Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Torci para que ele imaginasse que se tratava de uma gotícula de suor. Mas, a cada toque seu, uma nova lágrima surgia e meu desespero se tornou evidente. Eu desejava que aquele momento fosse especial, que fosse o nosso momento, e o que eu pensei que tinha certeza que queria, tornou-se no meu maior pesadelo.
- Amy, o que aconteceu? Eu te machuquei? Amy, fala comigo! - Esteve chacoalhou meu corpo enquanto falava desesperado.
- Me desculpe... - Encolhi-me na cama e abracei minhas pernas. - Eu não consigo fazer isso. Me desculpe, Steve. Eu... Eu sinto que estou traindo o Logan.
- Tá... Tá tudo bem.
Senti seus braços fortes me envolverem em um abraço terno. Steve mantinha uma expressão preocupada em sua face. Com a cabeça encostada em seu peito, pude sentir seu coração bater de maneira descompassada.
- Eu poderia ir embora se isso te deixasse mais confortável, mas me preocupo se você ficará bem.
- Você irá me odiar, não é? - Suspirei.
- Talvez nós tenhamos nos precipitado em achar que você superaria isso tão rápido. Deixei que meus sentimentos por você me fizessem esquecer do que vivi, e pode ter certeza que isso também aconteceu comigo.
- Me desculpe.
- Você não precisa se desculpar. - Ele acariciou o meu rosto. - Eu vou me vestir e te deixarei só para pensar.
Enrolei-me com o lençol e observei Steve se vestir. Ele não era um homem muito alto, mas suas demais características físicas eram capazes de atrair qualquer mulher sem que ele precisasse demonstrar toda a sua bondade interior.
- O que você está olhando? - Lançou-me um sorriso.
- Tudo o que eu perdi. - Brinquei e lancei-lhe uma piscadela.
- Você não me perdeu, Amy. A menos que você não me queira. - Ele deu de ombros.
- Seria muito egoísmo querer alguém e ao mesmo tempo tentar ser fiel à memória do seu marido morto? Prender alguém a si e não se entregar para ele?
- Você é fiel à memória do Logan. - Steve sentou ao meu lado. - Você o ama, sempre fala bem dele, é apegada à toda a bondade que um dia ele fez, por que estaria traindo ele? Você só tem medo de seguir em frente e talvez realmente seja cedo para isso. Ninguém supera tão rápido, a menos que tenha desejado isso, não é o seu caso.
- Obrigada por tudo. - Envolvi seu corpo com um abraço forte.
Acompanhei o Steve até a porta. Sem saber como se despedir de mim, depositou um beijo em minha bochecha e seguiu até o elevador com as mãos enfiadas no bolso. Senti-me péssima por desaponta-lo.
Fechei a porta atrás de mim, segui para o meu quarto e enfiei o rosto no travesseiro. Minutos antes de me entregar para o Steve, eu tinha a certeza de que era aquilo que eu queria, na hora H, minha mente fora invadida por lembranças do Logan que me fizeram recuar. Tive medo de dizer o que estava sentindo, o que se passava comigo, mas meus sentimentos, a fraqueza que eu senti naquele momento me livraram de magoar o Steve ainda mais. Ele merecia alguém bem menos complicada.
***
- As flores são para você. - Vanessa apontou para a minha mesa.
- Tulipas... - Senti meu coração acelerar.
- O que há de errado, você não gosta de tulipas?
- Só duas pessoas sabem o quanto eu amo tulipas, e uma delas já morreu.
- Mas a outra pessoa continua viva e precisa te pedir desculpas. - Virei-me e encarei Elliott.
- Eu não estou com cabeça para conversar com você, Elliott. Além disso, estou no meu ambiente de trabalho e não convém que eu resolva problemas pessoais aqui. - Caminhei em passos firmes até a porta da minha sala.
- Podemos conversar no seu horário de almoço, então.
- Terei que ser mais clara... - Sorri sem graça. - Eu não quero falar com você. Tenha um excelente dia!
***
Uma música calma tocando no rádio, as luzes iluminando as ruas, pessoas agasalhadas andando errantes... Aquele era o cenário que me faria pensar sobre toda a minha vida. Se aquele acidente não tivesse acontecido, eu estaria em casa cuidando da minha pequena garotinha, enquanto o meu lindo marido estaria cozinhando para nós. Eu colocaria a Charlotte no carrinho, abraçaria o Logan por trás e ficaria na ponta dos pés para beijar os seus lábios quando ele inclinasse a cabeça para trás. Eu colocaria a louça na mesa, jantaríamos conversando sobre o futuro da Charlotte, como imaginávamos que tudo seria.
Por outro lado, imaginei como minha vida seria caso eu não tivesse abandonado o Elliott. Oficialmente seríamos namorados, eu teria terminado a faculdade lá, talvez fossemos noivos ou quem sabe casados. Talvez eu tivesse aprendido a amá-lo, quem sabe eu fosse infeliz. Quem sabe o Logan tivesse ido atrás de mim, quem sabe ele tivesse me deixado para trás. Quem sabe ele tivesse sofrido um acidente de qualquer jeito, talvez ele estivesse vivo.
Aí eu pensei no Steve... Talvez nunca tivéssemos nos conhecido caso todos esses "quem sabe" tivessem acontecido.
Parada em um semáforo, observei o letreiro em um prédio que dizia "Clínica do luto". Senti-me tentada a parar lá, mas imaginei que seria como nos filmes: você vai, senta em um círculo de cadeiras, ouve todos falarem sobre como alguém importante para eles morreu, conta sobre sua história e tudo aquilo vai se repetindo, semana após semana, até que você se dê conta de que você só perdeu o seu tempo.
Estacionei o carro e entrei. Eu não ficaria pior do que estava.
- Boa noite, em que posso ajudá-la?
- Como faço para participar disso?
- Você se refere à uma consulta com a Dra. Turner?
- Consulta? Tipo... Terapia?
- É.
- Eu imaginei um grupo de apoio, como o AA.
- Ah, claro! - Ela sorriu. - Temos reuniões do grupo de apoio para pessoas que precisam vencer o luto, mas também temos terapias com a Dra. Turner, caso você não se sinta bem falando publicamente. A Dra. Turner é especialista em casos de luto.
- Tudo bem... - Suspirei. - Eu não sei o que tentar. O que você sugere?
- Por que não tenta os dois? Daqui há 10 minutos começará a reunião do grupo de apoio. Você pode participar e ver se consegue se adaptar.
- Obrigada.
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