segunda-feira, 2 de abril de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 10 parte 1

Ele não estava falando de qualquer acidente. Foi o acidente. Ele não estava falando de qualquer morte. Foi a morte. Ele não estava falando de qualquer pessoa. Era o Logan. O meu Logan.
Aceitar que alguém amado se foi é algo difícil de digerir, ainda mais quando você descobre que não foi por acaso, que não foi um acidente que poderia ter acontecido com qualquer pessoa. Aquele acidente fora planejado, e eu estar viva, não fazia parte do plano.

- Eu estou confusa. - Sequei as lágrimas, cruzei as pernas e respirei fundo. - Como vocês descobriram isso? Eu fui informada que o motorista do outro carro havia fugido. Eu só pensei que ele estivesse com medo.

- Sra. Price, o motorista do outro carro se chama Blake, ele foi retirado do seu carro por um homem que ainda não conseguimos identificar. O Blake foi levado inconsciente para um hospital e demorou todos esses meses para se recuperar. Só então ele decidiu falar o que havia acontecido.

- Isso não faz sentido. O Logan perdeu o controle do nosso carro, não foi culpa do Blake. - Arqueei as sobrancelhas.

- A perícia constatou que os freios do carro do seu marido foram cortados. E quanto ao Blake, ele estava no lugar certo, na hora certa. Foi pago para atingir o carro de vocês.

Eu tentava assimilar todas aquelas palavras mas nada fazia sentido em minha mente. Quem poderia agir com tamanha maldade?

- Por que o Blake faria isso? Ele poderia ter morrido. Como alguém consegue arriscar a sua vida assim por dinheiro?

- As pessoas são más. - Ele suspirou. - Sinto muito por trazer essa notícia. Esperamos solucionar esse caso em breve. Traremos justiça para o seu marido.

- Obrigada. - Forcei um sorriso e o acompanhei até a porta. - Detetive? - Ele virou para mim. - Ele não delatou o mandante, não é?

- Infelizmente não conseguimos fazê-lo falar.

- Eu quero lhe fazer um visita. - Engoli em seco. - Meus advogados entrarão em contato.

Fechei a porta, girei a chave e caminhei até o sofá. Tirei meus sapatos, aconcheguei-me na maciez do meu sofá e encarei o Steve que durante toda a minha conversa com o detetive esteve imóvel.

- Eu devo te abraçar? - Ele ajoelhou-se aos pés do sofá. - Eu não sei se você quer quebrar alguma coisa para descontar a raiva, não sei se quer ficar só, não sei se quer um abraço... É só você me dizer o que devo fazer, Amy.

- O que você sentiu quando sua esposa foi assassinada? - Indaguei acanhada.

- Impotência por não poder fazer nada por ela e muito ódio. - Ele fechou os olhos e me puxou para o seu colo. - O que você sente?

- Eu estou com muita vontade de chorar, mas a raiva que eu sinto me impede. Quem faria isso com ele, Steve? Quem? - Balancei a cabeça em negação. - Isso é surreal.

- Você deve chorar, Amy. Você precisa colocar toda essa raiva para fora.

- A minha raiva não o trará de volta, e nem descobrir quem fez isso com ele. - Lamentei.

- O que você quer dizer? Você não quer descobrir?

- Se eu não estivesse correndo risco de vida, eu não gostaria de saber. - Deitei minha cabeça em seu ombro. - Eu deveria ter morrido naquele acidente. Quem fez isso pode tentar concluir seu plano.

- Eu nunca deixaria que isso aconteça. - Steve apertou meu corpo ao seu em um abraço forte.

- Você corre risco perto de mim. Realmente está disposto a arriscar sua vida por alguém como eu?

- Eu não conheço ninguém melhor do que você, meu bem. - Steve abriu um sorriso fraco.

- Eu não estou mais conseguindo segurar minhas lágrimas. - Falei com voz de choro.

- Estou aqui com você.

***

Qualquer pessoa que olhasse para a minha história murmuraria pela catástrofe que minha vida se tornou, mas no meio disso tudo, ele apareceu para me salvar.
Steve e eu tínhamos mais em comum do que quaisquer outras pessoas desse mundo. Viúvos, confusos e problemáticos. Éramos uma dupla perfeita.
Senti-me péssima por fazê-lo reviver suas piores lembranças ao meu lado. Quando o conheci, Steve foi obrigado a lembrar a morte da Carly, mas escolheu passar por todos as fases da superação pós-morte ao meu lado e agora passaria pelo ódio de saber que a pessoa que você mais amou na vida foi morta pelas mãos de um outro alguém. Mas aí é que estava. Quem matou a Carly foi uma ladrãozinho qualquer. Quem matou o Logan, nos conhecia muitos bem e nos odiava.

- Minha filha, é perigoso que você vá falar com esse homem. - Mamãe olhou-me com uma expressão desesperada.

- Haverá vários policiais lá, mãe. - Dei de ombros. - Eu sei que você entende a necessidade disso. Talvez ele seja amolecido por falar com a viúva da pessoa que ele ajudou a matar.

- Amy, esse homem matou o seu marido. Ele não vai se sentir mal só por te ver. Eu sinto muito, minha filha.

- Eu não desistirei, mãe. - Suspirei.

- Talvez seja mais seguro que você volte para a Califórnia.

- Sério? - Arqueei as sobrancelhas.

- Eu detesto a ideia de te ter longe, mas se isso significa que você estará segura, é melhor.

- Mãe, eu não vou sair do país.  Eu vou descobrir quem matou o Logan.

- Filha... - Mamãe pôs sua xícara de chá na mesa e me olhou assustada.

- O que aconteceu? - Indaguei.

- Em que prisão o Dylan está?

- Você... Não. Eu não... Meu Deus. - Levei minhas mãos aos cabelos de forma desesperada. - Eu preciso ter certeza disso.

***

- O Sr. Harris continha preso, Sra. Price. Ele não pode está envolvido nesse crime. Sinto muito.

A medida que senti-me aliviada por saber que aquele desgraçado não havia concretizado o seu plano do passado, senti-me angustiada ao lembrar que ele o teria feito. Ainda assim, existia mais alguém que odiava o meu relacionamento com o Logan, e eu não fazia ideia de quem era. Isso era ainda pior.

***

- Elliott? - Cruzei meus braços ao me deparar com ele de frente para a minha porta.

- Amy, eu gostaria de conversar com você. Sei que você não quer mais falar comigo e nem deseja a minha presença, mas eu preciso que você me ouça.

- Tudo bem. Entre.

- Não pretendo fazer arrodeios. Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que eu te vi, Amy. Eu nunca te tive de verdade e isso me destruiu por completo. Saber que agora você deu uma nova chance para o amor e eu ainda não sou a sua escolha... Você não entende. - Ele abaixou o rosto e suspirou.

- Nós não controlamos os sentimentos, Elliott.

- Você nunca saberá se é possível me amar se você não se esforçar para isso, Amy. Você poderia ter alguém que te ama mais do que a si mesmo. Por que você não me aceita? - Ele segurou minhas mãos e me olhou de forma desesperada.

- E a sua namorada, Elliott? O que ela acha disso? Por que você não aceita o amor dela? Pelo que eu vejo, você não age diferente de mim.

- Amy... Por favor.

- Você está desgastando a nossa amizade, Elliott. Eu sinto muito, mas eu não posso corresponder aos seus sentimentos.

- Você ainda será minha, Amy.

- NÃO! EU NUNCA SEREI SUA. - Gritei e o empurrei contra a parede.

- Amy. - Ele me olhou assustado.

- Eu juro que você nunca encostará em mim. - Cerrei os dentes.

- Amy, o que está acontecendo?

Só então eu despertei do transe em que entrei. Quando o Elliott falou que eu seria dele, lembrei-me da obsessão do Dylan e ao que ela nos levou. Eu não estava disposta a passar por tudo aquilo de novo. Mas o Elliott não era o Dylan e o Steve não era o Logan. Essa não é a mesma história.

- Me desculpe. - Afastei-me dele. - É... Você deve ir embora. Me desculpe.

Elliott me lançou um último olhar e saiu apressado de meu apartamento. Talvez agora ele tenha entendido o recado. Ninguém nunca mais agiria daquela forma comigo.


quinta-feira, 29 de março de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 9

Meus sapatos batiam contra o piso velho daquele local. Volta a meia a recepcionista me lançava um sorrisinho forçado e aqueles 10 minutos que me pediu para esperar, pareciam uma eternidade.
No horário exato, algumas pessoas caminharam até o outro lado da clínica. A recepcionista assentiu com a cabeça como se soubesse que eu indagava se deveria acompanhar aquelas pessoas. Levantei-me e as segui.
Era um espaço grande. As paredes tinham um tom escuro, meio rústico. Tudo ali era exatamente como nos filmes que assisti. Um círculo feito de cadeiras, uma mesinha com biscoito. Por falar nesses biscoitos, nunca entendi o sentido.

- Boa noite, pessoal. - Uma senhora de meia idade sorriu para nós.

- Boa noite, Ronnie. - Falaram em uníssono.

- Alguém gostaria de falar sobre os progressos dessa semana?

Cruzei minhas pernas, respirei fundo e engoli em seco. Se surtar durante o quase momento íntimo com uma pessoa muito importante para você for um progresso... É, progredi.

- Eu só sonhei uma única vez com o Toddy. - Uma mulher ruiva sorriu e abraçou a companheira do lado.

Ao menos isso eu não faço mais.

- Isso é muito bom, Phoebe. John, que tal você falar um pouco?

- Eu não tenho muito para falar. - Ele deu de ombros. - Não sei se esse grupo de apoio me fará superar. - Ele revirou os olhos. - Como falar com vocês poderá me ajudar?

Encarei o John por alguns segundos e senti meu estômago revirar. Talvez ele fosse novo ali e ainda estivesse na fase de negação, assim como eu. Eu não acreditava nessa coisa de falar para se sentir aliviada ou melhor.

- John, nós nunca conseguiremos parar a sua dor. - Ronnie acariciou as suas mãos. - Nós estamos aqui para te ouvir e te confortar nos momentos que essa dor se torne insuportável. Também podemos te aconselhar para que você não venha a piorar tudo o que vem sentindo. Não somos mágicos, só somos seus ajudadores.

- A garota nova poderia se apresentar. - Alguém falou.

- Qual o seu nome, querida?

- Eu me chamo Amy. - Forcei um sorriso.

- Você poderia compartilhar conosco o que te trouxe até aqui?

Droga.

- Só não diga que foi a morte. - Um senhor já velho brincou e todos riram.

A morte parece unir algumas pessoas... Enquanto separa outras. 

- Meu marido morreu há alguns meses atrás em um acidente de carro. Eu estava grávida e acabei perdendo a nossa filha também. - Abaixei o rosto e suspirei. - Eu sei que todo mundo aqui perdeu alguém e sei que minha dor não é maior do que a de vocês, mas isso tem sido difícil de lidar.

- Nós sentimos muito por sua perda, Amy. Verdadeiramente sentimos muito. Esse é o lugar que você pode dizer tudo o que sente, nada nunca sairá daqui.

- Eu não sei o que sinto... No começo eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Esperava a todo momento que o Logan entrasse e me acordasse daquele pesadelo horrível. Isso nunca aconteceu. Com o passar dos meses, pensei que finalmente estava seguindo com a minha vida. Acontece que tudo me faz ficar presa na nossa história.

E o pior era não ter a menor certeza de que um dia seria livre de tudo isso.

***

- Você está tão calada. - Steve mordiscou um croissant.

- Eu fui para uma reunião do grupo de apoio.

- Sério? Como foi lá?

- Não foi diferente de conversar com você. - Dei de ombros. - É como nos filmes. Você entra lá sem espectativas e quando sai, não volta mais.

- Eu conheço várias pessoas que se deram bem por lá. Talvez você deva ir mais vezes.

