Cocei os olhos e com dificuldade sentei na cama. Ele não estava mais lá. Algumas enfermeiras vieram para me ajudar.
- Eu gostaria de tomar um banho, mas não sei se consigo ficar de pé.
- Podemos te ajudar com isso.
Eu balancei a cabeça negativamente. Senti meu rosto arder de vergonha. Elas sorriram timidamente.
- Então colocaremos você em uma cadeira de rodas e você cuida do seu próprio banho, pode de ser? - Assenti positivamente. - Estaremos aqui fora caso você precise.
Fiquei de pé com a ajuda delas. Minhas pernas pareciam não suportar o peso do meu próprio corpo. Elas me sentaram na cadeira de rodas e segui até o banheiro.
Retirei aquela bata que mais parecia um enorme saco e olhei meu corpo ossudo no espelho. Eu parecia um esqueleto coberto apenas por pele. Suspirei. Terminei de me despir, abri o chuveiro e senti a água fria tocar o meu corpo. Estremeci. Passei alguns minutos debaixo daquele chuveiro. Estava pensativa.
Pensava no que poderia ter me levado a estar daquela forma. Pensava em como era a minha vida. Pensava no Logan. Não esperava acordar de um ano de coma e ter a minha espera um médico apaixonado.
Sequei meu corpo com dificuldade, vesti uma roupa limpa com mais dificuldade ainda. Segurei nos corrimões de ferro instalados nas paredes do banheiro. Fiquei de pé. Dei alguns passos em direção a porta do banheiro. Senti medo de cair, mas desejava me movimentar. Abri a porta e sai do banheiro segurando nas paredes.
As enfermeiras me ajudaram a voltar para a cama.
- Você é esforçada, logo logo estará bem melhor. - Uma delas sorriu.
- Daqui a pouco os médicos virão e farão alguns exames de rotina. - Assenti.
- Estou com fome. - Torci o lábio.
- O seu desjejum será servido depois dos exames.
Penteie meus cabelos sentada e fitei a janela do quarto.
***
Ela adormeceu em meus braços. Acomodei-a na cama, cobri seu corpo com um cobertor e depositei um beijo em sua testa.
Dirigi para casa. Minha cabeça começou a doer só de pensar no meu encontro com a Maisie e na briga que teríamos. Apesar de não sentir amor por ela, não estava orgulhoso de tê-la abandonado em nosso casamento na frente de todos, mas não estava arrependido, era a Amy.
Estacionei o carro de frente para a minha casa, tomei coragem e entrei. Estava tudo muito silencioso e quieto. Subi para o meu quarto e ela não estava lá. Comemorei interiormente.
Tirei aquela roupa social, Me coloquei debaixo do chuveiro e tomei um banho quente. Vesti uma roupa de dormir e me joguei na cama. Acho que nunca dormi tão bem em minha vida.
Sorri ao acordar e lembrar daqueles olhos, do sorriso e do beijo. Amy era delicada de todas as formas, isso só me fazia querer proteger aquela garota do mundo inteiro.
O dia do meu casamento fora o melhor dia de minha vida, não pela cerimônia ter acontecido, mas por ela não ter se efetuado, graças a vida da garota que eu verdadeiramente amava.
Ouvi uma movimentação pela casa. Só poderia ser a Maisie. Respirei profundamente, corri para o banheiro e fiz minha higiene matinal. Vesti uma roupa, peguei minhas coisas e desci.
- Bom dia, filho. - Meu pai me abraçou.
- Eu ainda não estou acreditando no que você fez. - Minha mãe me encarou furiosa.
- Bom dia, mãe. - Depositei um beijo em sua bochecha e mordi uma maçã. - Como vocês entraram? - Indaguei confuso.
- A Maisie está...
- Eu preciso ir. - Acenei para eles e corri para fora da casa.
Eu não queria saber onde a Maisie estava, só gostaria que ela saísse de minha vida, o que não seria fácil.
