domingo, 18 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capitulo 7

Alguns meses se passaram desde que voltei da minha última viajem. A rotina no trabalho estava um pouco mais corrida. Minhas noites se resumiam à leitura de obras que seriam lançadas e uma boa xícara de café. Volta e meia eu olhava para o sofá e lá estava o Freddie assistindo TV. Sempre achei fofinho essa atitude dele. Freddie parecia muito concentrado naquilo que se passava diante de seus olhos, então sempre deixo a TV ligada para ele. Tive alguns pesadelos com o Logan, mas a frequência com que eles acontecem vem diminuindo e isso me tranquiliza um pouco mais, porque não foram poucas as vezes que acordei gritando no meio da madrugada chamando pelo seu nome. Decidi colocar a casa em que moramos à venda, não demorou muito para que os interessados aparecessem e conseguíssemos fechar negócio. Depois disso, nunca mais precisei voltar lá e receber uma surra de lembranças. Aquela casa fazia com que uma onda imensurável de dor invadisse cada extensão do meu corpo. Alí nós deitamos no sofá, comemos pipoca e assistimos diversos filmes nas noites de sábado. Alí nós corremos pelo gramado brincando com o Freddie quando ele ainda era um filhotinho. Alí nós cozinhamos juntos. Alí nós nos jogamos na piscina de madrugada. Alí nossos corpos se uniram um ao outro. Alí nossos beijos foram intensos. Alí nossas conversas foram sinceras. Alí foi o nosso lugar.

Steve e eu corríamos todas as manhãs, as vezes trocávamos conversas em uma cafeteria no fim da tarde, as vezes saímos para ver um filme ou coisa do tipo. Nada nunca mais aconteceu depois do nosso único beijo na cafeteria, também não tocamos mais no assunto. Steve se tornou importante o suficiente para que eu o quisesse sempre perto de mim, mas eu não sabia se um dia seríamos mais que amigos que cuidam um do outro. Ele parecia bem melhor em relação à Carly. Conversamos muitas vezes sobre os nossos falecidos cônjuges, tudo parecia fluir bem e eu estava feliz pelo nosso avanço.

Elliott e eu trocamos algumas poucas conversas nesse tempo. Seu livro fora aclamado pelos críticos ingleses e ele saiu em turnê com a obra. Todos especulavam sobre quem era "Emilly", certamente não era a sua namorada, a Poppy, pois a mesma deu algumas entrevistas alegando que aquela história não pertencia aos dois.

- Eu não acho que seja uma boa ideia. - Torci os lábios. - Não quero ficar conhecida.

- Amy, todos querem conhecer a musa do Elliott. - Vanessa revirou os olhos. - Além disso, é uma ótima chance para a sua carreira alavancar. Tenho certeza que você receberá ótimas propostas de emprego depois que souberem que você é.

- Eu amo esse emprego, não preciso de nenhum outro. - Dei de ombros.

- Eu não aceito um não. - Vanessa me encarou. - Você irá! - Ordenou.

As pessoas estavam perguntando ao Elliott se não existia a possibilidade dele reatar com a "Emilly" para que eles tivessem um segundo livro, um final feliz. Ora, o que aquilo estava se tornando? O público estava esquecendo que aquela história não era um ficção, não se tratava de algo que o Elliott imaginou e escreveu ali, eram as nossas vidas, os nossos sentimentos.

***

- Você deveria lançar a sua versão dos fatos. - Steve sugeriu enquanto levava a xícara de chá à boca.

- Você ficou louco? - Arqueei as sobrancelhas. - Isso viraria uma guerra.

- Talvez eles só precisem saber que a "Emilly" não está mais disponível.

- Mas eu sou viúva. - Sorri sem graça. - É claro que estou só.

- Já te disse que isso é algo temporário, meu bem. - Steve apertou o meu queixo e o puxou para mais perto de si. - Você só estará só até o dia que decidir que não quer mais isso.

Ele sorriu e aproximou seus lábios dos meus.