- Eu não quero. - Revirei os olhos. - Prefiro compartilhar minhas experiências com você. - Sorri.

- Você... Quer falar sobre o que aconteceu naquela noite?

O ignorei.

- Steve, e se você descobrisse que a Carly está viva?

- Uau, você é tão... Aleatória? - Ele gargalhou. - Isso é impossível, Amy.

- É só uma suposição.

- Nesse caso eu estaria perdidamente enrolado. - Ele levou seu capuccino à boca.

- Você deveria ficar com ela sem pensar duas vezes. Tenho certeza que a Carly não era tão complicada quanto eu.

- As vezes a gente precisa de alguém que nos tire do monótono. - Steve piscou para mim.

***

Às 6h da manhã meu alarme soou. Levantei-me ainda sonolenta e segui para o banheiro. Despi-me, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e entrei debaixo da água. Aquelas gotículas frias arrepiavam cada centímetro do meu corpo e me faziam despertar para mais uma manhã de trabalho. Escovei meus dentes, sequei-me e voltei para o meu quarto.
Enquanto minhas mãos percorriam meu corpo espalhando um creme cheiroso, recordei-me das vezes que as mãos do Logan percorriam minha pele enquanto fazia uma massagem em mim pelas vezes que eu dormia numa posição errada. Balancei a cabeça afastando esses pensamentos.
Vesti uma calça jeans escura, uma blusa soltinha e um blazer. Pus um salto, penteei meus cabelos em um novo rabo de cavalo, dessa vez mais arrumado.

- Parece até que você estava adivinhando o que aconteceria hoje. - Vanessa olhou-me de cima a baixo e sorriu.

- Não entendi. - Franzi as sobrancelhas.

- Seu estilo... Você foi promovida, Amy.

- Espera... - Arregalei os olhos. - Vanessa, eu não estou entendendo.

- Amy, você escreverá para a coluna de moda.

- Nossa, isso é...

- ÓTIMO! - Falamos em uníssono.

***

- Agora entendi o motivo da nossa comemoração. - Steve sorriu. - Parabéns, meu amor.

Naquele momento tudo parou para mim. Meu sorriso se desfez, o do Steve também. Ouvi sua boca abrir e seus lábios gesticularem um "desculpe".

- Eu quero ser alguém que você ame... Só não estou pronta para isso.

- Você não está pronta para amar outro alguém, mas eu não posso deixar de sentir o que sinto, Amy. Não tente me afastar de você. Permita que eu te ame até que você também me ame.

- E se isso nunca acontecer, Steve?

- Eu sei que você gosta de mim, não demorará até que eu faça você me amar.

Seus lábios tomaram os meus em um beijo rápido e cheio de desejo. Steve não tentava passar daquilo, mas seus beijos eram profundos o suficiente para me fazerem enlouquecer.

Até a campainha tocar e murmurarmos juntos.

- Sra. Price?

- Sim, sou eu.

- Tenho notícias sobre o caso do seu falecido marido.

- Notícias? Como assim? - Olhei para o Steve.

- Sra. Price, seu marido foi assassinado.

sábado, 10 de março de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 8

Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Torci para que ele imaginasse que se tratava de uma gotícula de suor. Mas, a cada toque seu, uma nova lágrima surgia e meu desespero se tornou evidente. Eu desejava que aquele momento fosse especial, que fosse o nosso momento, e o que eu pensei que tinha certeza que queria, tornou-se no meu maior pesadelo.

- Amy, o que aconteceu? Eu te machuquei? Amy, fala comigo! - Esteve chacoalhou meu corpo enquanto falava desesperado.

- Me desculpe... - Encolhi-me na cama e abracei minhas pernas. - Eu não consigo fazer isso. Me desculpe, Steve. Eu... Eu sinto que estou traindo o Logan.

- Tá... Tá tudo bem.

Senti seus braços fortes me envolverem em um abraço terno. Steve mantinha uma expressão preocupada em sua face. Com a cabeça encostada em seu peito, pude sentir seu coração bater de maneira descompassada.

- Eu poderia ir embora se isso te deixasse mais confortável, mas me preocupo se você ficará bem.

- Você irá me odiar, não é? - Suspirei.

- Talvez nós tenhamos nos precipitado em achar que você superaria isso tão rápido. Deixei que meus sentimentos por você me fizessem esquecer do que vivi, e pode ter certeza que isso também aconteceu comigo.

- Me desculpe.

- Você não precisa se desculpar. - Ele acariciou o meu rosto. - Eu vou me vestir e te deixarei só para pensar.

Enrolei-me com o lençol e observei Steve se vestir. Ele não era um homem muito alto, mas suas demais características físicas eram capazes de atrair qualquer mulher sem que ele precisasse demonstrar toda a sua bondade interior.

- O que você está olhando? - Lançou-me um sorriso.

- Tudo o que eu perdi. - Brinquei e lancei-lhe uma piscadela.

- Você não me perdeu, Amy. A menos que você não me queira. - Ele deu de ombros.

- Seria muito egoísmo querer alguém e ao mesmo tempo tentar ser fiel à memória do seu marido morto? Prender alguém a si e não se entregar para ele?

- Você é fiel à memória do Logan. - Steve sentou ao meu lado. - Você o ama, sempre fala bem dele, é apegada à toda a bondade que um dia ele fez, por que estaria traindo ele? Você só tem medo de seguir em frente e talvez realmente seja cedo para isso. Ninguém supera tão rápido, a menos que tenha desejado isso, não é o seu caso.

- Obrigada por tudo. - Envolvi seu corpo com um abraço forte.

Acompanhei o Steve até a porta. Sem saber como se despedir de mim, depositou um beijo em minha bochecha e seguiu até o elevador com as mãos enfiadas no bolso. Senti-me péssima por desaponta-lo.

Fechei a porta atrás de mim, segui para o meu quarto e enfiei o rosto no travesseiro. Minutos antes de me entregar para o Steve, eu tinha a certeza de que era aquilo que eu queria, na hora H, minha mente fora invadida por lembranças do Logan que me fizeram recuar. Tive medo de dizer o que estava sentindo, o que se passava comigo, mas meus sentimentos, a fraqueza que eu senti naquele momento me livraram de magoar o Steve ainda mais. Ele merecia alguém bem menos complicada.

***

- As flores são para você. - Vanessa apontou para a minha mesa.

- Tulipas... - Senti meu coração acelerar. 

- O que há de errado, você não gosta de tulipas?

- Só duas pessoas sabem o quanto eu amo tulipas, e uma delas já morreu.

- Mas a outra pessoa continua viva e precisa te pedir desculpas. - Virei-me e encarei Elliott.

- Eu não estou com cabeça para conversar com você, Elliott. Além disso, estou no meu ambiente de trabalho e não convém que eu resolva problemas pessoais aqui. - Caminhei em passos firmes até a porta da minha sala.

- Podemos conversar no seu horário de almoço, então.

- Terei que ser mais clara... - Sorri sem graça. - Eu não quero falar com você. Tenha um excelente dia!

***

Uma música calma tocando no rádio, as luzes iluminando as ruas, pessoas agasalhadas andando errantes... Aquele era o cenário que me faria pensar sobre toda a minha vida. Se aquele acidente não tivesse acontecido, eu estaria em casa cuidando da minha pequena garotinha, enquanto o meu lindo marido estaria cozinhando para nós. Eu colocaria a Charlotte no carrinho, abraçaria o Logan por trás e ficaria na ponta dos pés para beijar os seus lábios quando ele inclinasse a cabeça para trás. Eu colocaria a louça na mesa, jantaríamos conversando sobre o futuro da Charlotte, como imaginávamos que tudo seria.

Por outro lado, imaginei como minha vida seria caso eu não tivesse abandonado o Elliott. Oficialmente seríamos namorados, eu teria terminado a faculdade lá, talvez fossemos noivos ou quem sabe casados. Talvez eu tivesse aprendido a amá-lo, quem sabe eu fosse infeliz. Quem sabe o Logan tivesse ido atrás de mim, quem sabe ele tivesse me deixado para trás. Quem sabe ele tivesse sofrido um acidente de qualquer jeito, talvez ele estivesse vivo.

Aí eu pensei no Steve... Talvez nunca tivéssemos nos conhecido caso  todos esses "quem sabe" tivessem acontecido.

Parada em um semáforo, observei o letreiro em um prédio que dizia "Clínica do luto". Senti-me tentada a parar lá, mas imaginei que seria como nos filmes: você vai, senta em um círculo de cadeiras, ouve todos falarem sobre como alguém importante para eles morreu, conta sobre sua história e tudo aquilo vai se repetindo, semana após semana, até que você se dê conta de que você só perdeu o seu tempo.

Estacionei o carro e entrei. Eu não ficaria pior do que estava.

- Boa noite, em que posso ajudá-la?

- Como faço para participar disso?

- Você se refere à uma consulta com a Dra. Turner?

- Consulta? Tipo... Terapia?

- É.

- Eu imaginei um grupo de apoio, como o AA.

- Ah, claro! - Ela sorriu. - Temos reuniões do grupo de apoio para pessoas que precisam vencer o luto, mas também temos terapias com a Dra. Turner, caso você não se sinta bem falando publicamente. A Dra. Turner é especialista em casos de luto.

- Tudo bem... - Suspirei. - Eu não sei o que tentar. O que você sugere?

- Por que não tenta os dois? Daqui há 10 minutos começará a reunião do grupo de apoio. Você pode participar e ver se consegue se adaptar.

- Obrigada.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capitulo 7

Alguns meses se passaram desde que voltei da minha última viajem. A rotina no trabalho estava um pouco mais corrida. Minhas noites se resumiam à leitura de obras que seriam lançadas e uma boa xícara de café. Volta e meia eu olhava para o sofá e lá estava o Freddie assistindo TV. Sempre achei fofinho essa atitude dele. Freddie parecia muito concentrado naquilo que se passava diante de seus olhos, então sempre deixo a TV ligada para ele. Tive alguns pesadelos com o Logan, mas a frequência com que eles acontecem vem diminuindo e isso me tranquiliza um pouco mais, porque não foram poucas as vezes que acordei gritando no meio da madrugada chamando pelo seu nome. Decidi colocar a casa em que moramos à venda, não demorou muito para que os interessados aparecessem e conseguíssemos fechar negócio. Depois disso, nunca mais precisei voltar lá e receber uma surra de lembranças. Aquela casa fazia com que uma onda imensurável de dor invadisse cada extensão do meu corpo. Alí nós deitamos no sofá, comemos pipoca e assistimos diversos filmes nas noites de sábado. Alí nós corremos pelo gramado brincando com o Freddie quando ele ainda era um filhotinho. Alí nós cozinhamos juntos. Alí nós nos jogamos na piscina de madrugada. Alí nossos corpos se uniram um ao outro. Alí nossos beijos foram intensos. Alí nossas conversas foram sinceras. Alí foi o nosso lugar.

Steve e eu corríamos todas as manhãs, as vezes trocávamos conversas em uma cafeteria no fim da tarde, as vezes saímos para ver um filme ou coisa do tipo. Nada nunca mais aconteceu depois do nosso único beijo na cafeteria, também não tocamos mais no assunto. Steve se tornou importante o suficiente para que eu o quisesse sempre perto de mim, mas eu não sabia se um dia seríamos mais que amigos que cuidam um do outro. Ele parecia bem melhor em relação à Carly. Conversamos muitas vezes sobre os nossos falecidos cônjuges, tudo parecia fluir bem e eu estava feliz pelo nosso avanço.

Elliott e eu trocamos algumas poucas conversas nesse tempo. Seu livro fora aclamado pelos críticos ingleses e ele saiu em turnê com a obra. Todos especulavam sobre quem era "Emilly", certamente não era a sua namorada, a Poppy, pois a mesma deu algumas entrevistas alegando que aquela história não pertencia aos dois.

