sábado, 17 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 6

- U-A-U! - Vanessa arqueou as sobrancelhas e sorriu abobalhada. - O que foi que eu perdi?

- Van, você separou os papéis que te pedi? Meu voo sai em duas horas, preciso ir. - Ignorei seus comentários por nota a presença do Elliott. - Bom dia, Elliott! - Forcei um sorriso.

- Podemos conversar? - Ele levantou e caminhou até mim.

- Eu juro que não posso agora. - Torci lábio e comemorei internamente. Eu só queria evitá-lo. Elliott me trazia as lembranças do meu passado, do quanto eu o magoei e do quanto eu não o merecia.

- Eu e a Vanessa já terminamos aqui, então eu posso te levar ao aeroporto e conversamos no caminho. - Droga!

- Tudo bem. - Forcei um sorriso.

O que eu iria falar? Como eu iria agir? Mas que droga, Elli!

O Elliott colocou minha mala no banco de trás e abriu a porta do carona para mim. Lancei-lhe um sorriso em agradecimento. Caminhou até o outro lado, acomodou-se no banco, ligou o som de carro, colocou o cinto e deu partida.
Tentei ignorar uma voz interior que gritava desesperada dentro de mim. Era o Elliott, o cara que se apaixonou por mim desde o primeiro dia que me viu, o mesmo cara que eu magoei, mesmo que sem intenção. Como eu deveria reagir? Será que eu deveria começar me desculpando? Tá, mas eu não estava arrependida de tê-lo deixado, voltar para Londres me trouxe o Logan de volta.

- Tudo bem com você? - Ele me olhou rapidamente, voltando seu olhar para a avenida. - Parece tensa.

- Não estou me sentindo a vontade com você. - Desabafei. - A medida que me sinto uma péssima pessoa por ter te feito sofrer, também não me arrependo.

- Se eu tivesse que escolher entre ficar com alguém que me ama, mas que eu não amo e voltar para a minha casa, tendo a oportunidade de ficar com o amor da minha vida, eu teria feito o mesmo que você. - Ele sorriu sem graça. - Você nunca mentiu para mim, nunca me iludiu, nunca me enganou. Eu me apaixonei por você porque é algo incontrolável, mas escolher ficar com você, isso foi uma escolha minha, eu sabia dos riscos. Eu corri os risco e me ferrei depois. - Deu de ombros sorrindo. - Doeu e ainda dói, mas faz parte.

- Ok. - Falei baixinho. O que eu deveria falar?

- Eu só queria te dizer que não precisamos agir de forma estranha. Não precisa haver ressentimentos entre nós dois. Tudo bem?

- Claro. - Forcei um sorriso.

- Não tá tudo bem, pelo visto. - Ele riu.

- Elliott, o que você fez depois que eu parti?

- Continuei sendo professor, mas juro que você foi a única aluna que me fez quebrar regras. - Sorri com ele. - Tive algumas namoradas, o que não deu muito certo, porque eu troquei os nomes delas pelo seu. - Ele piscou.

- Me desculpe por causar esse transtorno. - Dei de ombros.

- Eu tenho uma namorada atualmente.

Engasguei.

- Tudo bem, Amy? - Ele parou o carro no acostamento.

- Elliott, você quase me beijou e me diz que tem uma namorada?

- Tudo bem, nada aconteceu. - Ele suspirou. - Infelizmente.

- Eu nem deveria ter vindo com você. - Revirei os olhos. - Não quero que você a magoe por minha causa.

- Se você me desse uma chance de verdade, eu terminaria com a Poppy e ficaria tudo bem.

- As coisas não funcionam assim. Você acha que é só terminar e a outra pessoa vai seguir em frente numa boa?

- Foi exatamente isso que você fez, Amy. Eu segui em frente, porque eu sabia que ele te faria completamente feliz. Amar é isso, deixar o outro ir mesmo que isso te faça sofrer.

- Acontece que eu não sei se conseguirei te fazer feliz. Eu não sei se conseguirei seguir com a minha vida depois da morte do Logan.

- Você nunca saberá se não tentar.

Eu estava realmente preocupada com o que estava acontecendo. Fazia pouco tempo que o Logan deixara esse mundo e já havia alguém esperando que eu decidisse esquece-lo e me envolver novamente. Quê?

***

Minha viagem durou 2 meses. 2 meses bem longe de Londres. 2 meses para esquecer a proposta do Elliott. 2 meses para me afastar da cidade que me lembrava o Logan. 2 meses para esquecer as pessoas que o lembravam também.
Eu estava representando a editora em que eu trabalhava, em diversas feiras de livros por todo o EUA. Tive tempo de conhecer escritores renomados e alguns iniciantes. Um bom período para deleitar-me em novas leituras, esfriar minha cabeça, colocar as ideias no lugar.

- MAMÃE! - Uma menininha gritou.

- Charlotte, fale baixo, você está incomodando a moça.

Não podia ser... Logo Charlotte? Às vezes eu achava que Deus estava me pregando uma peça.

- Tudo bem. - Sorri emocionada. - Você é muito linda, Charlotte. - Acariciei os seus cabelos.

- Obrigada. - Ela falou com voz de criança e sorriu espontânea.

Encostei minha cabeça na janelinha do avião e permiti que algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu tentava esquecer que gerei um bebê por alguns meses e que o perdi. Tentava não sentir aquela dor porque eu não tinha ninguém que pudesse me abraçar apertado e dizer que enfrentaríamos aquilo juntos. Doía tanto dentro de mim, mas eu tentava sufocar aquele sentimento com todas as minhas forças.

***

- Posso sentar com você? - Sorri para ele enquanto segurava uma pequena bandeja com uma xícara de chocolate quente e um muffin.

- AMY? - Ele arregalou os olhos. - Claro que pode! - Steve tomou a bandeja de minhas mãos, colocou-a sobre a mesa e me abraçou contra o seu peito. - Pensei que você tivesse se mudado ou coisa do tipo. O que Aconteceu com você?

- Calma! - Sorri e me sentei. - Viajei a trabalho.

- Seu cabelo... Ficou muito bom. - Ele piscou para mim.

- Obrigada. - Sorri sem graça. - E você, o que fez durante esse tempo? Ah, eu já sei... - Fingi pensar. - Salvou vidas! - Sorri brincalhona.

- Você voltou bem melhorar, Amy. - Steve acariciou o meu rosto com uma de suas mãos. - Com o tempo tudo voltará ao seu devido lugar.

- É...

Steve me olhava concentrado. Sua mão em meu rosto me causavam arrepios e meu coração batia em um ritmo descompassado.

- Eu quero muito beijar você, mas tenho medo de que você me atire essa xícara de chocolate. - Ele sorriu.

- Eu não sei o que farei. Você pode arriscar, se realmente quiser.

- Eu quero.

Steve abriu um sorriso mais largo, inclinou-se sobre a mesa e invadiu-me com seus lábios macios. Sua barba arranhava meu rosto me fazendo sorrir.

- O que devo falar agora? - Ele indagou.

- Você deveria ficar calado, só às vezes. - Dei de ombros e sorri.

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