Ele não estava falando de qualquer acidente. Foi o acidente. Ele não estava falando de qualquer morte. Foi a morte. Ele não estava falando de qualquer pessoa. Era o Logan. O meu Logan.
Aceitar que alguém amado se foi é algo difícil de digerir, ainda mais quando você descobre que não foi por acaso, que não foi um acidente que poderia ter acontecido com qualquer pessoa. Aquele acidente fora planejado, e eu estar viva, não fazia parte do plano.
- Eu estou confusa. - Sequei as lágrimas, cruzei as pernas e respirei fundo. - Como vocês descobriram isso? Eu fui informada que o motorista do outro carro havia fugido. Eu só pensei que ele estivesse com medo.
- Sra. Price, o motorista do outro carro se chama Blake, ele foi retirado do seu carro por um homem que ainda não conseguimos identificar. O Blake foi levado inconsciente para um hospital e demorou todos esses meses para se recuperar. Só então ele decidiu falar o que havia acontecido.
- Isso não faz sentido. O Logan perdeu o controle do nosso carro, não foi culpa do Blake. - Arqueei as sobrancelhas.
- A perícia constatou que os freios do carro do seu marido foram cortados. E quanto ao Blake, ele estava no lugar certo, na hora certa. Foi pago para atingir o carro de vocês.
Eu tentava assimilar todas aquelas palavras mas nada fazia sentido em minha mente. Quem poderia agir com tamanha maldade?
- Por que o Blake faria isso? Ele poderia ter morrido. Como alguém consegue arriscar a sua vida assim por dinheiro?
- As pessoas são más. - Ele suspirou. - Sinto muito por trazer essa notícia. Esperamos solucionar esse caso em breve. Traremos justiça para o seu marido.
- Obrigada. - Forcei um sorriso e o acompanhei até a porta. - Detetive? - Ele virou para mim. - Ele não delatou o mandante, não é?
- Infelizmente não conseguimos fazê-lo falar.
- Eu quero lhe fazer um visita. - Engoli em seco. - Meus advogados entrarão em contato.
Fechei a porta, girei a chave e caminhei até o sofá. Tirei meus sapatos, aconcheguei-me na maciez do meu sofá e encarei o Steve que durante toda a minha conversa com o detetive esteve imóvel.
- Eu devo te abraçar? - Ele ajoelhou-se aos pés do sofá. - Eu não sei se você quer quebrar alguma coisa para descontar a raiva, não sei se quer ficar só, não sei se quer um abraço... É só você me dizer o que devo fazer, Amy.
- O que você sentiu quando sua esposa foi assassinada? - Indaguei acanhada.
- Impotência por não poder fazer nada por ela e muito ódio. - Ele fechou os olhos e me puxou para o seu colo. - O que você sente?
- Eu estou com muita vontade de chorar, mas a raiva que eu sinto me impede. Quem faria isso com ele, Steve? Quem? - Balancei a cabeça em negação. - Isso é surreal.
- Você deve chorar, Amy. Você precisa colocar toda essa raiva para fora.
- A minha raiva não o trará de volta, e nem descobrir quem fez isso com ele. - Lamentei.
- O que você quer dizer? Você não quer descobrir?
- Se eu não estivesse correndo risco de vida, eu não gostaria de saber. - Deitei minha cabeça em seu ombro. - Eu deveria ter morrido naquele acidente. Quem fez isso pode tentar concluir seu plano.
- Eu nunca deixaria que isso aconteça. - Steve apertou meu corpo ao seu em um abraço forte.
- Você corre risco perto de mim. Realmente está disposto a arriscar sua vida por alguém como eu?
- Eu não conheço ninguém melhor do que você, meu bem. - Steve abriu um sorriso fraco.
- Eu não estou mais conseguindo segurar minhas lágrimas. - Falei com voz de choro.
- Estou aqui com você.
***
Qualquer pessoa que olhasse para a minha história murmuraria pela catástrofe que minha vida se tornou, mas no meio disso tudo, ele apareceu para me salvar.
Steve e eu tínhamos mais em comum do que quaisquer outras pessoas desse mundo. Viúvos, confusos e problemáticos. Éramos uma dupla perfeita.