- Eu não acho que seja uma boa ideia. - Torci os lábios. - Não quero ficar conhecida.

- Amy, todos querem conhecer a musa do Elliott. - Vanessa revirou os olhos. - Além disso, é uma ótima chance para a sua carreira alavancar. Tenho certeza que você receberá ótimas propostas de emprego depois que souberem que você é.

- Eu amo esse emprego, não preciso de nenhum outro. - Dei de ombros.

- Eu não aceito um não. - Vanessa me encarou. - Você irá! - Ordenou.

As pessoas estavam perguntando ao Elliott se não existia a possibilidade dele reatar com a "Emilly" para que eles tivessem um segundo livro, um final feliz. Ora, o que aquilo estava se tornando? O público estava esquecendo que aquela história não era um ficção, não se tratava de algo que o Elliott imaginou e escreveu ali, eram as nossas vidas, os nossos sentimentos.

***

- Você deveria lançar a sua versão dos fatos. - Steve sugeriu enquanto levava a xícara de chá à boca.

- Você ficou louco? - Arqueei as sobrancelhas. - Isso viraria uma guerra.

- Talvez eles só precisem saber que a "Emilly" não está mais disponível.

- Mas eu sou viúva. - Sorri sem graça. - É claro que estou só.

- Já te disse que isso é algo temporário, meu bem. - Steve apertou o meu queixo e o puxou para mais perto de si. - Você só estará só até o dia que decidir que não quer mais isso.

Ele sorriu e aproximou seus lábios dos meus.

- A Carly sempre será uma linda lembrança dentro de mim, mas há um espaço aqui para que você entre. - Ele apontou para o seu coração. - Eu só preciso saber se também tenho como fazer parte da sua vida.

- Amy? - Elliott lançou-me um olhar desapontado.

- Elli... Você... Você quer sentar conosco? - Forcei um sorriso para ele e me afastei do Steve.

- Para alguém que estava sofrendo pelo marido morto, você parece muito bem.

- Olha a maneira que você fala com ela. - Steve se levantou e caminhou até ele.

- Tá tudo bem, Steve. - Toquei seu peito. - Elliott, nós podemos conversar uma outra hora. - Suspirei.

- Claro, você pode ficar aí com o seu novo namorado. - Ele sorriu irritado. - Quando é que eu terei uma chance com você, Amy? O que é que todos esses caras tem que eu não tenho? Eu sou louco por você... Ah, talvez esse seja o problema. - Ele balançou a cabeça em negação. - Você merece alguém que te descarte na primeira oportunidade, assim como você faz comigo.

- É melhor você ir embora antes que eu parta a sua cara. - Steve grunhiu.

Elliott lançou-nos um sorriso debochado, deu dois soquinhos no peito do Steve e saiu. Senti um par de braços me apertar com força e depositar um beijo em minha testa. Ele sussurrou em meu ouvido: "cuidarei de você".

Steve me levou ao seu carro e dirigiu até a sua casa. Aquela era a primeira vez que ele estava me levando lá. Não sentia medo de estar com ele, Steve era sempre tão cuidadoso comigo.

- Agora você vai ficar deitada aqui enquanto eu preparo o nosso jantar. - Ele apontou para a sua cama e sorriu.

- Eu estou bem. - Sorri para ele. - Não preciso ficar deitada.

- A minha cama é muito fofa, você vai querer ficar aí. - Ele deu de ombros e se jogou na cama, me puxando junto.

- Tenho muita sorte porque você estava de plantão naquele dia. Obrigada por ter me salvado e por cuidar tão bem de mim.

Eu estava deitada por cima dele enquanto contemplava seus lindos olhos azuis e acariciava os seus cabelos macios.

- Então me deixe sempre cuidar de você...

Seus lábios se uniram aos meus em um beijo carinhoso. Steve apertava minha cintura e minhas coxas a medida que o nosso beijo se intensificava. Minhas mãos desceram até a barra da sua camisa, que logo fora parar no chão do quarto, junto com outras peças de roupas nossas.

- Amy, não quero que você se arrependa disso. - Ele acariciou o meu rosto. - Não quero que você se sinta mal pelo Logan. - Eu assenti.

- Por favor, não vá trocar o meu nome pelo da Carly. - Gargalhei baixinho e ele logo fez o mesmo.

- Prometo que não farei isso. - Ele depositou um selinho em meus lábios.

- Eu sei o que eu quero, Steve.

Quando você ama alguém de verdade, isso nunca passará, isso nunca mudará, mas eu precisava ser amada e construir uma nova vida. O Logan me disse que eu deveria encontrar um novo alguém, alguém que me amasse como ele me amou. Alguém que me fizesse sentir como se eu fosse algo precioso o suficiente para ser cuidado com todo zelo. Ele não desejava que eu o colocasse em um pedestal e fosse fiel à sua imagem, mas que eu fosse fiel aos nossos sentimentos, e quanto a isso, eu jamais seria capaz de corromper.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 6 parte 2

- Então... - Steve falou baixinho quebrando o silêncio. - Estamos calados há exatos 27 minutos.

- Não sei o que falar. Tenho medo de surtar. - Suspirei.

- Você não precisa surtar. - Ele apertou minhas mãos. - Se você não quiser, isso nunca mais acontecerá. - Ele forçou um sorriso.

- Obrigada.

- Mas eu espero que você queira, porque eu quero.

Steve abriu um sorriso largo e gargalhou baixinho, sendo seguido por mim. Eu estava feliz por sua amizade, por sua compreensão e por seus conselhos. Steve sabia ir com calma e sabia exatamente como me conquistar, mas eu não tinha a certeza de que estava disponível para um novo alguém.

- Você gosta de livros? - Indaguei enquanto saíamos da cafeteira.

- Eu costumo ler livros voltados para a área da saúde, na maioria das vezes não são instigantes, mas são essenciais para mim. - Ele deu de ombros.

- E se eu te apresentar alguns autores que sejam de fato instigantes? - Arqueei as sobrancelhas.

- Mostre-me. - Ele piscou.

O sol estava se pondo. Algumas pessoas caminhavam pelas calçadas, algumas lojas começavam a fechar, enquanto outras estavam mais movimentadas nesse horário. O vento frio batia em meu rosto fazendo com que meus fios, bem mais curtos do que eu sempre estive acostumada, voassem como em um clipe musical. Pus as mãos no bolso do sobretudo e continuei caminhando ao lado do Steve, que falava com alguém ao telefone.

- Chegamos. - Finalmente falei quando paramos em frente a porta do meu apartamento. - Só quero deixar claro que não estou tentando te seduzir. - Falei preocupada.

- Você é sempre tão insegura? - Steve me encurralou contra a parede, colocando um braço em cada lado do meu corpo.

- Não. - Engoli em seco.

- E o que te faz sempre querer esclarecer as coisas? Você não deixa lugar para a subjetividade. - Ele deu de ombros e afastou-se de mim.

- Você gosta de mim, Steve?

- Uau! - Ele arqueou as sobrancelhas. - Vejo em você uma grande habilidade em mudar de assunto.

- Responda! - Ordenei.

- Sim, eu gosto de você.

- E o que você quer comigo?

- Como assim o que eu quero com você?

- Se você gosta de mim, quer algo com isso. - Dei de ombros.

- Ter algo com você nunca foi a minha intenção. - Ele acariciou o meu rosto com o seu polegar. - Eu não me apaixonei a primeira vista pela mulher que precisei tirar de dentro daquele carro. Quando eu te encontrei, só pensei em te salvar para o seu marido. Fazer por ele aquilo que eu não pude fazer por mim mesmo.

- Obrigada por isso. - Senti meus olhos encherem de lágrimas e logo uni meu corpo ao seu em um abraço apertado.

- Quando fui te visitar no hospital, só queria saber se você estava bem. Ouvi pelos corredores a sua triste história e vi que você precisaria de alguém que te entendesse.

- Então você resolveu ser esse alguém. Por que não me mandou para um grupo de apoio?

- Porque eu também preciso de você, Amy. Eu segui com a minha vida porque todos seguem, mas eu não me sinto curado. Com você eu tive a oportunidade de falar tudo o que eu sempre quis. Ninguém nunca me ouviu sem sentir pena. Ninguém sabe como agir quando você desabafa sobre isso. Eu precisava falar aquilo que eu senti durante todos esses anos. Você não sabe o quanto é difícil se envolver com outras pessoas e só pensar em alguém que já morreu, alguém que você nunca mais verá ou tocará.

- Eu estou aqui com você. - Depositei um beijo em seu braço.

- Eu gosto dessa sua insegurança, de quando você fala desparadamente, das suas perguntas loucas...

- Você ainda não respondeu o que quer comigo.

- Eu não sei o que somos ou o que seremos, mas eu sei que esperarei para descobrir. Você não se entregará para mim agora, o Logan ainda tem todo o espaço aqui dentro. - Ele apontou para o meu coração. - Não posso competir com ele. - Ele sorriu.

- Também não posso ser a cura para a Carly. - Sorri sem graça.

- Não somos curativos. - Ele balançou a cabeça. - Se assim fizermos, tudo acabará mal.

- Amigos? - Estendi a mão.

- Por enquanto.

Steve piscou e puxou-me para um abraço carinhoso.

- Eu vou me curar e vou esperar que você se cure. Amy, só não demora tanto quanto eu, por favor. Já estou um pouco velho.

Gargalhamos juntos e finalmente entramos em meu apartamento. Steve se jogou no sofá e recebeu a atenção do Fredie, que pareceu amar uma companhia masculina.

- Vem! - Gritei do meu escritório. - Aqui! - Acenei para ele. - Essa é a minha mini biblioteca. - Apontei para o interior do cômodo.

- Mini?

3 das 4 paredes do meu escritório eram preenchidas por prateleiras com livros. Literatura inglesa fora a minha paixão desde a minha adolescência. Ali estavam livros bem velhos, livros que li milhares de vezes durante esses anos, livros novos, livros que eu nunca tive tempo de ler.

- Quero que você leia esses. - Entreguei-lhe alguns livros. - São os meus preferidos.

- Tudo bem.

- Acho que depois disso você me achará muito chata.

- Talvez. - Ele riu. - Faremos uma troca, então. Amanhã te trago alguns livros. - Ele me olhou maldoso.

- Steve, meus gostos literários são peculiares, não ache que eu detestarei. - Pisquei para ele e apontei para uma prateleira cheia de revistas de saúde. - Além disso, fui casada com um médico, adquiri o gosto pela coisa.

Caminhei até o outro lado do escritório e abri um baú cheio de enciclopédias de medicina.

- Havia esquecido desse detalhe.

***

- Você lava e eu seco. - Steve sugeriu.

- Tudo bem. - Concordei.

Ao som de Sugar do Maroon 5, eu lavei a louça que sujamos para fazer o jantar e ele secou. Volta e meia Steve começava a sensualizar com suas dancinhas, me arrancando gargalhadas altas.



- O síndico logo logo baterá na minha porta. - Curvei-me sobre o balcão com o abdômen doendo de tanto rir.

- Não sei o que te faz rir tanto. Eu danço divinamente. - Ele sorriu e me abraçou por trás. - Obrigada pela noite maravilhosa. Você arrancou de mim os mais sinceros sorrisos em anos.

- Somos uma boa dupla, Steve Hall. - Trocamos soquinhos.

- Agora você me acompanha até a porta e me deseja bons sonhos.

- Você enlouqueceu? Já passa da meia noite, não posso te deixar andar por aí sozinho, você deixou seu carro em casa, lembra?

- Amy, eu moro no fim da rua.

- Não, Steve. - Cruzei os braços. - Eu não serei imprudente ao ponto de te deixar sair daqui e correr perigo.

- Se te deixar mais tranquila, te ligo quando entrar no prédio.