- A Carly sempre será uma linda lembrança dentro de mim, mas há um espaço aqui para que você entre. - Ele apontou para o seu coração. - Eu só preciso saber se também tenho como fazer parte da sua vida.

- Amy? - Elliott lançou-me um olhar desapontado.

- Elli... Você... Você quer sentar conosco? - Forcei um sorriso para ele e me afastei do Steve.

- Para alguém que estava sofrendo pelo marido morto, você parece muito bem.

- Olha a maneira que você fala com ela. - Steve se levantou e caminhou até ele.

- Tá tudo bem, Steve. - Toquei seu peito. - Elliott, nós podemos conversar uma outra hora. - Suspirei.

- Claro, você pode ficar aí com o seu novo namorado. - Ele sorriu irritado. - Quando é que eu terei uma chance com você, Amy? O que é que todos esses caras tem que eu não tenho? Eu sou louco por você... Ah, talvez esse seja o problema. - Ele balançou a cabeça em negação. - Você merece alguém que te descarte na primeira oportunidade, assim como você faz comigo.

- É melhor você ir embora antes que eu parta a sua cara. - Steve grunhiu.

Elliott lançou-nos um sorriso debochado, deu dois soquinhos no peito do Steve e saiu. Senti um par de braços me apertar com força e depositar um beijo em minha testa. Ele sussurrou em meu ouvido: "cuidarei de você".

Steve me levou ao seu carro e dirigiu até a sua casa. Aquela era a primeira vez que ele estava me levando lá. Não sentia medo de estar com ele, Steve era sempre tão cuidadoso comigo.

- Agora você vai ficar deitada aqui enquanto eu preparo o nosso jantar. - Ele apontou para a sua cama e sorriu.

- Eu estou bem. - Sorri para ele. - Não preciso ficar deitada.

- A minha cama é muito fofa, você vai querer ficar aí. - Ele deu de ombros e se jogou na cama, me puxando junto.

- Tenho muita sorte porque você estava de plantão naquele dia. Obrigada por ter me salvado e por cuidar tão bem de mim.

Eu estava deitada por cima dele enquanto contemplava seus lindos olhos azuis e acariciava os seus cabelos macios.

- Então me deixe sempre cuidar de você...

Seus lábios se uniram aos meus em um beijo carinhoso. Steve apertava minha cintura e minhas coxas a medida que o nosso beijo se intensificava. Minhas mãos desceram até a barra da sua camisa, que logo fora parar no chão do quarto, junto com outras peças de roupas nossas.

- Amy, não quero que você se arrependa disso. - Ele acariciou o meu rosto. - Não quero que você se sinta mal pelo Logan. - Eu assenti.

- Por favor, não vá trocar o meu nome pelo da Carly. - Gargalhei baixinho e ele logo fez o mesmo.

- Prometo que não farei isso. - Ele depositou um selinho em meus lábios.

- Eu sei o que eu quero, Steve.

Quando você ama alguém de verdade, isso nunca passará, isso nunca mudará, mas eu precisava ser amada e construir uma nova vida. O Logan me disse que eu deveria encontrar um novo alguém, alguém que me amasse como ele me amou. Alguém que me fizesse sentir como se eu fosse algo precioso o suficiente para ser cuidado com todo zelo. Ele não desejava que eu o colocasse em um pedestal e fosse fiel à sua imagem, mas que eu fosse fiel aos nossos sentimentos, e quanto a isso, eu jamais seria capaz de corromper.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 6 parte 2

- Então... - Steve falou baixinho quebrando o silêncio. - Estamos calados há exatos 27 minutos.

- Não sei o que falar. Tenho medo de surtar. - Suspirei.

- Você não precisa surtar. - Ele apertou minhas mãos. - Se você não quiser, isso nunca mais acontecerá. - Ele forçou um sorriso.

- Obrigada.

- Mas eu espero que você queira, porque eu quero.

Steve abriu um sorriso largo e gargalhou baixinho, sendo seguido por mim. Eu estava feliz por sua amizade, por sua compreensão e por seus conselhos. Steve sabia ir com calma e sabia exatamente como me conquistar, mas eu não tinha a certeza de que estava disponível para um novo alguém.