Independe de quem ela era ou de como agia,não gostaria de tê-la magoado.
***
Amy já estava na enfermaria. Caminhei até o seu leito e observei-a lendo um livro.
- Bom dia. - Sorri para ela, que fechou o livro e fitou os meus olhos.
- Bom dia, Dr. Price. - Ela sorriu timidamente. - Dormiu bem?
- Como um bebê. - Brinquei. - E você?
- Dormi bem. - Ficamos em silêncio por algum tempo.
- Eu gostaria de te... - Fui interrompido.
- Beijar? - Ela sorriu. - Por que não o faz?
- É sobre isso que queria falar com você. - Suspirei.
- Não vai me dizer que você vai remarcar seu casamento, não é? - Ela pôs as mãos na cintura e me encarou. Soltei uma risada baixa.
- Não, Amy.
- Então o que é? Eu beijo mal e você se arrependeu de se declarar para mim?
Eu gargalhei com suas indagações. Comecei a conhecer seu lado engraçado.
Me aproximei dela e uni nossos lábios em um beijo rápido para não chamar a atenção dos outros pacientes.
- Seu beijo é maravilhoso. Certamente não me arrependo de ter dito que te amo. - Acariciei o seu rosto. - Eu quero ficar com você, mas...
- Mas... - Ela sorriu sem graça. - O que houve?
- Você tem um namorado. - Ela me olhou surpresa. - Não lembra dele, mas tem. Apesar de querer quebrar cada osso dele, não posso separar vocês a menos que você decida isso.
- Uau. - Ela mordeu o lábio inferior. - Não ter memória é uma droga. - O que mais eu tenho, um filho? - Ela sorriu engraçada. - Preciso que alguém me conte quem eu sou.
- Você se chama Amy Watson, tem 20 anos, sofreu um acidente que te trouxe até aqui...
- Como aconteceu esse acidente? - Ela indagou curiosa.
- Todos esperávamos que você nos dissesse. - Suspirei. - A única coisa que sabemos é que você atravessou a pista e foi atingida por um carro que estava acima da velocidade permitida. O que você estava fazendo lá, ninguém sabe. - Lamentei. - Era o seu aniversário de 19 anos. Você e seus amigos comemoravam com uma festa na sua casa, fora isso, não se sabe de mais nada.
- Continue.
- Você tem uma irmã, um pai e um padastro. Fazia faculdade, estava aprendendo a dirigir e tem um namorado. - Revirei os olhos. - Também tem um médico apaixonado por você. - Depositei um selinho em seus lábios e ela sorriu.
- Como você sabe tanto sobre mim?
- Passei um ano inteiro investigando sua vida. - Pisquei para ela.
Conversamos mais um pouco enquanto o meu plantão não iniciava. Amy era uma ótima companhia. Falava, perguntava, ouvia, fazia piadinhas...
Me despedi dela com um último beijo. Ela não parecia se importar com o fato de ter um namorado, mas eu sim. Não estava disposto a dividi-la, também não achava que ela faria isso.
- Encontrei você. - Maisie me olhou. Engoli em seco.
- Oi, Maisie. - Droga!
- Você me deve infinitas explicações.
- Eu sei. - Assenti.
- Onde ela está, doutorzinho? - Dylan interrompeu nossa conversa. Nada melhor do que Maisie e Dylan em uma manhã só.
- Cara, eu acho que ela não quer ver você. - Falei ironicamente.
- E eu acho que você está querendo apanhar novamente.
Gargalhei baixinho. Adoraria fazer de seu rosto o meu saco de pancadas.
- Quem é você? - Maisie questionou. - Sem educação. - Ela revirou os olhos.
- Eu sou o namorado da paciente que esse idiota é apaixonado. - Ele soltou as palavras e caminhou em direção a recepção.
- Então é isso... - Ela balançou a cabeça negativamente. - Você me trocou por ela.
- Dr. Price, UTI chamando.
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