- Eu estou falando grego? - Arqueei as sobrancelhas. - Pode deitar aí. - O empurrei para o sofá. - É um sofá-cama, você ficará bem acomodado. Vou te trazer lençóis e travesseiros.

- Amy, eu preciso ir, trabalho amanhã bem cedo.

- Você sai mais cedo, só não te deixarei andar por essas ruas de madrugada.

- Obrigada por toda essa preocupação, mas é desnecessária.

- Fica caladinho aí, Hall. - Revirei os olhos e sorri.

O que você fez comigo - Capítulo 6

- U-A-U! - Vanessa arqueou as sobrancelhas e sorriu abobalhada. - O que foi que eu perdi?

- Van, você separou os papéis que te pedi? Meu voo sai em duas horas, preciso ir. - Ignorei seus comentários por nota a presença do Elliott. - Bom dia, Elliott! - Forcei um sorriso.

- Podemos conversar? - Ele levantou e caminhou até mim.

- Eu juro que não posso agora. - Torci lábio e comemorei internamente. Eu só queria evitá-lo. Elliott me trazia as lembranças do meu passado, do quanto eu o magoei e do quanto eu não o merecia.

- Eu e a Vanessa já terminamos aqui, então eu posso te levar ao aeroporto e conversamos no caminho. - Droga!

- Tudo bem. - Forcei um sorriso.

O que eu iria falar? Como eu iria agir? Mas que droga, Elli!

O Elliott colocou minha mala no banco de trás e abriu a porta do carona para mim. Lancei-lhe um sorriso em agradecimento. Caminhou até o outro lado, acomodou-se no banco, ligou o som de carro, colocou o cinto e deu partida.
Tentei ignorar uma voz interior que gritava desesperada dentro de mim. Era o Elliott, o cara que se apaixonou por mim desde o primeiro dia que me viu, o mesmo cara que eu magoei, mesmo que sem intenção. Como eu deveria reagir? Será que eu deveria começar me desculpando? Tá, mas eu não estava arrependida de tê-lo deixado, voltar para Londres me trouxe o Logan de volta.

- Tudo bem com você? - Ele me olhou rapidamente, voltando seu olhar para a avenida. - Parece tensa.

- Não estou me sentindo a vontade com você. - Desabafei. - A medida que me sinto uma péssima pessoa por ter te feito sofrer, também não me arrependo.

- Se eu tivesse que escolher entre ficar com alguém que me ama, mas que eu não amo e voltar para a minha casa, tendo a oportunidade de ficar com o amor da minha vida, eu teria feito o mesmo que você. - Ele sorriu sem graça. - Você nunca mentiu para mim, nunca me iludiu, nunca me enganou. Eu me apaixonei por você porque é algo incontrolável, mas escolher ficar com você, isso foi uma escolha minha, eu sabia dos riscos. Eu corri os risco e me ferrei depois. - Deu de ombros sorrindo. - Doeu e ainda dói, mas faz parte.

- Ok. - Falei baixinho. O que eu deveria falar?

- Eu só queria te dizer que não precisamos agir de forma estranha. Não precisa haver ressentimentos entre nós dois. Tudo bem?

- Claro. - Forcei um sorriso.

- Não tá tudo bem, pelo visto. - Ele riu.

- Elliott, o que você fez depois que eu parti?

- Continuei sendo professor, mas juro que você foi a única aluna que me fez quebrar regras. - Sorri com ele. - Tive algumas namoradas, o que não deu muito certo, porque eu troquei os nomes delas pelo seu. - Ele piscou.

- Me desculpe por causar esse transtorno. - Dei de ombros.

- Eu tenho uma namorada atualmente.

Engasguei.

- Tudo bem, Amy? - Ele parou o carro no acostamento.

- Elliott, você quase me beijou e me diz que tem uma namorada?

- Tudo bem, nada aconteceu. - Ele suspirou. - Infelizmente.

- Eu nem deveria ter vindo com você. - Revirei os olhos. - Não quero que você a magoe por minha causa.

- Se você me desse uma chance de verdade, eu terminaria com a Poppy e ficaria tudo bem.

- As coisas não funcionam assim. Você acha que é só terminar e a outra pessoa vai seguir em frente numa boa?

- Foi exatamente isso que você fez, Amy. Eu segui em frente, porque eu sabia que ele te faria completamente feliz. Amar é isso, deixar o outro ir mesmo que isso te faça sofrer.

- Acontece que eu não sei se conseguirei te fazer feliz. Eu não sei se conseguirei seguir com a minha vida depois da morte do Logan.

- Você nunca saberá se não tentar.

Eu estava realmente preocupada com o que estava acontecendo. Fazia pouco tempo que o Logan deixara esse mundo e já havia alguém esperando que eu decidisse esquece-lo e me envolver novamente. Quê?

***

Minha viagem durou 2 meses. 2 meses bem longe de Londres. 2 meses para esquecer a proposta do Elliott. 2 meses para me afastar da cidade que me lembrava o Logan. 2 meses para esquecer as pessoas que o lembravam também.
Eu estava representando a editora em que eu trabalhava, em diversas feiras de livros por todo o EUA. Tive tempo de conhecer escritores renomados e alguns iniciantes. Um bom período para deleitar-me em novas leituras, esfriar minha cabeça, colocar as ideias no lugar.

- MAMÃE! - Uma menininha gritou.

- Charlotte, fale baixo, você está incomodando a moça.

Não podia ser... Logo Charlotte? Às vezes eu achava que Deus estava me pregando uma peça.

- Tudo bem. - Sorri emocionada. - Você é muito linda, Charlotte. - Acariciei os seus cabelos.

- Obrigada. - Ela falou com voz de criança e sorriu espontânea.

Encostei minha cabeça na janelinha do avião e permiti que algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu tentava esquecer que gerei um bebê por alguns meses e que o perdi. Tentava não sentir aquela dor porque eu não tinha ninguém que pudesse me abraçar apertado e dizer que enfrentaríamos aquilo juntos. Doía tanto dentro de mim, mas eu tentava sufocar aquele sentimento com todas as minhas forças.

***

- Posso sentar com você? - Sorri para ele enquanto segurava uma pequena bandeja com uma xícara de chocolate quente e um muffin.

- AMY? - Ele arregalou os olhos. - Claro que pode! - Steve tomou a bandeja de minhas mãos, colocou-a sobre a mesa e me abraçou contra o seu peito. - Pensei que você tivesse se mudado ou coisa do tipo. O que Aconteceu com você?

- Calma! - Sorri e me sentei. - Viajei a trabalho.

- Seu cabelo... Ficou muito bom. - Ele piscou para mim.

- Obrigada. - Sorri sem graça. - E você, o que fez durante esse tempo? Ah, eu já sei... - Fingi pensar. - Salvou vidas! - Sorri brincalhona.

- Você voltou bem melhorar, Amy. - Steve acariciou o meu rosto com uma de suas mãos. - Com o tempo tudo voltará ao seu devido lugar.

- É...

Steve me olhava concentrado. Sua mão em meu rosto me causavam arrepios e meu coração batia em um ritmo descompassado.

- Eu quero muito beijar você, mas tenho medo de que você me atire essa xícara de chocolate. - Ele sorriu.

- Eu não sei o que farei. Você pode arriscar, se realmente quiser.

- Eu quero.

Steve abriu um sorriso mais largo, inclinou-se sobre a mesa e invadiu-me com seus lábios macios. Sua barba arranhava meu rosto me fazendo sorrir.

- O que devo falar agora? - Ele indagou.

- Você deveria ficar calado, só às vezes. - Dei de ombros e sorri.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 5 parte 2


- Eu te beijaria. - Ele acariciou o meu lábio inferior com o seu polegar. - Mas você me odiaria por isso. - Ele sorriu sem graça e balançou a cabeça em negação.

- Sim, eu te odiaria. - Confirmei.

- Volte a contar sua história.

- Acho que você acabou com o clima. - Ri baixinho.

- Por favor, quero saber mais sobre sua vida.

- Tudo bem. - Respirei profundamente. - O Logan tinha uma noiva e estava no alta esperando-a quando eu finalmente sai do coma.

- Não vai me dizer que você atrapalhou o casamento do cara? - Ele riu.

- Exatamente! - Comemorei. - Descobrimos que eu havia perdido a memória... Eu sequer sabia quem eu era. Lembra que eu te falei sobre meu namorado ter me traído? Eu só descobri isso muito tempo depois, não conseguia lembrar o que me fez sair de casa tão transtornada. - Fiz uma pausa de alguns segundos e retomei. - Depois começamos a namorar. A ex noiva dele, na tentativa de nos separar, o dopou e me mandou fotos deles na cama. Ela conseguiu nos separar por alguns dias, mas não foi inteligente o suficiente para manter a boca fechada. - Revirei os olhos. - Voltamos. Algum tempo depois ela engravidou, e adivinha só... O pai supostamente era o Logan. Meus pais eram separados e eu senti a dor de não ter um pai presente, não desejava isso para o filho dele, então eu terminei com o Logan e fui morar na Califórnia, lá eu conheci o Elliott, meu professor da faculdade.

- O que você cursou?

- Literatura Inglesa. - Sorri. - Ele foi incrível comigo, mas ele não era o Logan. - Suspirei. - Meses depois eu decidi voltar, e quando cheguei na casa da minha mãe, recebi a notícia de que a Maisie, ex do Logan, acabou morrendo em uma terrível queda de uma escada.

- Caramba!

- Eu corri para o cemitério, precisava consolá-lo. Quando eu cheguei lá, o Logan me disse que o filho na verdade era do Dylan, o meu ex namorado.

- Espera aí... O que aconteceu com essa história? Que loucura!

- O Dylan e a Maisie se uniram para nos separar e acabaram se envolvendo. A gravidez veio bem a calhar.

- Depois disso, finalmente vocês ficaram juntos?

- Sim, mas ainda tivemos um probleminha.

- Amy, não é possível alguém ter passado por tudo isso em uma só vida. - Ele riu. - Vou te mandar para a guerra, tenho certeza que você volta viva.

- Quem sabe? - Brinquei. - O Dylan sequestrou o Logan e tentou matá-lo, mas o Logan conseguiu fugir. Depois disso, o Dylan foi preso e finalmente ficamos em paz. Até aquele acidente o levar. - Respirei profundamente e senti meus olhos encherem de lágrimas.

- Ei, não chora. - Steve me acolheu em seu peito e acariciou os meus cabelos. - Tudo ficará bem.

Senti-me confortável abraçada a ele, mas ao lembrar de suas palavras sobre me beijar, meu coração começou a bater descompassadamente. E se ele procurasse a Carly em mim? E se eu procurasse o Logan nele? Nós nos feriríamos tanto...

- O que se passa nessa cabecinha? - Ele indagou ainda abraçado a mim.

- Estava lembrando do dia em que o Logan me pediu em casamento. - Sorri.

- Conte-me. - Ele fitou meus olhos.

Já estava nevando há alguns dias. O Logan apareceu na minha casa me chamando para um passeio de helicóptero. Eu era um pouco medrosa, mas também amava aventuras. O melhor momento foi quando lá do alto eu vi escrito em um rio congelado "Marry me". Não conti as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, aquela foi de longe a melhor surpresa que alguém poderia ter feito para mim, e fora o pedido mais esperado por mim.



- O que você me diz? - Logan indagou sorrindo.

- Nós já somos casados aqui. - Apontei para o meu peito. - Eu só quero oficializar e mostrar para o mundo inteiro que somos um só.

- Eu te amo, Amy.

- Eu te amo, Log. Te amo com tudo que há em mim.

***

- Entregue. - Steve parou o seu carro ao lado do meu na frente do prédio em que eu morava. - Tenha uma boa noite, Amy.

- Eu já tive. - Pisquei para ele e entrei com o carro na garagem.