Senti-me péssima por fazê-lo reviver suas piores lembranças ao meu lado. Quando o conheci, Steve foi obrigado a lembrar a morte da Carly, mas escolheu passar por todos as fases da superação pós-morte ao meu lado e agora passaria pelo ódio de saber que a pessoa que você mais amou na vida foi morta pelas mãos de um outro alguém. Mas aí é que estava. Quem matou a Carly foi uma ladrãozinho qualquer. Quem matou o Logan, nos conhecia muitos bem e nos odiava.
- Minha filha, é perigoso que você vá falar com esse homem. - Mamãe olhou-me com uma expressão desesperada.
- Haverá vários policiais lá, mãe. - Dei de ombros. - Eu sei que você entende a necessidade disso. Talvez ele seja amolecido por falar com a viúva da pessoa que ele ajudou a matar.
- Amy, esse homem matou o seu marido. Ele não vai se sentir mal só por te ver. Eu sinto muito, minha filha.
- Eu não desistirei, mãe. - Suspirei.
- Talvez seja mais seguro que você volte para a Califórnia.
- Sério? - Arqueei as sobrancelhas.
- Eu detesto a ideia de te ter longe, mas se isso significa que você estará segura, é melhor.
- Mãe, eu não vou sair do país. Eu vou descobrir quem matou o Logan.
- Filha... - Mamãe pôs sua xícara de chá na mesa e me olhou assustada.
- O que aconteceu? - Indaguei.
- Em que prisão o Dylan está?
- Você... Não. Eu não... Meu Deus. - Levei minhas mãos aos cabelos de forma desesperada. - Eu preciso ter certeza disso.
***
- O Sr. Harris continha preso, Sra. Price. Ele não pode está envolvido nesse crime. Sinto muito.
A medida que senti-me aliviada por saber que aquele desgraçado não havia concretizado o seu plano do passado, senti-me angustiada ao lembrar que ele o teria feito. Ainda assim, existia mais alguém que odiava o meu relacionamento com o Logan, e eu não fazia ideia de quem era. Isso era ainda pior.
***
- Elliott? - Cruzei meus braços ao me deparar com ele de frente para a minha porta.
- Amy, eu gostaria de conversar com você. Sei que você não quer mais falar comigo e nem deseja a minha presença, mas eu preciso que você me ouça.
- Tudo bem. Entre.
- Não pretendo fazer arrodeios. Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que eu te vi, Amy. Eu nunca te tive de verdade e isso me destruiu por completo. Saber que agora você deu uma nova chance para o amor e eu ainda não sou a sua escolha... Você não entende. - Ele abaixou o rosto e suspirou.
- Nós não controlamos os sentimentos, Elliott.
- Você nunca saberá se é possível me amar se você não se esforçar para isso, Amy. Você poderia ter alguém que te ama mais do que a si mesmo. Por que você não me aceita? - Ele segurou minhas mãos e me olhou de forma desesperada.
- E a sua namorada, Elliott? O que ela acha disso? Por que você não aceita o amor dela? Pelo que eu vejo, você não age diferente de mim.
- Amy... Por favor.
- Você está desgastando a nossa amizade, Elliott. Eu sinto muito, mas eu não posso corresponder aos seus sentimentos.
- Você ainda será minha, Amy.
- NÃO! EU NUNCA SEREI SUA. - Gritei e o empurrei contra a parede.
- Amy. - Ele me olhou assustado.
- Eu juro que você nunca encostará em mim. - Cerrei os dentes.
- Amy, o que está acontecendo?
Só então eu despertei do transe em que entrei. Quando o Elliott falou que eu seria dele, lembrei-me da obsessão do Dylan e ao que ela nos levou. Eu não estava disposta a passar por tudo aquilo de novo. Mas o Elliott não era o Dylan e o Steve não era o Logan. Essa não é a mesma história.
- Me desculpe. - Afastei-me dele. - É... Você deve ir embora. Me desculpe.
Elliott me lançou um último olhar e saiu apressado de meu apartamento. Talvez agora ele tenha entendido o recado. Ninguém nunca mais agiria daquela forma comigo.
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