sábado, 17 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 6 parte 2

- Então... - Steve falou baixinho quebrando o silêncio. - Estamos calados há exatos 27 minutos.

- Não sei o que falar. Tenho medo de surtar. - Suspirei.

- Você não precisa surtar. - Ele apertou minhas mãos. - Se você não quiser, isso nunca mais acontecerá. - Ele forçou um sorriso.

- Obrigada.

- Mas eu espero que você queira, porque eu quero.

Steve abriu um sorriso largo e gargalhou baixinho, sendo seguido por mim. Eu estava feliz por sua amizade, por sua compreensão e por seus conselhos. Steve sabia ir com calma e sabia exatamente como me conquistar, mas eu não tinha a certeza de que estava disponível para um novo alguém.

- Você gosta de livros? - Indaguei enquanto saíamos da cafeteira.

- Eu costumo ler livros voltados para a área da saúde, na maioria das vezes não são instigantes, mas são essenciais para mim. - Ele deu de ombros.

- E se eu te apresentar alguns autores que sejam de fato instigantes? - Arqueei as sobrancelhas.

- Mostre-me. - Ele piscou.

O sol estava se pondo. Algumas pessoas caminhavam pelas calçadas, algumas lojas começavam a fechar, enquanto outras estavam mais movimentadas nesse horário. O vento frio batia em meu rosto fazendo com que meus fios, bem mais curtos do que eu sempre estive acostumada, voassem como em um clipe musical. Pus as mãos no bolso do sobretudo e continuei caminhando ao lado do Steve, que falava com alguém ao telefone.

- Chegamos. - Finalmente falei quando paramos em frente a porta do meu apartamento. - Só quero deixar claro que não estou tentando te seduzir. - Falei preocupada.

- Você é sempre tão insegura? - Steve me encurralou contra a parede, colocando um braço em cada lado do meu corpo.

- Não. - Engoli em seco.

- E o que te faz sempre querer esclarecer as coisas? Você não deixa lugar para a subjetividade. - Ele deu de ombros e afastou-se de mim.

- Você gosta de mim, Steve?

- Uau! - Ele arqueou as sobrancelhas. - Vejo em você uma grande habilidade em mudar de assunto.

- Responda! - Ordenei.

- Sim, eu gosto de você.

- E o que você quer comigo?

- Como assim o que eu quero com você?

- Se você gosta de mim, quer algo com isso. - Dei de ombros.

- Ter algo com você nunca foi a minha intenção. - Ele acariciou o meu rosto com o seu polegar. - Eu não me apaixonei a primeira vista pela mulher que precisei tirar de dentro daquele carro. Quando eu te encontrei, só pensei em te salvar para o seu marido. Fazer por ele aquilo que eu não pude fazer por mim mesmo.

- Obrigada por isso. - Senti meus olhos encherem de lágrimas e logo uni meu corpo ao seu em um abraço apertado.

- Quando fui te visitar no hospital, só queria saber se você estava bem. Ouvi pelos corredores a sua triste história e vi que você precisaria de alguém que te entendesse.

- Então você resolveu ser esse alguém. Por que não me mandou para um grupo de apoio?

- Porque eu também preciso de você, Amy. Eu segui com a minha vida porque todos seguem, mas eu não me sinto curado. Com você eu tive a oportunidade de falar tudo o que eu sempre quis. Ninguém nunca me ouviu sem sentir pena. Ninguém sabe como agir quando você desabafa sobre isso. Eu precisava falar aquilo que eu senti durante todos esses anos. Você não sabe o quanto é difícil se envolver com outras pessoas e só pensar em alguém que já morreu, alguém que você nunca mais verá ou tocará.

- Eu estou aqui com você. - Depositei um beijo em seu braço.

- Eu gosto dessa sua insegurança, de quando você fala desparadamente, das suas perguntas loucas...

- Você ainda não respondeu o que quer comigo.

- Eu não sei o que somos ou o que seremos, mas eu sei que esperarei para descobrir. Você não se entregará para mim agora, o Logan ainda tem todo o espaço aqui dentro. - Ele apontou para o meu coração. - Não posso competir com ele. - Ele sorriu.

- Também não posso ser a cura para a Carly. - Sorri sem graça.

- Não somos curativos. - Ele balançou a cabeça. - Se assim fizermos, tudo acabará mal.

- Amigos? - Estendi a mão.

- Por enquanto.

Steve piscou e puxou-me para um abraço carinhoso.

- Eu vou me curar e vou esperar que você se cure. Amy, só não demora tanto quanto eu, por favor. Já estou um pouco velho.

Gargalhamos juntos e finalmente entramos em meu apartamento. Steve se jogou no sofá e recebeu a atenção do Fredie, que pareceu amar uma companhia masculina.

- Vem! - Gritei do meu escritório. - Aqui! - Acenei para ele. - Essa é a minha mini biblioteca. - Apontei para o interior do cômodo.

- Mini?

3 das 4 paredes do meu escritório eram preenchidas por prateleiras com livros. Literatura inglesa fora a minha paixão desde a minha adolescência. Ali estavam livros bem velhos, livros que li milhares de vezes durante esses anos, livros novos, livros que eu nunca tive tempo de ler.

- Quero que você leia esses. - Entreguei-lhe alguns livros. - São os meus preferidos.

- Tudo bem.

- Acho que depois disso você me achará muito chata.

- Talvez. - Ele riu. - Faremos uma troca, então. Amanhã te trago alguns livros. - Ele me olhou maldoso.

- Steve, meus gostos literários são peculiares, não ache que eu detestarei. - Pisquei para ele e apontei para uma prateleira cheia de revistas de saúde. - Além disso, fui casada com um médico, adquiri o gosto pela coisa.

Caminhei até o outro lado do escritório e abri um baú cheio de enciclopédias de medicina.

- Havia esquecido desse detalhe.

***

- Você lava e eu seco. - Steve sugeriu.

- Tudo bem. - Concordei.

Ao som de Sugar do Maroon 5, eu lavei a louça que sujamos para fazer o jantar e ele secou. Volta e meia Steve começava a sensualizar com suas dancinhas, me arrancando gargalhadas altas.



- O síndico logo logo baterá na minha porta. - Curvei-me sobre o balcão com o abdômen doendo de tanto rir.

- Não sei o que te faz rir tanto. Eu danço divinamente. - Ele sorriu e me abraçou por trás. - Obrigada pela noite maravilhosa. Você arrancou de mim os mais sinceros sorrisos em anos.

- Somos uma boa dupla, Steve Hall. - Trocamos soquinhos.

- Agora você me acompanha até a porta e me deseja bons sonhos.

- Você enlouqueceu? Já passa da meia noite, não posso te deixar andar por aí sozinho, você deixou seu carro em casa, lembra?

- Amy, eu moro no fim da rua.

- Não, Steve. - Cruzei os braços. - Eu não serei imprudente ao ponto de te deixar sair daqui e correr perigo.

- Se te deixar mais tranquila, te ligo quando entrar no prédio.

- Eu estou falando grego? - Arqueei as sobrancelhas. - Pode deitar aí. - O empurrei para o sofá. - É um sofá-cama, você ficará bem acomodado. Vou te trazer lençóis e travesseiros.

- Amy, eu preciso ir, trabalho amanhã bem cedo.

- Você sai mais cedo, só não te deixarei andar por essas ruas de madrugada.

- Obrigada por toda essa preocupação, mas é desnecessária.

- Fica caladinho aí, Hall. - Revirei os olhos e sorri.

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