Ao entrar em casa, olhei-me no espelho e uma frase ecoou em minha mente, fazendo-me sentir náuseas: "Se eu morrer antes de você, quero que você continue vivendo. Seja feliz e encontre alguém que te ame assim como eu te amo.". Logan e eu conversávamos sobre o que faríamos caso o outro morresse, e ele me deixou claro o seu desejo de que eu seguisse em frente, entretanto, ele provavelmente não sabia o quanto aquilo doeria em mim, não era tão simples assim. O maior problema de casais que tem essas conversas hipotéticas é que na verdade eles não acreditam que aquilo realmente possa acontecer.

O que fazer quando você é acostumada com um beijo, com um toque, com uma vida, e precisa se adaptar a outra história?

Abri a gaveta da penteadeira e tirei uma tesoura de lá. Despi-me ficando só de lingerie, molhei meus cabelos e comecei a passar a tesoura pelo mesmo. Eu eternizaria o Logan em mim, mas não podia viver a nossa história sozinha e também não permitiria que tamanha tristeza fizesse parte de algo tão forte e bonito quanto o que nós construímos.

- Você precisa deixá-lo ir, Amy. - Falei para mim mesma. - Você precisa soltar a mão do Logan, porque ele não pode mais ficar com você.

Olhei-me no espelho já com os fios mais curtos e sorri em meio às lágrimas. Cortar os cabelos significava que eu estaria deixando a velha Amy para trás. Significava que eu amaria o Logan por toda a vida, porque assim eu jurei no dia do nosso casamento, mas esse amor não me mataria, não me machucaria. Esse amor seria algo bom e viveria sempre dentro de mim, mas me traria liberdade, não me colocaria em um terrível prisão.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 5 parte 1

- NÃO! - Gritei assustada e sentei na cama.

O meu sonho parecia tão real que me fez sentir na carne todas as dores que eu sentia nele. Eu estava suada, assustada e chorando. Abracei minhas pernas e encolhi-me na cama.
Eu sonhei diferentes formas para a morte de Logan: latrocínio, assassinato, acidente de avião, carro e moto... Eu estava em todos. Por um momento me perguntei se eu deveria ter morrido em seu lugar e até desejei isso, mas era tão egoísta de minha parte. Se eu tivesse morrido em seu lugar, ele estaria sentindo toda a dor que eu sinto, eu não o queria dessa forma.
Caminhei até o closet, retirei uma de suas camisas de uma caixa e voltei para a cama. Seu cheiro único estava impreguinado nela. Eu desejava percorrer meus beijos pela sua bochecha enquanto minhas mãos brincavam com os seus cabelos. Uniria meus lábios aos seus em um beijo que se iniciaria calmo e depois se tornaria apressado. Desceria pelo seu pescoço sempre tão cheiroso, minhas mãos percorreriam seu abdômen e ele me jogaria em qualquer lugar tomando controle de toda a situação. Seu corpo seria prensado contra o meu e eu sentiria cada extensão do seu corpo. Aquele corpo que eu sempre amaria e sentiria falta.

- Eu não quero ficar só, Log. - Choraminguei. - Eu te esperei todos os dias chegar do trabalho só para te abraçar e saber que eu nunca estaria só, que ao fim de um plantão você voltaria para mim. Por que você me deixou?

O Fredie pulou na cama e encostou sua cabeça em minha perna, me olhando com seus grandes olhos brilhantes. Ele era o ser mais compreensível do mundo. Entendia a necessidade que eu sentia de ter alguém ao meu lado, e ele era a minha mais forte lembrança do Logan.

- Isso quer dizer que eu não estou só? - Sorri em meio às lágrimas e acariciei seus pelos. - Você é um ótimo cãozinho, Fredie.

***

- Sra. Price, um Sr. chamado Steve Hall deseja falar com a senhora. - O Sr. Jones, o porteiro, interfonou para o meu apartamento.

- O Steve? - Questionei alto. - Hum... Tudo bem. É... Eu vou descer.

O Steve? O que ele estava fazendo ali?

Troquei de roupa rápido e desci até o hall de entrada.

- Olá, Amy. - Ele estendeu a mão e me cumprimentou.

- Oi, Steve. - Forcei um sorriso. - O que faz aqui?

- É que eu não te vi correndo hoje, só quis saber se estava tudo bem.  - Ele deu de ombros e pôs as mãos no bolso da bermuda.

- É que eu tive um dia bem corrido no trabalho e não estava muito disposta para correr. - Expliquei. - Além disso, você disse que eu não deveria correr sozinha. - Pisquei.

- Posso correr com você, se você quiser, é claro. - Senti receio em sua fala.

- Steve, você não pretende nada com essa aproximação, não é? - Arqueei as sobrancelhas. - Você me tirou daquele carro, salvou a minha vida, mas também viu o meu marido e o estado que eu o vi pela última vez. Eu o amava, aliás, eu o amo e sei que jamais deixarei de amar. Eu não superei sua morte e também não sei se vou, nem sei se quero... - Ele me interrompeu colocando um dedo em meus lábios.

- Eu já te contei como perdi minha esposa? - Neguei com a cabeça. - Vamos, te pago um café e conversamos. - Ele estendeu a mão para mim. - Eu não vou te beijar ou te agarrar, Amy. Eu não sou esse tipo de cara.

Segurei sua mão e ele acariciou-a com delicadeza. Nossas mãos não estavam entrelaçadas como as de uma casal, na verdade ele parecia um irmão mais  velho que estava a cuidar da sua irmã caçula. Caminhamos alguns metros até chegarmos a uma aconchegante cafeteria.

- Eu só quero que você confie em mim e pare de achar que estou querendo te levar para a cama. - Ele revirou os olhos. - Você é uma das mulheres mais lindas que eu já conheci, entretanto, jamais me aproveitaria do seu momento de fragilidade para fazer isso.

- Me desculpe. - Torci os lábios. - Eu só não querer te magoar e me magoar.

- Eu entendo. - Ele sorriu fraco. - Posso fazer nossos pedidos? - Assenti.

Steve levantou-se e foi até o balcão, onde fez os nossos pedidos e alguns minutos depois voltou com uma bandeja.

- Ela era incrível. Eu amava até os seus defeitos, eles a tornavam tão única. Ela me fez o homem que eu sempre desejei ser. A amei mais que a mim mesmo.

- O que aconteceu com ela? - Indaguei.

- Ela morreu em um assalto. - Ele suspirou. - Nós estávamos voltando para casa a pé. A Carly sempre gostou de andar a pé pelas ruas da cidade. Em um dos nossos passeios, fomos assaltados. Não reagimos, não fizemos absolutamente nada, só entregamos tudo que tínhamos. Quando eles já estavam indo embora, um deles simplesmente disparou contra ela e foi embora.

- Eu sinto muito, Steve. - Curvei meu corpo sobre a mesa e o abracei forte. 

- Eu também a vi morrer na minha frente. O corpo da Carly tombou sobre o meu. Eu a segurei, fiquei coberto pelo seu sangue e a vi suspirar pela última vez. Eu não sabia o que fazer. A Carly morreu porque eu não soube o que fazer. Eu poderia ter salvado a minha esposa se eu soubesse como agir, por isso me tornei paramédico.

- Não foi culpa sua. - Abaixei o rosto.

- Não, não foi, mas eu poderia ter evitado a sua morte.

- Quantos anos ela tinha?

- Vinte e cinco. Já se passaram seis anos desde que tudo aconteceu.

- Como você suportou tudo isso?

- Eu Indaguei por qual motivo ele atirou nela e não em mim, ou quem sabe nos dois. - Ele sorriu sem graça e eu fiz o mesmo.

- Eu também me questiono sobre isso. - Dei de ombros.

- Eu só vivi um dia após o outro. - Ele me encarou. - Pensei que me jogar de um prédio ou deitar na linha do trem, mas eu sabia que a minha vida não poderia acabar assim.

- Você casou novamente?

- Eu tive alguns relacionamentos, mas existe um grande problema em ter encontrado o amor da sua vida...

- Você buscará em outras pessoas alguém como ele e nunca achará. - Completei.

- Exatamente. - Ele sorriu.

- Eles foram únicos.

- Foram sim.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Não era um silêncio constrangedor, ambos estávamos pensando em nossas vidas antes das nossas tragédias pessoais.
Caminhamos de volta para o meu prédio ainda em silêncio. A noite estava um pouco fria e as ruas estavam calmas. Os pubs estavam cheios e as luzes dos prédios brilhavam.

- Steve, muito obrigada por suas palavras e companhia. - Sorri sincera e o abracei forte. - Conversar com alguém que compartilha da mesma dor faz com que eu me sinta compreendida.

- Amy, você é compreendida, mas não compartilhamos da mesma dor. Eu entendo tudo isso porque um dia eu vivi isso, mas precisei deixá-la ir... - Ele sorriu sem graça. - Só então a dor foi embora e me restou uma enorme saudade. Um dia você também precisará deixá-lo ir, libertá-lo e se libertar. - Ele acariciou o meu rosto, aproximou-se de mim e depositou um beijo no topo da minha cabeça. - Se cuida.

E então ele se foi.

Steve surgiu em minha vida de uma hora para a outra e se tornou alguém importante, capaz de me fazer sentir confortável em falar sobre o Logan, sobre a minha dor e sofrimento. Eu me sentia péssima em expressar o quanto eu estava devastada, acreditava que as pessoas não aguentavam mais me ver daquela forma, parecia uma encenação melancólica, mas ele era diferente. Steve um dia amou alguém mais que a si mesmo, e a viu ir embora diante dos seus olhos, incapaz de fazer alguma coisa para impedir, assim como eu.

***

- Eu ainda não acredito que você deixou esse cara escapar. - Vanessa jogou um livro em minha mesa. - Um livro sobre você... Incrível. - Ela gargalhou.

- Ele te disse?

- Amy, qualquer pessoa que saiba um pouco sobre a sua história e ler esse livro conseguirá associar. - Ela deu de ombros. - Ele guardou esse amor por esses anos.

- Talvez ele só queira vender uma boa história. - Desconversei.

- Amy Price, não se faça de inocente. - Ela cerrou os olhos e cruzou os braços. - Você marcou a vida desse homem.

- Vanessa, já chega! - Bufei. - Deixe-me trabalhar.

Algum tempo já havia passado desde que o Elliott me dispensou da publicação do seu livro. O vi algumas vezes na editora mas trocamos poucas palavras, diferente da quantidade de olhares ressentidos, que falavam bem mais do que nossas línguas. Nossos olhares conversavam entre si e desabafavam sobre as complicações da vida.

A capa do livro possuía cores escuras e um rosto com expressões tristes. A obra fora denominada "Emily", e eu entendia o motivo. Quando eu estava em San Diego, Elliott brincava que o meu nome era curto, parecia um apelido. Ele alegava que o meu nome deveria ser Emily, e o meu apelido "Emmy".

Eu sabia que aquele livro significava algo importante para ele... Eu fui importante para ele.

***

Pus um tubinho preto, com um decote em V. Passei o batom em um tom mais escuro de vermelho e calcei meu scarpin mais alto. Soltei meus cabelos lisos pelo meu ombro, tomei a bolsa em minhas mãos e desci para a garagem do prédio. Dirigi com cuidado até o shopping em que o evento estava acontecendo e enfrentei a fila como todo mundo.

- Amy? - Ele colocou seus olhos sobre mim. - O que você faz aqui?

- Quero uma dedicatória no meu exemplar. - Sorri e o entreguei o livro.

- Você é esse livro.

- Shi! - Coloquei o meu indicador em sua boca. - Ninguém sabe disso, baby. - Pisquei.

- Não faça isso, Amy... - O vi cerrar os punhos. - Venha cá. - Ele me puxou pela mão e me levou até um local mais reservado. - Você tem noção do quanto é atraente? Eu desejo tanto você e...

- Elli... - O afastei. - Me desculpe.

