preocupado em se tornar um médico melhor.
Diferente de outros profissionais da área, Logan não preocupava-se em construir um grande nome. Estava empenhado em tirar cada um de seus pacientes de seus leitos. Preocupava-se em ser um alguém significativo para eles.

- Amy Allen Watson? - Ele indagou enquanto passava os olhos pela sala a procura dos familiares da garota.

- Aqui! - Eles se aproximaram. - Não nos poupe dos detalhes, precisamos saber de tudo. - Ele assentiu, sentou-se em um sofá, apontando para que eles fizessem o mesmo.

- A paciente sofreu traumas diversos. O caso é extremamente delicado. Gostaria de trazer boas notícias, mas a melhor que posso trazer é que ela está viva. - Ele engoliu em seco suas próprias palavras.

Tentava ser delicado com suas palavras, mas sempre fora instruído a não criar expectativas que poderiam ser frustradas.

- Pode continuar. - Sra. Watson engoliu em seco, enquanto segurava suas lágrimas.

- Provavelmente o impacto da batida foi grande. A paciente sofreu grande parte do impacto na cabeça, se encontrando com um edema cerebral. Estamos fazendo o possível para que o inchaço diminua. Todos os procedimentos possíveis foram feitos, mas ela tem grande probabilidade de não acordar.

Logan sentiu seu estômago revirar. Amava trabalhar como intensivista, entretanto, cada vez que precisava fazer seu discurso, era como aproximar-se da morte. Se imaginava no lugar de cada parente e no quanto seria difícil ouvir aquelas palavras.

- Como assim? - A mulher desesperou-se.

- Calma, mãe. - Sua filha abraçou-a em uma tentativa de conter a mulher.

- O coma infelizmente é uma consequência do edema. Além disso, ela sofreu duas paradas cardíacas e os batimentos ainda não se estabilizaram.

- Será que agora eu posso vê-la?

Só por um minuto. Ela só desejava um minuto.

- Pegue. - Ele estendeu um cartão com um número. - Amy se encontra na UTI, por enquanto não podemos permitir sua entrada. Recomendo que a Sra. vá para casa, tudo que puder ser feito, nós faremos. Esse é o meu número, me ligue para que eu possa lhe informar sobre o caso da sua filha, eu quero ajudar no que for preciso.

Logan sentia seu coração apertar de dor por não poder fazer algo grandioso por aquela família, sentia-se intimamente ligado ao caso. Amy não saia de sua cabeça. O motivo brutal e desconhecido pelo qual ela se envolveu naquele acidente.

- Me prometa que cuidará da minha filha. - Ela segurou sua mão.

- Eu prometo. - Ele sentiu seu coração acelerar.

Seu plantão já havia acabado, mas estava ali a observar a garota. Mesmo naquela situação, Amy tinha uma expressão serena no rosto. Sua pele se encontrava arranhada e pálida, ainda assim, incapaz de esconder sua beleza. Não muito alta, cabelos longos e lisos, rosto delicado... Ele estava encantado por alguém que nunca nem ouvira a voz.

Estava curioso para saber como ela não fora capaz de ver ou ouvir o barulho de um carro naquela rua.
Canonbury é caracterizado por ser um bairro calmo. Amy deveria ter ouvido com facilidade caso algum carro estivesse passando em sua rua.

Já em casa, Grace Watson, mãe de Amy, se encontrava desolada. Depois de um longo banho, a mulher se vestiu e caminhou até o quarto da filha. Olhou a redor, observou a cama bagunçada, alguns copos de bebida espalhados pelo quarto, assim como por toda a casa.
Na noite anterior estava acontecendo uma festa em comemoração ao aniversário de Amy, festa que acabou em um grave acidente, até então incompreendido.
Grace juntou o lixo, arrumou a cama e observou algumas fotos da filha espalhadas pelo quarto. Sentiu uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto e suspirou deixando o local.

Quanta dor estava sentindo dentro de si. Amy não estava morta, mas talvez não acordasse nunca mais. Era como um pesadelo, o qual lutava para acordar.

- Olá, Dylan. - Ela sorriu sem graça para o jovem rapaz.

- Como ela está? - Ele perguntou nervoso.

- Querido... - Ela o abraça e desaba em lágrimas.

***

Na manhã do dia 1 de dezembro, tudo parecia calmo. Amy levantou-se, abriu a janela do seu quarto, permitindo que a brisa fria batesse em seu rosto. Sorriu. Caminhou até o banheiro, escovou os dentes, despiu-se e tomou um banho quente. Vestiu suas peças íntimas, colocou uma calça quentinha, um moletom confortável, arrumou seus cabelos, colocou seu doce perfume e desceu as escadas de sua casa.

- Bom dia, aniversariante. - Sua irmã sorriu e depositou um beijo em sua testa. - Feliz aniversário!

- Obrigada. - Ela abriu um sorriso largo.

- Parabéns, filha. - Sua mãe a envolveu em um abraço apertado. - Que o seu dia seja maravilhoso.

- Obrigada, mãe.

- Amy, tenha um feliz aniversário. - Seu padastro girou-a no ar e ambos gargalharam juntos.

- Agradeço a todos. Amo vocês.

- Temos presentes. - Eles apontaram para o sofá.

- Eu prometo que abro na volta, agora eu preciso ir para faculdade. Até mais tarde.

As ruas de Canonbury estavam levemente frias e paradas. Amy andava calmamente rumo à uma parada de ônibus. Depois, pegaria um trem para Oxford. Aquela era a sua rotina de todos os dias. Estudava Literatura Inglesa na Universidade de Oxford. Essa era a sua grande paixão.

O dia havia passado rapidamente. Amy estava feliz por todo o carinho recebido de seus pais e amigos. Dylan, seu namorado, surpreendera com um lindo buquê de rosas durante a aula, o que deixou a garota emocionada.
Durante a noite, a festa organizada por sua irmã e amigos, ocorria maravilhosamente bem. Amy e seus amigos dançavam músicas animadas, se divertiam com jogos e bebiam por toda a casa. Durante todo o tempo da festa, tudo parecia normal.

- SOCORRO! - Um homem gritava na rua desesperado.

- O senhor está bem? - Um dos amigos de Amy questionou ao sair da casa, dirigindo-se até o seu carro.

- Eu sim, ela não. - Ele apontou para a garota caída no chão.

- AMY! - O rapaz gritou.




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