- Você gosta de livros? - Indaguei enquanto saíamos da cafeteira.

- Eu costumo ler livros voltados para a área da saúde, na maioria das vezes não são instigantes, mas são essenciais para mim. - Ele deu de ombros.

- E se eu te apresentar alguns autores que sejam de fato instigantes? - Arqueei as sobrancelhas.

- Mostre-me. - Ele piscou.

O sol estava se pondo. Algumas pessoas caminhavam pelas calçadas, algumas lojas começavam a fechar, enquanto outras estavam mais movimentadas nesse horário. O vento frio batia em meu rosto fazendo com que meus fios, bem mais curtos do que eu sempre estive acostumada, voassem como em um clipe musical. Pus as mãos no bolso do sobretudo e continuei caminhando ao lado do Steve, que falava com alguém ao telefone.

- Chegamos. - Finalmente falei quando paramos em frente a porta do meu apartamento. - Só quero deixar claro que não estou tentando te seduzir. - Falei preocupada.

- Você é sempre tão insegura? - Steve me encurralou contra a parede, colocando um braço em cada lado do meu corpo.

- Não. - Engoli em seco.

- E o que te faz sempre querer esclarecer as coisas? Você não deixa lugar para a subjetividade. - Ele deu de ombros e afastou-se de mim.

- Você gosta de mim, Steve?

- Uau! - Ele arqueou as sobrancelhas. - Vejo em você uma grande habilidade em mudar de assunto.

- Responda! - Ordenei.

- Sim, eu gosto de você.

- E o que você quer comigo?

- Como assim o que eu quero com você?

- Se você gosta de mim, quer algo com isso. - Dei de ombros.

- Ter algo com você nunca foi a minha intenção. - Ele acariciou o meu rosto com o seu polegar. - Eu não me apaixonei a primeira vista pela mulher que precisei tirar de dentro daquele carro. Quando eu te encontrei, só pensei em te salvar para o seu marido. Fazer por ele aquilo que eu não pude fazer por mim mesmo.

- Obrigada por isso. - Senti meus olhos encherem de lágrimas e logo uni meu corpo ao seu em um abraço apertado.

- Quando fui te visitar no hospital, só queria saber se você estava bem. Ouvi pelos corredores a sua triste história e vi que você precisaria de alguém que te entendesse.

- Então você resolveu ser esse alguém. Por que não me mandou para um grupo de apoio?

- Porque eu também preciso de você, Amy. Eu segui com a minha vida porque todos seguem, mas eu não me sinto curado. Com você eu tive a oportunidade de falar tudo o que eu sempre quis. Ninguém nunca me ouviu sem sentir pena. Ninguém sabe como agir quando você desabafa sobre isso. Eu precisava falar aquilo que eu senti durante todos esses anos. Você não sabe o quanto é difícil se envolver com outras pessoas e só pensar em alguém que já morreu, alguém que você nunca mais verá ou tocará.

- Eu estou aqui com você. - Depositei um beijo em seu braço.

- Eu gosto dessa sua insegurança, de quando você fala desparadamente, das suas perguntas loucas...

- Você ainda não respondeu o que quer comigo.

- Eu não sei o que somos ou o que seremos, mas eu sei que esperarei para descobrir. Você não se entregará para mim agora, o Logan ainda tem todo o espaço aqui dentro. - Ele apontou para o meu coração. - Não posso competir com ele. - Ele sorriu.

- Também não posso ser a cura para a Carly. - Sorri sem graça.

- Não somos curativos. - Ele balançou a cabeça. - Se assim fizermos, tudo acabará mal.

- Amigos? - Estendi a mão.

- Por enquanto.

Steve piscou e puxou-me para um abraço carinhoso.

- Eu vou me curar e vou esperar que você se cure. Amy, só não demora tanto quanto eu, por favor. Já estou um pouco velho.

Gargalhamos juntos e finalmente entramos em meu apartamento. Steve se jogou no sofá e recebeu a atenção do Fredie, que pareceu amar uma companhia masculina.