Caminhei com pressa até a saída do shopping. A quem eu queria enganar? Eu não estava pronta para me aproximar de alguém que traz consigo uma enorme bagagem de lembranças do passado.

- Ei! - Senti-me ser segurada por braços fortes que me puxaram para junto do seu corpo. - Calma. - Ele segurou meu rosto entre suas mãos.

- Minha vida é uma loucura, sabia? Meu marido morre e logo depois o meu ex professor-namorado volta com um livro sobre mim e eu sempre te encontro, acho que você é meu anjo da guarda.

- Você namorou um professor? - Seus olhos se arregalaram e logo depois um sorriso se abriu.

- Não foi oficialmente um namoro, mas nós ficamos continuamente durante alguns meses. - Dei de ombros. - Veio passear?

- Sim. - Ele assentiu. - Mas acho que você precisa de mim. - Ele piscou. - Vem, eu conheço um lugar legal.

Subimos de elevador até a cobertura do shopping, protegida por um segurança, o mesmo era amigo do Steve e nos deixou passar.

- Não façam loucuras! - Ele advertiu e sorriu.

- Eu não vou me suicidar. - Assenti.

- Eu não me referia a isso. - Ele gargalhou. - Já encontramos alguns casais transando aqui. Não sei como, mas eles conseguiram driblar a segurança.

- Não... Nós não... Nossa. - Sorri sem graça. - Nós só somos amigos. - Puxei o Steve pelo braço e rapidamente deixamos o segurança para trás. - Quer vergonha! - Pus as mãos no rosto.

- Relaxe. - Ele sorriu. - Vem, vamos sentar alí.

Sentamos em um banco e observamos as luzes da cidade. Eu sempre fui encantada por contemplar as luzes da cidade, eu amava viver na minha velha Londres.

- Meu casaco. - Ele estendeu para mim. - Aqui venta bastante. - Ele deu de ombros. - Eu te ajudo a vestir.

Steve passou o seu casaco por meus braços e fitou meus olhos por alguns segundos.

- Você pode colocar suas pernas sobre as minhas, se quiser. A Carly sempre reclamava dos sapatos de saltos que faziam os seus pés doerem.

- Ela tinha razão. - Sorri.

Retirei os sapatos e acomodei minhas pernas sobre as do Steve. Ele me transmitia uma paz intensa e um desejo de ficar para sempre ao seu lado, pois ele era capaz de me livrar de todo o medo e de toda insegurança. Eu via no Steve um modelo a ser seguido. Ele conseguiu seguir em frente e eu gostaria de ser como ele. O Logan me amava demais e jamais aceitaria que eu vivesse daquela forma.

- Qual a sua melhor história com o seu falecido marido? - Ele quebrou o silêncio.

- Steve, a pergunta correta seria: "qual a sua história menos impactante?". - Gargalhei. - Eu e o Logan tivemos uma história complicada.

- Estou aqui para te ouvir. - Ele sorriu.

- No dia do meu aniversário de 19 anos eu descobri que meu namorado estava me traindo. Sai de casa às pressas e com a vista completamente embasada por causa das lágrimas. Atravessei a rua sem olhar e fui atingida por um carro acima da velocidade permitida. Sofri muitos impactos e entrei em coma. Passei um ano deitada em uma cama de hospital praticamente sem reagir.

- Uau. - Ele arregalou os olhos.

- O Logan fora o meu médico por todo esse tempo. Ele não desacreditou que eu poderia me recuperar. Por algumas vezes eu quase morri, mas ele estava lá para me reanimar.

- Gostaria de ter feito o mesmo pela Carly. - Ele suspirou. - Infelizmente não podemos voltar no tempo.

- Tenho certeza de que você a fez feliz até o seu último suspiro. Você é um cara incrível. - Fitei seus olhos azuis.

O que você fez comigo - Capítulo 4

- Whitechapel não é um bairro para correr pelas ruas, sabia? - Ouvi uma voz bradar ao meu lado.

- Acho que você também não deve saber. - Revirei os olhos e dei de ombros.

- Você é sempre tão grossa? - Ele parou de andar, levantou os braços em indignação e me encarou.

- Eu era legal antes de perder o meu marido. - Continuei correndo e engoli em seco.

- Espera! - Ele correu até mim e segurou o meu braço, fazendo com que eu parasse imediatamente. - Você não pode se tornar uma pessoa fria por isso.

- Você não sabe de nada. - Soltei-me dele.

- Sra. Price, você poderia me ouvir?

- Por favor, não me chame assim. - Respirei profundamente.

Ser a Sra. Price fora o que eu mais quis depois de conhecer o Logan, saber que um dia eu seria dele e só dele. Saber que compartilharíamos uma casa, uma cama, uma vida.
Ouvir o seu sobrenome me fazia tremer na base. Lembrar que eu já não tinha mais o Sr. Price comigo. Saber que não me restou nada dele. Só os nossos mais sinceros sentimentos estavam ali.

- O que você quer de mim? - Cruzei os braços.

- Eu não quero nada de você. - Ele deu de ombros. - Uma pessoa ser gentil não quer dizer que ela tem segundas intenções.

- Quase sempre, sim. - Pisquei para ele e comecei a andar.

- Você não é assim. - Gelei. - Se escondeu dentro de uma armadura por medo de perder mais alguém.

- Por que você acha que sabe alguma coisa sobre mim?

- Porque eu senti toda a dor da perda...

- Amy.

- Ah, sim... Amy! - Ele sorriu sem graça. - Quando eu me casei, só tinha 21 anos. Eu era bem novo e todos diziam que eu iria me arrepender, que deveria aproveitar um pouco mais. Eu tinha certeza do que queria, e quando temos essa certeza, por que esperar? Eu a amava de todas as formas possíveis e quando ela se foi... Eu perdi tudo o que para mim realmente era importante.

- Eu sinto muito. - Baixei a cabeça.

- Você superará, Amy. - Ele levantou o meu rosto delicadamente me fazendo fitar seus olhos. - Eu achava que isso não era possível, mas uma hora a dor se transforma em saudades. Uma doce saudade dos bons momentos.

- Obrigada pelas palavras. - Forcei um sorriso. - Eu preciso voltar para casa.

- Tudo bem. - Ele colocou as mãos nos bolsos. - Procure correr acompanhada, o bairro não é muito violento mas não é bom que você esteja por aí sozinha. - Recomendou. - Até logo!

O paramédico, assim eu o chamava, já que não sabia o seu nome, nem lembrava se ouvi em algum momento. Eu não sabia se ele estava certo, se um dia eu superaria essa dor, se viveria uma vida normal, mas me custava acreditar nisso. Não imaginamos que podemos sentir uma dor tão grande, até sentir. E quanto sentimos, clamamos a Deus para que tudo aquilo seja um terrível pesadelo, é que parece ser maior do que o que suportamos.

Se eu pudesse voltar no tempo e escolher novamente ficar com o Logan ou não, eu o escolheria. Eu escolheria viver o nosso amor por milhões de vezes repetidas. A minha dor nunca seria maior que o amor que gritava dentro de mim todos os dias em que estive ao seu lado, e até nos que eu não estive...

***

- Sr. Craig, quero lhe apresentar Amy Price, ela e sua equipe cuidará para que o seu livro seja publicado. - Vanessa sorriu e me puxou pelo braço.

- Amy?

- Elliott? - Arregalei os olhos.

Alí estava ele. Elliott não havia mudado absolutamente nada desde a última vez que o vi. Seus olhos castanhos brilhavam intensamente, sua barba estava por fazer, seus cabelos grisalhos. Elliott era uma perfeita mistura de um homem sério e descontraído ao mesmo tempo.

- Vocês já se conhecem? - Questionou Vanessa.

- Fui sua aluna quando estive na Universidade da Califórnia. - Sorri sem graça.

- Também tivemos um relacionamento. - Ele sorriu e depositou um beijo em minha bochecha. - Vejo que você se casou. - Ele pegou a minha mão.

- Sou... Viúva.

Pela primeira vez desde o acidente, eu precisei me identificar daquela forma, e como doeu.

- Eu sinto muito, Amy... Eu não... - O interrompi.

- Não vamos falar sobre isso, por favor. - Suspirei. - Venha até a minha sala, trataremos sobre o seu livro.

Caminhei em passos longos até o meu escritório. O meu salto agulha batia contra o piso, aquele era o único barulho ouvido. Girei a maçaneta e abri a porta. Apontei para a cadeira que ele poderia sentar, e caminhei até o outro lado da mesa, sentando de frente para ele.

- A Vanessa me mandou o seu livro hoje cedo por e-mail. - Comecei a mexer no notebook.

- Você se casou com ele?

- Elliott... - Balancei a cabeça em reprovação. - Eu não quero falar sobre isso.

- Você me abandonou, Amy. Eu tenho o direito de saber.

- Sim, eu me casei com o Dr. Logan Price, estive grávida dele e perdi os dois no mesmo dia. - Senti meus olhos encherem de lágrimas. - Eu realmente não quero falar sobre isso. Dói! - Apontei para o meu peito.

- Me desculpe, eu realmente sinto muito por isso. - Ele apertou as minhas mãos como se me passasse força.

- Obrigada. - Sequei uma lágrima que escorria em minha bochecha. - Você teria algum tempo livre amanhã? Posso ler o seu livro ainda hoje e conversamos amanhã.

- Eu não quero que você leia esse livro. Eu não fazia ideia de que você trabalhava aqui, eu nunca teria vindo se soubesse.

- Elliott, eu sei que tivemos problemas, mas é o meu trabalho, você não pode...

- Amy, você não vai trabalhar comigo nesse livro. Eu não quero.

- Você só pode estar brincando. - Sorri incrédula. - Não seja criança, Elliott!

- Eu não estou agindo como criança... - O interrompi.

- Como você descreve essa atitude? O que esse livro tem de tão importante que eu não possa ler?

- Você. Esse livro fala sobre você, da primeira à última página, Amy. Fala sobre a linda garota que eu conheci em um dia ensolarado em San Diego. Fala sobre o quanto eu a amei... E o quanto eu fiquei devastado quando ela se foi.

- Elli... Eu... Nossa. - Fechei os olhos com força. - Eu não esperava por isso.

- Tudo bem. Diga a Vanessa que eu quero outra equipe. Me desculpe por isso, mas eu não posso trabalhar com você.

Elliott suspirou e deixou a sala.

Um livro. Um livro sobre mim...

***

O sol já estava se pondo. Entrei em casa e fui recebida pelos pulos alegres do Fredie. Desci com ele para que pudéssemos caminhar um pouco.

- Uma hora todas as coisas voltarão para o seu devido lugar, amigão. - Acariciei os seus pelos claros.

- É bom ouvir que você acredita nisso. - Ele sorriu.

- Nossa, eu quase pensei que estivesse louca. - Sorri. - Pensei que o Fredie estava falando comigo.

- Uau. - Ele gargalhou.

- Você anda me seguindo? - O encarei.

- Eu moro nessa rua. Naquele prédio alí. - Ele apontou para um pequeno edifício bege. - Você também mora por aqui?

- Moro sim. Acabei de me mudar, para falar a verdade. - Dei de ombros. - Eu não sei o seu nome...

- Steve. - Ele estendeu a mão. - Steve Hall.

- Amy Price. - Apertei sua mão. - Mas você já sabe.

- É um prazer conhecê-la oficialmente, Amy. - Sorrimos. - Eu estou indo para o trabalho, mas nos encontramos por aí.

- Claro. - Assenti. - Steve?

- Sim. - Ele se virou para mim.

- Obrigada por ter me salvado.

- É o meu trabalho.

