- VOCÊ PRECISA ME DEIXAR ENTRAR, CAROL! - Gritei desesperado. - É o meu filho. - Choraminguei.
- Logan... - Ela tocou o meu ombro. - Eu sinto muito.
- Não... - Fitei seus olhos. - Isso é sério? Como assim, Carol?
Eu não sei qual era a expressão do meu rosto, mas meu coração estava em prantos. Meu filho fora concebido de forma errada, mas eu o amei. Não houve um único dia em que eu não conversasse com ele na barriga de Maisie. Ele chutava ao ouvir a minha voz, parecíamos tão conectados. Quando soube que seria um menino, fiquei tão entusiasmado. Decoramos o seu quarto com tanto amor. Maisie me deixou escolher tudo. Caprichei em tudo para a sua chegada.
- O impacto foi tão grande... - Ela falou triste. Carol era uma das obstetras que trabalhava no hospital comigo. Eu odiava perder os meus pacientes, ela também. - A Maisie perdeu muito sangue. Nenhum dos dois sobreviveu. Eu sinto muito por isso, meu amigo.
Carol me abraçou com força e eu desabei em seus braços. Minha vida já estava triste o bastante com a ida da Amy, mas aquilo... Era uma dor maior que todo o meu ser. Eu nem era um pai propriamente dito. Eu não tinha tocado no meu filho, não tinha trocado suas fraldas, sequer visto o seu rostinho... Mas eu já me sentia tão pai dele.
- Vocês o tiraram de dentro dela? - Perguntei tristemente.
- Sim.
- Deixe-me vê-los.
Caminhei até a sala de cirurgia. Por trás dos vidros, avistei alguns médicos que ainda permaneciam por lá. Eu não deveria estar alí, mas Carol entendia a minha dor.
Vesti as roupas apropriadas e entrei na sala. Os outros médicos, enfermeiros e instrumentadores se afastaram para os extremos da sala e me deixaram com eles.
Maisie estava pálida e fria. Morta. Eu não imaginava aquele fim para ela. Maisie não fora a melhor pessoa em minha vida, mas ela morreu carregando dentro de si o meu filho. Seria eternamente grato por isso. Nós últimos meses o nosso relacionamento não fora dos piores. Levávamos uma vida amigável, apesar de suas inúmeras tentativas de me reconquistar.
Meu filho estava lá, ensanguentado ao lado da mãe. Peguei-o nos braços e encostei seu corpinho pequeno junto ao meu peito. Chorei como uma criança. Ele sequer teve a oportunidade de respirar o mesmo ar que eu. Ah, eu me senti perdido. Eu não tinha mais ninguém. Fiz tantos planos para nós, tudo acabou em tragédia. O que a vida estava fazendo comigo? Por que isso? Por que dessa forma?
- Logan, sinto muito por atrapalhar esse momento, mas você conhece o protocolo... - O interrompi.
- Eu sei que vocês já fizeram muito me proporcionando esse momento. Eu já irei.
Coloquei aquele pequeno menininho ao lado de sua mãe e deixei a sala.
Os corpos só seriam liberados no dia seguinte, então fui para casa. Eu precisava encarar aquele lugar, mas as lembranças da Maisie caída e da quantidade de sangue em sua volta... Eu iria pirar.
Tudo aconteceu muito rápido. Eu estava preparando o nosso café da manhã quando ouço um barulho estrondoso vindo da sala. Corri até lá e encontrei a Maisie caída aos pés da escada. Ela deveria ter tropeçado em algum dos degraus e rolado até o fim da escada. Ao seu redor, uma enorme poça de sangue que só aumentava a cada segundo. Ela estava caída por cima da barriga. Virei-a com pressa. Maisie chorava e gritava alto. Aquilo só me deixava mais desesperado. Tomei-a em meus braços, a coloquei no banco de trás do carro e segui às pressas para o hospital. Eu nunca dirigi com tanto desespero como naquele momento.
Olhei para trás e ela já não conseguia mais falar.
- Maisie, aguente firme. - Apertei a sua não.
- Me perdoe... - Ela falou baixinho.
Aquelas foram as últimas palavras de Maisie.
Meses antes eu coloquei sua cama na sala, para que ela não precisasse subir e descer aquelas escadas. Ela não me obedecia. Maisie, Maisie...