- Vem! - Gritei do meu escritório. - Aqui! - Acenei para ele. - Essa é a minha mini biblioteca. - Apontei para o interior do cômodo.

- Mini?

3 das 4 paredes do meu escritório eram preenchidas por prateleiras com livros. Literatura inglesa fora a minha paixão desde a minha adolescência. Ali estavam livros bem velhos, livros que li milhares de vezes durante esses anos, livros novos, livros que eu nunca tive tempo de ler.

- Quero que você leia esses. - Entreguei-lhe alguns livros. - São os meus preferidos.

- Tudo bem.

- Acho que depois disso você me achará muito chata.

- Talvez. - Ele riu. - Faremos uma troca, então. Amanhã te trago alguns livros. - Ele me olhou maldoso.

- Steve, meus gostos literários são peculiares, não ache que eu detestarei. - Pisquei para ele e apontei para uma prateleira cheia de revistas de saúde. - Além disso, fui casada com um médico, adquiri o gosto pela coisa.

Caminhei até o outro lado do escritório e abri um baú cheio de enciclopédias de medicina.

- Havia esquecido desse detalhe.

***

- Você lava e eu seco. - Steve sugeriu.

- Tudo bem. - Concordei.

Ao som de Sugar do Maroon 5, eu lavei a louça que sujamos para fazer o jantar e ele secou. Volta e meia Steve começava a sensualizar com suas dancinhas, me arrancando gargalhadas altas.



- O síndico logo logo baterá na minha porta. - Curvei-me sobre o balcão com o abdômen doendo de tanto rir.

- Não sei o que te faz rir tanto. Eu danço divinamente. - Ele sorriu e me abraçou por trás. - Obrigada pela noite maravilhosa. Você arrancou de mim os mais sinceros sorrisos em anos.

- Somos uma boa dupla, Steve Hall. - Trocamos soquinhos.

- Agora você me acompanha até a porta e me deseja bons sonhos.

- Você enlouqueceu? Já passa da meia noite, não posso te deixar andar por aí sozinho, você deixou seu carro em casa, lembra?

- Amy, eu moro no fim da rua.

- Não, Steve. - Cruzei os braços. - Eu não serei imprudente ao ponto de te deixar sair daqui e correr perigo.

- Se te deixar mais tranquila, te ligo quando entrar no prédio.

- Eu estou falando grego? - Arqueei as sobrancelhas. - Pode deitar aí. - O empurrei para o sofá. - É um sofá-cama, você ficará bem acomodado. Vou te trazer lençóis e travesseiros.

- Amy, eu preciso ir, trabalho amanhã bem cedo.

- Você sai mais cedo, só não te deixarei andar por essas ruas de madrugada.

- Obrigada por toda essa preocupação, mas é desnecessária.

- Fica caladinho aí, Hall. - Revirei os olhos e sorri.

O que você fez comigo - Capítulo 6

- U-A-U! - Vanessa arqueou as sobrancelhas e sorriu abobalhada. - O que foi que eu perdi?

- Van, você separou os papéis que te pedi? Meu voo sai em duas horas, preciso ir. - Ignorei seus comentários por nota a presença do Elliott. - Bom dia, Elliott! - Forcei um sorriso.

- Podemos conversar? - Ele levantou e caminhou até mim.

- Eu juro que não posso agora. - Torci lábio e comemorei internamente. Eu só queria evitá-lo. Elliott me trazia as lembranças do meu passado, do quanto eu o magoei e do quanto eu não o merecia.

- Eu e a Vanessa já terminamos aqui, então eu posso te levar ao aeroporto e conversamos no caminho. - Droga!

- Tudo bem. - Forcei um sorriso.

O que eu iria falar? Como eu iria agir? Mas que droga, Elli!