***

Tomei um banho demorado e frio. Sequei meus cabelos, espalhei cremes pelo meu corpo, vesti uma roupa leve e deitei em minha cama. Coloquei o notebook no meu colo e comecei a ler os escritos do Elliott.
Não pude deixar de conter as lágrimas que pesavam nos meus olhos. Elliott fora tão ferido por mim, e mesmo assim me descrevia como se eu fosse a coisa mais preciosa de sua vida, como se eu fosse um raio de sol em um dia frio, ou como a chuva em um dia quente, um alívio para a sua vida. Suas palavras eram doces demais. Ele colocou alí todo o seu amor... Eu sequer fui capaz de reparar na sinceridade de seus sentimentos. Mas quem era eu para merecer tamanho sentimento? Uma garota de 20 anos, que fugira do país para não enfrentar um obstáculo de sua vida. Eu não tinha nada de especial, nada de diferente... Nada que me fizesse ser digna de seus mais puros sentimentos.

sábado, 20 de janeiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 3

Os enterros sempre são difíceis. Imagine que você é rotineiramente acostumado ao convívio com alguém e simplesmente precisa dizer adeus. Colocá-lo dentro de uma caixa, trancar, jogar terra, colocar grama e nunca mais ver. Não é simples se convencer de que nunca mais trocarão olhares, que seus corpos nunca mais se unirão em um momento íntimo, que seus lábios nunca mais se provarão, que sua pele nunca mais sentirá o seu toque. Nada daquilo era fácil de lidar.

A dor de dizer adeus quando não foi uma escolha sua. A dor de dizer adeus a alguém que você quer tanto por perto. A dor de dizer adeus a quem você mais ama. A dor de dizer adeus e viver só. A dor. As dores.

Meu físico se recuperava bem. Logo poderia retirar os gessos do meu braço e perna. Nas extensões do meu corpo ainda se encontravam algumas feridas em cicatrização, outras, só cicatrizes. Meu abdômen já não doía mais pela curetagem, mas o meu coração não estava bem com o ocorrido.

Assim que terminei a faculdade, consegui um excelente emprego em uma editora. Por conta da correria do trabalho, acabei não me dando conta do atraso de minha menstruação. Foi só com os enjoos matinais que acabei lembrando desse detalhe e me ocorreu que eu poderia ter um bebê dentro de mim.
Comprei alguns testes de farmácia e todos deram positivo. Me senti agraciada pela privilégio de carregar dentro de mim uma criança que seria o fruto do meu relacionamento com o meu marido. Também fiz um Beta HCG para ter a completa certeza de que aquilo era real, só então eu contei para o Logan.

Naquela tarde, depois de sair do trabalho, passei por algumas vitrines de lojas de bebês. Sempre amei as ideias de revelações de gravidezes, gostaria de fazer algo especial para o Logan. Desde que nos casamos, há 2 anos atrás, ele sempre falava que estava ansioso para ser pai, para que o nosso amor se multiplicasse.
Eu sabia que aquele era o dia do seu plantão a noite, seria perfeito para mim.  Ao chegar em casa, adentrei o quarto vazio que reservamos para quando o novo membro da família chegasse. Sim, o Logan esperava todos os dias para que eu lhe anunciasse isso.
Subi com cada peça do bercinho que comprei mais cedo. Coloquei lá dentro e comecei a seguir as instruções para montar. Não fora uma tarefa tão difícil assim. E lá estava ele, um lindo berço branco e delicado. Era perfeito.
Dentro do berço eu pus um par de sapatinhos brancos, o Beta HCG e os testes de farmácia. Seria a minha surpresa e o meu presente para alguém tão amado.

- Quantos dedos tem aqui? - Mostrei minha mão para ele.

- Amor, eu juro que não estou vendo nada.

- Vou confiar em você, Sr. Price.

Ele estava vendado. O guiei pela mão até dentro do quarto. Caminhamos até o bercinho e finalmente eu retirei a venda de seus olhos.

- GRÁVIDA? - Seus olhos se arregalaram. - Minha nossa! - Ele me tomou em seus braços me tirando do chão. - Eu já te disse que você me faz muito feliz? O homem mais feliz do mundo, para falar a verdade. - Ele uniu seus lábios aos meus.

- Eu amo você. Vocês... Agora. - Acariciei minha barriga.

- Eu amo vocês. - Ele depositou um beijo em minha barriga. - Eu serei pai. - Ele sorriu animado.

Algum tempo depois decidimos que se fosse uma menina, a chamaríamos de Charlotte. Caso tivéssemos um menino, o chamaríamos de Ethan. O meu bebê morreu sem nome, sem toque, sem carinho...

Foram poucos os nossos contatos, foi pouco tempo de felicidade, mas a sensação dentro de mim nunca morreria. Aquela alegria... Eu jamais esqueceria. Eu jamais o deixaria morrer em meus pensamentos.

***

O testamento do Logan fora lido. Não era grande e nem complicado. Sua família era pequena e todos viviam muito bem. Tudo o que ele construiu durante a sua curta vida foi deixado deixado para mim, o que já era imaginado, já que éramos só nós dois.

- Você ficará bem? - Mamãe acariciou o meu rosto. - Aquela casa está cheia de lembranças dele.

- Eu não posso voltar a morar aqui, mãe. - Sorri sem graça. - Eu construí uma vida... Se bem que ela fora no mínimo devastada. - Dei de ombros. - Eu ficarei bem.

Não, eu não ficaria bem. Entrar naquela casa seria a minha sentença de morte.

Abri a porta da sala e parei ali mesmo. Respirei profundamente buscando o ar em meus pulmões. Eu não estava preparada para voltar alí.
Tudo estava exatamente como nós deixamos na manhã do acidente. Sua camisa branca estava jogada no braço do sofá. Seu cheiro ainda estava ali... Era como se ele ainda estivesse ali.
Peguei uma caixa e comecei a juntar os porta retratos com nossas fotos. Coloquei os livros, CDs e DVDs também.
Subi para o nosso quarto e fui tomada por uma onda de dor ainda maior que tudo que eu senti nesses últimos dias. A nossa cama ainda estava bagunçada. Nossos lençóis amassados, nossos cheios nos travesseiros. Ninguém entrou alí depois do ocorrido, eu não permiti. Deitei na cama e abracei o seu travesseiro... Como eu conseguiria passar o resto da minha vida sem sentir o seu perfume adentrar as minhas narinas?

Coloquei todas as minhas roupas nas malas que encontrei pela casa. Pus todos os meus sapatos, acessórios, pertences pessoais, tudo que era meu.
Coloquei as coisas do Logan dentro de caixas, se alguém estava esperando que eu fosse me desfazer delas, eu não estava pronta para isso, nem sabia se um dia estaria.
O nosso closet estava vazio. Não havia uma peça sequer lá dentro. Eu sairia daquela casa, viveria em outro lugar, eu só não suportaria vê-lo em cada centímetro daquela casa. Era um castigo grande demais.

Eu já havia saído para procurar um apartamento confortável que pudesse me abrigar. Escolhi um apartamento em Whitechapel. Ok, a história do Jake, o estripador, já ficou para trás, Whitechapel não é assim tão ruim. Talvez esse ambiente mais cheio de pessoas fosse me fazer bem.

Quando entrei no quartinho que seria do nosso filho, me permiti chorar e viver aquela terrível dor que gritava dentro de mim. Eu chorei pelo Logan, mas guardava-me do sofrimento pelo meu filho, porque eu não tinha o meu marido para me reerguer quando eu desabasse. Era muito mais profundo do que se podia imaginar, e eu não tinha uma escolha além de seguir sozinha, de superar sozinha.

***

No dia seguinte, levei meus pertences para o meu novo lar. Abri as janelas e ouvi o barulho das ruas. O dia estava levemente ensolarado e colorido lá fora.
Comecei a organizar meus pertences no pequeno closet e deixei as coisas do Logan nas caixas. Eu não as deixaria para trás, mas não poderia fingir que ele ainda estava aqui. Não poderia me matar dessa forma. 
O apartamento já era mobiliado, o que facilitou a minha vida. Na segunda-feira eu precisaria voltar para o trabalho e não teria tempo para resolver essas coisas.
Estava confusa em relação ao que fazer com a casa em que morávamos, não estava feliz em me desfazer da casa que o Logan morou desde que saiu da casa dos pais, mas eu não pretendia pisar alí nunca mais. Aquela cara parecia ter o rosto dele gravado nas paredes.

- Você não pensou que eu fosse te esquecer, não é? - Abracei o Fredie. - Vamos para a nossa nova casa, amigo. - Sorri de lado. - Você é a minha única memória viva dele. Não me deixe também, por favor. - Sentei ao seu lado.

- Amy... - Mamãe lamentou. - Você tem certeza de que não quer ficar comigo?

- Sim, mamãe. - Forcei um sorriso. - Obrigada por ter cuidado do Fredie.

- Ele é um ótimo cachorro. - Ela sorriu.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 2

Suas mãos delicadas passaram a escova pela extensão dos meus fios escuros. Escovou meus cabelos com delicadeza e lentidão. Os juntou com as mãos e amarrou-lhes em um rabo de cavalo baixo. Colocou brincos em minhas orelhas e lançou-me um sorriso forçado. Apenas continuei encarando o espelho em minha frente.

- Farei uma maquiagem básica, apenas para melhorar esse rostinho.

Dei de ombros. Essa maquiagem esconderia minhas olheiras, mas seria impossível maquiar, esconder minhas emoções tão nítidas até em meus olhos.

***

Megan empurrou minha cadeira de rodas até a primeira fila de cadeiras. Olhei ao redor e avistei tantos rostos conhecidos. Na primeira fileira, a qual eu estava, mamãe, David, Thomas (pai do Log) e Ryan (seu amigo médico). Espalhados pelas outras filas estavam muitos outros companheiros de trabalho do Logan. Conheci cada um deles na época que passei pelo acompanhamento. Alguns parentes distantes do Logan também compareceram à cerimônia.
Imaginei a dor que sua mãe sentiria se estivesse ali, principalmente no estado que se encontrava alguns anos atrás. Eleanor não fora uma boa mãe para o Log, mas eu sabia que o amava, qual mãe, mesma da sua maneira louca, é incapaz de amar um ser que saiu de dentro dela?

Um pastor, conhecido do Thomas, iniciara a cerimônia, uma espécie de "culto fúnebre". Falou sobre a dádiva que é viver e sobre a única certeza que temos, a morte. Lamentou por nossa perda e nos consolou dizendo que o Logan foi para um lugar melhor.
O Thomas começou a falar sobre os seus momentos com o Logan. Sorriu em meio às lágrimas contando situações engraçadas, depois, desabou no choro e não conseguiu falar mais nada. Ryan representou o hospital e também honrou o médico incrível que o meu marido fora. Marido, eu sequer tinha conseguido me acostumar com essa palavra, agora precisaria conviver com "viúva".

- Amy, você deseja falar algumas palavras? - Thomas indagou baixinho.

Assenti e ele empurrou minha cadeira para frente, fazendo todos os olhares se voltarem para mim. Engoli em seco.

- Sabe, nós estávamos indo para o Regent's Park, sempre adoramos esses programinhas. Eu e o Logan caminhávamos de mãos dadas pelo gramado e conversávamos sobre besteiras. - Dei de ombros. - Era só mais um dia comum. - Senti a primeira lágrima descer pela minha bochecha. - A morte não quer saber se é um dia comum, ela só acontece. - Torci os lábios. - Isso é uma droga, sabia? - Sorri sem graça. - Nós estávamos casados e felizes, esperando um bebê que aumentaria ainda mais a nossa alegria. O Logan ficou louco quando descobriu. Todos os dias ele conversava com o bebê. - Parei por alguns segundos. - Ele estava fazendo aquelas vozes fofas quando tudo aconteceu. Ele estava falando com o filho, contando o quanto estava feliz por saber que estava perto deles se conhecerem de verdade.

Eu já soluçava quando terminei de falar. Meu coração batia descompassadamente, minha mente fora invadida por pensamentos dolorosos.