Ao adentrar a minha casa, me deparei com o seu sangue impreguinado no piso cor de madeira. Imaginei que sempre ao olhar para aquela escada, lembraria do dia em que perdi o meu pequeno filho e a garota que um dia fora a minha melhor amiga, alguém que esteve comigo por tantos anos.
Limpei todo aquele sangue, tomei um banho demorado e me joguei na cama. Encarei o teto branco e só desejei a Amy para me consolar. Eu estava precisando dos seus abraços, mas eu não pediria que ela voltasse, talvez ela já tenha seguido com a sua vida.
O Fredie parecia sentir o que eu estava sentindo. Ele pulou na cama e se aconchegou ao meu lado. Me olhou com aqueles grandes olhos brilhantes e lambeu o meu rosto em uma demonstração de afeto. Ele se tornou o meu melhor amigo.
- Agora somos só eu e você, meu amigo peludo. - Acariciei os seus pelos clarinhos.
Ao entrar no quarto do Henry, esse fora o nome escolhido por nós, não pude deixar de chorar. Lembrei-me do dia que estive aqui pintando as paredes em um tom de verde clarinho. Enchemos as paredes de desenhos de animais, deixamos tudo tão perfeito. Roupas, sapatos, fraldas, brinquedos... Seu bercinho. Deixamos tudo pronto apenas esperando a sua chegada. Ele nunca chegaria.
***
Uma cerimônia dolorosa. Eu olhava para os dois caixões decepcionado com a vida. Era tão doloroso aceitar que o meu filho que nem havia nascido, já estava em seu sepultamento, junto à uma mãe que ele não pode conhecer.
A cerimônia demorava, e quanto mais eu olhava para o pequeno caixão, mais dor eu sentia dentro de mim. Olhei em volta e bati meus olhos no Dylan. Meus punhos se cerraram.
- O que você faz aqui? - Indaguei irritado.
- Logan, precisamos conversar. - A minha mãe falou baixinho nos interrompendo.
- Vá embora, Dylan. Esse é um momento doloroso para a nossa família.
- E quem disse que para mim também não é? - Ele suspirou.
- Como? - Franzi o cenho.
- Filho, você precisa...
- É o meu filho alí, Logan. - Dylan apontou para o caixão e saiu.
- Como é que é?
- Olhe para mim. - Mamãe segurou o meu rostos. - A Maisie estava grávida do Dylan. O filho não era seu.
Parei por alguns segundos tentando digerir todas as informações.
- Vocês estão malucos. - Gargalhei nervoso. - É claro que o filho era meu. A Maisie não mentiria para mim sobre algo tão sério.
- Ela mentiu. - Mamãe assegurou. - Sei que é doloroso, mas é a verdade. Vocês nunca mais transaram depois que se separaram. Quando a Maisie te dopou, ela só tirou as fotos, nada aconteceu.
- Não brinca comigo, mãe... - Falei nervoso.
- Ela e o Dylan se envolveram. Quando descobriram que ela estava grávida, resolveram usar isso para separar você da Amy.
- Por que você só me contou isso agora? Mãe, eu sofri como um condenado quando a Amy foi embora. Eu sequer consegui me reerguer e isso acontece. - Apontei para a cerimônia que continuava acontecendo. - Eu estive longe da mulher que eu amo, cuidei e sofri por um filho que nunca foi meu... - Meus olhos estavam marejados.
- Sinto muito, meu filho. - Ela chorava. - Você sabe o quanto eu mudei quando descobri sobre o meu câncer, mas eu decidi não falar nada. Você estava tão animado com a ideia de ser pai que eu pensei que tudo ficaria bem.
- Mentiras nunca acabam bem, mãe.
Caminhei até o caixão do pequeno Henry e coloquei uma rosa vermelha sobre o seu caixão.
- Você não foi o culpado de nada disso.
Afastei-me até a entrada do cemitério. Olhei para trás e suspirei. Quantas mentiras.
- Amy? - Meus olhos se encontraram com os dela.
- Eu queria poder te confortar nesse momento.
Seu corpo se uniu ao meu em um abraço apertado e cheio de saudades.
Esse capítulo merece votos e comentários, não é mesmo? 😭❤️
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