O Elliott colocou minha mala no banco de trás e abriu a porta do carona para mim. Lancei-lhe um sorriso em agradecimento. Caminhou até o outro lado, acomodou-se no banco, ligou o som de carro, colocou o cinto e deu partida.
Tentei ignorar uma voz interior que gritava desesperada dentro de mim. Era o Elliott, o cara que se apaixonou por mim desde o primeiro dia que me viu, o mesmo cara que eu magoei, mesmo que sem intenção. Como eu deveria reagir? Será que eu deveria começar me desculpando? Tá, mas eu não estava arrependida de tê-lo deixado, voltar para Londres me trouxe o Logan de volta.

- Tudo bem com você? - Ele me olhou rapidamente, voltando seu olhar para a avenida. - Parece tensa.

- Não estou me sentindo a vontade com você. - Desabafei. - A medida que me sinto uma péssima pessoa por ter te feito sofrer, também não me arrependo.

- Se eu tivesse que escolher entre ficar com alguém que me ama, mas que eu não amo e voltar para a minha casa, tendo a oportunidade de ficar com o amor da minha vida, eu teria feito o mesmo que você. - Ele sorriu sem graça. - Você nunca mentiu para mim, nunca me iludiu, nunca me enganou. Eu me apaixonei por você porque é algo incontrolável, mas escolher ficar com você, isso foi uma escolha minha, eu sabia dos riscos. Eu corri os risco e me ferrei depois. - Deu de ombros sorrindo. - Doeu e ainda dói, mas faz parte.

- Ok. - Falei baixinho. O que eu deveria falar?

- Eu só queria te dizer que não precisamos agir de forma estranha. Não precisa haver ressentimentos entre nós dois. Tudo bem?

- Claro. - Forcei um sorriso.

- Não tá tudo bem, pelo visto. - Ele riu.

- Elliott, o que você fez depois que eu parti?

- Continuei sendo professor, mas juro que você foi a única aluna que me fez quebrar regras. - Sorri com ele. - Tive algumas namoradas, o que não deu muito certo, porque eu troquei os nomes delas pelo seu. - Ele piscou.

- Me desculpe por causar esse transtorno. - Dei de ombros.

- Eu tenho uma namorada atualmente.

Engasguei.

- Tudo bem, Amy? - Ele parou o carro no acostamento.

- Elliott, você quase me beijou e me diz que tem uma namorada?

- Tudo bem, nada aconteceu. - Ele suspirou. - Infelizmente.

- Eu nem deveria ter vindo com você. - Revirei os olhos. - Não quero que você a magoe por minha causa.

- Se você me desse uma chance de verdade, eu terminaria com a Poppy e ficaria tudo bem.

- As coisas não funcionam assim. Você acha que é só terminar e a outra pessoa vai seguir em frente numa boa?

- Foi exatamente isso que você fez, Amy. Eu segui em frente, porque eu sabia que ele te faria completamente feliz. Amar é isso, deixar o outro ir mesmo que isso te faça sofrer.

- Acontece que eu não sei se conseguirei te fazer feliz. Eu não sei se conseguirei seguir com a minha vida depois da morte do Logan.

- Você nunca saberá se não tentar.

Eu estava realmente preocupada com o que estava acontecendo. Fazia pouco tempo que o Logan deixara esse mundo e já havia alguém esperando que eu decidisse esquece-lo e me envolver novamente. Quê?

***

Minha viagem durou 2 meses. 2 meses bem longe de Londres. 2 meses para esquecer a proposta do Elliott. 2 meses para me afastar da cidade que me lembrava o Logan. 2 meses para esquecer as pessoas que o lembravam também.
Eu estava representando a editora em que eu trabalhava, em diversas feiras de livros por todo o EUA. Tive tempo de conhecer escritores renomados e alguns iniciantes. Um bom período para deleitar-me em novas leituras, esfriar minha cabeça, colocar as ideias no lugar.

- MAMÃE! - Uma menininha gritou.

- Charlotte, fale baixo, você está incomodando a moça.

Não podia ser... Logo Charlotte? Às vezes eu achava que Deus estava me pregando uma peça.

- Tudo bem. - Sorri emocionada. - Você é muito linda, Charlotte. - Acariciei os seus cabelos.

- Obrigada. - Ela falou com voz de criança e sorriu espontânea.