- Querida... - Thomas me abraçou. - Você não precisa continuar, se não quiser.

- Eu quero. - O afastei.

Enxuguei minhas lágrimas e encarei as pessoas a minha frente.

- Eu o amei todos os dias, desde que o conheci. - Sorri. - Eu sou tão nova, uma hora todos dirão que eu devo arrumar um novo amor, mas não é algo que eu queria... Eu tive uma bela história, em? - Abri um sorriso largo. - Essa seria a história que eu gostaria de contar para os nossos filhos e netos... - Fechei os olhos sentindo um turbilhão de emoções me invadirem. - Nossa... Isso é doloroso. Nós amamos intensamente sem imaginar que um dia isso possa acontecer. Ninguém nos prepara para isso, não é mesmo?

Eu gostaria de falar tantas coisas que já não sabia mais o que falar. Poderia falar de como nos conhecemos, das loucuras que enfrentamos, do nosso casamento, da descoberta da minha gravidez... Foram tantas maravilhas, mas elas estavam mergulhadas em um mar de dor e sofrimento. Naquele momento, só quis gritar para o mundo todo ouvir o quanto eu estava furiosa por tê-lo perdido.

- Meu Deus... Eu não posso enterra-lo. - Desesperei-me. - Como conseguirei viver sem nunca mais ver o seu rosto? Não, não... - Toquei no caixão. - Por favor...

- Amy, você precisa deixá-lo ir. - Mamãe me abraçou.

- Mãe, eu não consigo. É ele, é o Logan. É o meu marido. - Choraminguei. - Mãe, eu perdi o meu bebê, ele deveria estar ao meu lado para me consolar. Meu Deus... Nossa... - Passei a mão pelo meu cabelo. - Eu ainda sinto como se ele estivesse aqui. - Apontei para a barriga. - Eu não vou conseguir sem o Logan.

Eu não dispunha de opções.

Observei de longe as pessoas jogarem rosas sobre o seu caixão. Aos poucos, o cemitério ficou vazio e frio. Olhei os túmulos ao redor e imaginei quantas mulheres sofreram como eu estava sofrendo. Quantas famílias abaladas, perdidas.
Com dificuldade, empurrei minha cadeira até o seu caixão. Pedi para que abrissem para mim, precisava me despedir.

- As pessoas costumam dizer que o tempo cura todas as feridas, meu amor. - Toquei em suas mãos frias. - Você abriu em mim uma ferida grande demais para um dia ser sarada. Eu sei que nada disso é culpa sua, mas eu te odeio um pouquinho por ter ido antes de mim. - Sorri em meio às lágrimas. - Eu sempre te disse que queria ir antes, você trapaceou, espertinho. - Encostei minha cabeça em seu peito. - Prometo que nunca esquecerei dos seus olhos azuis que adoravam me deixar sem graça ao me olhar sem piscar. Também não esquecerei dos seus beijos, do seu toque, do seu corpo... Nós sempre seremos um único corpo, Logan. - Acariciei o seu rosto. - Não te direi Adeus. Eu nunca te deixarei. Meu pensamento sempre estará em você.

Assenti para que fechassem o caixão e pus uma rosa sobre o mesmo. O meu marido e filho estavam realmente mortos.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 1

Uma. Duas. Três. Quatro. Dez. Doze. Doze vezes. Doze infelizes vezes que o nosso carro capotou. Senti cada impacto. Vi cada caco de vidro voando por todas as partes. Senti cada peça do carro ser despedaçada. Senti meu sangue escorrendo pelo meu corpo. E senti o airbag sendo empurrado contra mim. Senti meus ossos quebrarem. Senti algumas lágrimas saindo dos meus olhos. Senti minha respiração ficar ofegante. Senti meu útero e barriga doerem imensamente como se alguém dentro de mim pedisse por socorro. E pedia.

Sangue. Sangue. Sangue. Ele estava coberto por sangue. Seus cabelos bagunçados e colados na testa onde uma poça do líquido vermelho já estava formada. Suas pernas estavam esmagadas pelas ferragens do carro, o airbag pressionando seu corpo contra o banco. Seus olhos estavam abertos, mas ele não se mexia. Engoli em seco. Abri a boca na tentativa de chamá-lo, mas eu não tinha forças para isso. Todo o meu corpo doía e eu lutava para me manter acordada.

Olhei em volta e uma multidão se formava ao nosso redor. Pessoas gritavam perto de mim. Suas bocas gesticulavam coisas que eu não conseguia entender, pois estava tomada pelas lágrimas que eu não conseguia conter de forma alguma.

- Logan... - Falei baixinho quando finalmente consegui. - Por... Favor... - Falei entre engasgos.

Ele continuava imóvel. Seus olhos azuis não tinham o mesmo brilhos de todos os dias quando me acordava aos beijos. Aquele olhar de quanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e beijava meus lábios com cuidado, como se tocasse em algo precioso. Seu olhar estava morto, assim como ele.

- Nós vamos cuidar de você, meu bem. - Um dos paramédicos sorriu enquanto me carregava para dentro da ambulância. - Você pode me dizer o seu nome? - Ele indagou.

- Amy. Amy... Price. - Falei baixinho e pausadamente. Price... Sra. Price.

- Tudo bem, Amy. - Ele assentiu. - Preciso que você seja forte, tudo bem?

Um dia Gandhi disse "O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente que há no mundo." Eu sabia que o ser que me fez viver o amor estava morto. Em que lugar eu buscaria forças para sobreviver? Eu não queria.

- Amy, olha aqui... - Ele segurou o meu rosto entre suas mãos, quando me viu desfalecer. - Fica comigo.

As portas da ambulância foram fechadas e ali permaneci com ele e mais alguns paramédicos remexendo-me. Eu fechei meu olhos e continuei chorando. Não queria falar nada, nenhuma dor física se comparava ao que estava acontecendo.

Levei uma das mãos à barriga e respirei profundamente. Eu não queria pensar que também o perdi, mas eu sabia que sim. 

- Meu bebê. - Falei baixinho. - Eu estou grávida... Ou estava. - Senti meu coração apertar dentro do meu peito.

Ele levantou minha blusa, revelando uma barriga ainda pequena e lisinha. Iniciou o exame com um ultrassom portátil. Não olhei para a telinha, não olhei para ninguém.

- Ele morreu, não foi? - Sorri sem graça.

- Estamos quase chegando no hospital, você será atendida e um obstetra poderá falar sobre isso com você bem melhor que eu.

- Ele morreu. - Engoli em seco.

Enquanto eles limpavam meus ferimentos, faziam curativos e tratavam de mim da maneira que podiam, minha mente voltou-se para Logan.

Minutos depois do acidente, ouvi sirenes. Eram os bombeiros. Correram até Logan e sentiram seu pulso. Ou melhor, não sentiram. Concordaram que precisavam me tirar de lá o mais rápido possível, isso não custou muito, já que o meu lado do carro estava para cima, facilitando o trabalho deles.
Logan estava preso nas ferragens. Quando eu saí de lá, eles ainda estavam tentando cortar os ferros para tirar o seu corpo. Seu corpo, só o corpo... Ele não estava mais lá. Nada dele restava ali. A essência do médico dedicado, do marido amoroso, do pai brincalhão que seria, do amigo fiel, do filho educado... Aquela essência não estava mais perto de mim.

Quantas vezes acordei desesperada por sonhar com a sua morte? Inúmeras. Ele sempre me envolvia com os seus braços, me deitava sobre o seu corpo como se eu fosse uma criança, e me protegia de toda a dor. Ele não conseguiu me proteger quando tudo de fato aconteceu.

***

Olhei para aquela movimentada sala de cirurgia. Enfermeiros de um lado, cirurgiões de outros, instrumentadores, anestesistas... Todos prontos para fazerem o melhor por mim. Lembrei-me da última vez que estivesse nessa situação... Ele estava ao meu lado. Eu o tinha. Ele fizera o melhor por mim.

- Repararemos esses estragos. - A médica piscou para mim antes da anestesia invadir-me.

E os estragos em meu coração, vocês também reparariam?

***

- Meu amor... Que tragédia! - Mamãe apertou minhas mãos enquanto chorava ao lado de minha cama. 

Fechei meus olhos e me permiti chorar. Não falei nada, não gesticulei nada, apenas chorei por toda a dor que eu estava sentindo.
Foram muitas visitas em pouco tempo. Todos estavam sabendo do terrível acidente, da tragédia que nos assolou de uma hora para a outra. Mamãe, David, Megan, até mesmo o meu pai veio me ver. O Sr. Price, pai do Logan, também compareceu. Chorou durante alguns minutos ao meu lado, gostaria de lhe dizer algumas palavras, mas eu sentia a sua dor e sabia que nada que eu dissesse poderia melhorar o seu sofrimento, então apenas o abracei.

- Seu sofrimento é em dobro, minha querida. - Ele acariciou a minha barriga. - Eu sinto tanto por isso. Meu Deus... - Ele passou a mão em seus cabelos. - Como isso foi acontecer? Por que logo com vocês?

Nunca saberíamos o motivo de todas as tragédias acontecerem, elas só acontecem. Elas nos atingem de uma hora para a outra e levam tudo consigo. São como ondas grandes que nos atingem enquanto estamos distraídos no mar. Nos arrastam com toda a sua força e nos golpeiam dolorosamente.

***

Aquela noite fora a mais difícil possível. Eu era Amy Price, uma garota de 24 anos, casada com um lindo médico, com o qual vivi uma linda história de amor, grávida de 3 meses do seu primeiro filho ou filha, formada, com um bom emprego e uma família maravilhosa. De repente, tornei-me apenas Amy... Sem nada, sem ninguém. A mesma Amy de anos atrás, só que muito mais vazia e carregando dentro de si uma dor enorme.

Ainda não havia completado 24 horas desde que tudo aconteceu. Eu só desejava que aquilo fosse um pesadelo do qual eu iria acordar e receber o seu abraço reconfortante. Juro que balancei o meu corpo tentando me fazer acordar, até que me dei conta de que tudo era real, meu pesadelo era a minha vida.

- Posso entrar? - Uma voz estranha e ao menos tempo familiar ecoou pelo quarto. Virei-me para a porta e o fitei. - Desculpe por incomodar, só quis saber se você estava bem.

- Não se apaixone por mim e nem espere que eu me apaixone por você. Eu já vivi um romance intenso o suficiente por essa vida e não quero mais ninguém perto de mim. - Respirei profundamente depois de falar. - Pode ir embora.

- Ei, calma. - Ele levantou os braços em rendição. - Não estou tentando te conquistar, Sra. Price. - Ele sorriu de lado. - Soube da sua história. Sinto muito.

- É o que todos dizem. - Dei de ombros.

- Perdi minha esposa em um acidente também. Eu realmente sinto muito. - Ele suspirou e saiu do quarto.

Fora ele o paramédico que conversava comigo enquanto me socorria. Tentava me manter firme, viva. Estava grata por tamanha preocupação, mas ferida demais para conseguir conversar com alguém sem também ferir.

***

Um braço e uma perna quebrados, escoriações por todas as partes do corpo, testa com alguns pontos, um enorme desconforto abdominal por conta da curetagem, assim eu fui liberada. Eu sentia muitas dores em meu corpo, mas as dores em minha alma eram imensuráveis. Eu havia perdido o Logan, e junto com ele, o maior presente que eu havia ganhado, o nosso bebê. A vida me arrancou os dois de maneira abrupta. Não me restou sequer um pedacinho deles para que eu pudesse me assegurar nos dias maus. Eu estava só. Ninguém seria capaz de me curar. Eu não acreditava que com o tempo as coisas fossem melhorar, nada iria melhorar.
Um dia o Logan me falou que éramos épicos, que a nossa história era inacreditável e insuperável, eu estava completamente convencida disso. Eu não aceitaria supera-lo.