Encostei minha cabeça na janelinha do avião e permiti que algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu tentava esquecer que gerei um bebê por alguns meses e que o perdi. Tentava não sentir aquela dor porque eu não tinha ninguém que pudesse me abraçar apertado e dizer que enfrentaríamos aquilo juntos. Doía tanto dentro de mim, mas eu tentava sufocar aquele sentimento com todas as minhas forças.

***

- Posso sentar com você? - Sorri para ele enquanto segurava uma pequena bandeja com uma xícara de chocolate quente e um muffin.

- AMY? - Ele arregalou os olhos. - Claro que pode! - Steve tomou a bandeja de minhas mãos, colocou-a sobre a mesa e me abraçou contra o seu peito. - Pensei que você tivesse se mudado ou coisa do tipo. O que Aconteceu com você?

- Calma! - Sorri e me sentei. - Viajei a trabalho.

- Seu cabelo... Ficou muito bom. - Ele piscou para mim.

- Obrigada. - Sorri sem graça. - E você, o que fez durante esse tempo? Ah, eu já sei... - Fingi pensar. - Salvou vidas! - Sorri brincalhona.

- Você voltou bem melhorar, Amy. - Steve acariciou o meu rosto com uma de suas mãos. - Com o tempo tudo voltará ao seu devido lugar.

- É...

Steve me olhava concentrado. Sua mão em meu rosto me causavam arrepios e meu coração batia em um ritmo descompassado.

- Eu quero muito beijar você, mas tenho medo de que você me atire essa xícara de chocolate. - Ele sorriu.

- Eu não sei o que farei. Você pode arriscar, se realmente quiser.

- Eu quero.

Steve abriu um sorriso mais largo, inclinou-se sobre a mesa e invadiu-me com seus lábios macios. Sua barba arranhava meu rosto me fazendo sorrir.

- O que devo falar agora? - Ele indagou.

- Você deveria ficar calado, só às vezes. - Dei de ombros e sorri.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O que você fez comigo - Capítulo 5 parte 2


- Eu te beijaria. - Ele acariciou o meu lábio inferior com o seu polegar. - Mas você me odiaria por isso. - Ele sorriu sem graça e balançou a cabeça em negação.

- Sim, eu te odiaria. - Confirmei.

- Volte a contar sua história.

- Acho que você acabou com o clima. - Ri baixinho.

- Por favor, quero saber mais sobre sua vida.

- Tudo bem. - Respirei profundamente. - O Logan tinha uma noiva e estava no alta esperando-a quando eu finalmente sai do coma.

- Não vai me dizer que você atrapalhou o casamento do cara? - Ele riu.

- Exatamente! - Comemorei. - Descobrimos que eu havia perdido a memória... Eu sequer sabia quem eu era. Lembra que eu te falei sobre meu namorado ter me traído? Eu só descobri isso muito tempo depois, não conseguia lembrar o que me fez sair de casa tão transtornada. - Fiz uma pausa de alguns segundos e retomei. - Depois começamos a namorar. A ex noiva dele, na tentativa de nos separar, o dopou e me mandou fotos deles na cama. Ela conseguiu nos separar por alguns dias, mas não foi inteligente o suficiente para manter a boca fechada. - Revirei os olhos. - Voltamos. Algum tempo depois ela engravidou, e adivinha só... O pai supostamente era o Logan. Meus pais eram separados e eu senti a dor de não ter um pai presente, não desejava isso para o filho dele, então eu terminei com o Logan e fui morar na Califórnia, lá eu conheci o Elliott, meu professor da faculdade.

- O que você cursou?

- Literatura Inglesa. - Sorri. - Ele foi incrível comigo, mas ele não era o Logan. - Suspirei. - Meses depois eu decidi voltar, e quando cheguei na casa da minha mãe, recebi a notícia de que a Maisie, ex do Logan, acabou morrendo em uma terrível queda de uma escada.

- Caramba!

- Eu corri para o cemitério, precisava consolá-lo. Quando eu cheguei lá, o Logan me disse que o filho na verdade era do Dylan, o meu ex namorado.

- Espera aí... O que aconteceu com essa história? Que loucura!

- O Dylan e a Maisie se uniram para nos separar e acabaram se envolvendo. A gravidez veio bem a calhar.

- Depois disso, finalmente vocês ficaram juntos?

- Sim, mas ainda tivemos um probleminha.

- Amy, não é possível alguém ter passado por tudo isso em uma só vida. - Ele riu. - Vou te mandar para a guerra, tenho certeza que você volta viva.

- Quem sabe? - Brinquei. - O Dylan sequestrou o Logan e tentou matá-lo, mas o Logan conseguiu fugir. Depois disso, o Dylan foi preso e finalmente ficamos em paz. Até aquele acidente o levar. - Respirei profundamente e senti meus olhos encherem de lágrimas.

- Ei, não chora. - Steve me acolheu em seu peito e acariciou os meus cabelos. - Tudo ficará bem.

Senti-me confortável abraçada a ele, mas ao lembrar de suas palavras sobre me beijar, meu coração começou a bater descompassadamente. E se ele procurasse a Carly em mim? E se eu procurasse o Logan nele? Nós nos feriríamos tanto...

- O que se passa nessa cabecinha? - Ele indagou ainda abraçado a mim.

- Estava lembrando do dia em que o Logan me pediu em casamento. - Sorri.

- Conte-me. - Ele fitou meus olhos.

Já estava nevando há alguns dias. O Logan apareceu na minha casa me chamando para um passeio de helicóptero. Eu era um pouco medrosa, mas também amava aventuras. O melhor momento foi quando lá do alto eu vi escrito em um rio congelado "Marry me". Não conti as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, aquela foi de longe a melhor surpresa que alguém poderia ter feito para mim, e fora o pedido mais esperado por mim.



- O que você me diz? - Logan indagou sorrindo.

- Nós já somos casados aqui. - Apontei para o meu peito. - Eu só quero oficializar e mostrar para o mundo inteiro que somos um só.

- Eu te amo, Amy.

- Eu te amo, Log. Te amo com tudo que há em mim.

***

- Entregue. - Steve parou o seu carro ao lado do meu na frente do prédio em que eu morava. - Tenha uma boa noite, Amy.

- Eu já tive. - Pisquei para ele e entrei com o carro na garagem.

Ao entrar em casa, olhei-me no espelho e uma frase ecoou em minha mente, fazendo-me sentir náuseas: "Se eu morrer antes de você, quero que você continue vivendo. Seja feliz e encontre alguém que te ame assim como eu te amo.". Logan e eu conversávamos sobre o que faríamos caso o outro morresse, e ele me deixou claro o seu desejo de que eu seguisse em frente, entretanto, ele provavelmente não sabia o quanto aquilo doeria em mim, não era tão simples assim. O maior problema de casais que tem essas conversas hipotéticas é que na verdade eles não acreditam que aquilo realmente possa acontecer.

O que fazer quando você é acostumada com um beijo, com um toque, com uma vida, e precisa se adaptar a outra história?

Abri a gaveta da penteadeira e tirei uma tesoura de lá. Despi-me ficando só de lingerie, molhei meus cabelos e comecei a passar a tesoura pelo mesmo. Eu eternizaria o Logan em mim, mas não podia viver a nossa história sozinha e também não permitiria que tamanha tristeza fizesse parte de algo tão forte e bonito quanto o que nós construímos.

- Você precisa deixá-lo ir, Amy. - Falei para mim mesma. - Você precisa soltar a mão do Logan, porque ele não pode mais ficar com você.

Olhei-me no espelho já com os fios mais curtos e sorri em meio às lágrimas. Cortar os cabelos significava que eu estaria deixando a velha Amy para trás. Significava que eu amaria o Logan por toda a vida, porque assim eu jurei no dia do nosso casamento, mas esse amor não me mataria, não me machucaria. Esse amor seria algo bom e viveria sempre dentro de mim, mas me traria liberdade, não me colocaria em um terrível prisão.