Alguns meses se passaram desde que voltei da minha última viajem. A rotina no trabalho estava um pouco mais corrida. Minhas noites se resumiam à leitura de obras que seriam lançadas e uma boa xícara de café. Volta e meia eu olhava para o sofá e lá estava o Freddie assistindo TV. Sempre achei fofinho essa atitude dele. Freddie parecia muito concentrado naquilo que se passava diante de seus olhos, então sempre deixo a TV ligada para ele. Tive alguns pesadelos com o Logan, mas a frequência com que eles acontecem vem diminuindo e isso me tranquiliza um pouco mais, porque não foram poucas as vezes que acordei gritando no meio da madrugada chamando pelo seu nome. Decidi colocar a casa em que moramos à venda, não demorou muito para que os interessados aparecessem e conseguíssemos fechar negócio. Depois disso, nunca mais precisei voltar lá e receber uma surra de lembranças. Aquela casa fazia com que uma onda imensurável de dor invadisse cada extensão do meu corpo. Alí nós deitamos no sofá, comemos pipoca e assistimos diversos filmes nas noites de sábado. Alí nós corremos pelo gramado brincando com o Freddie quando ele ainda era um filhotinho. Alí nós cozinhamos juntos. Alí nós nos jogamos na piscina de madrugada. Alí nossos corpos se uniram um ao outro. Alí nossos beijos foram intensos. Alí nossas conversas foram sinceras. Alí foi o nosso lugar.
Steve e eu corríamos todas as manhãs, as vezes trocávamos conversas em uma cafeteria no fim da tarde, as vezes saímos para ver um filme ou coisa do tipo. Nada nunca mais aconteceu depois do nosso único beijo na cafeteria, também não tocamos mais no assunto. Steve se tornou importante o suficiente para que eu o quisesse sempre perto de mim, mas eu não sabia se um dia seríamos mais que amigos que cuidam um do outro. Ele parecia bem melhor em relação à Carly. Conversamos muitas vezes sobre os nossos falecidos cônjuges, tudo parecia fluir bem e eu estava feliz pelo nosso avanço.
Elliott e eu trocamos algumas poucas conversas nesse tempo. Seu livro fora aclamado pelos críticos ingleses e ele saiu em turnê com a obra. Todos especulavam sobre quem era "Emilly", certamente não era a sua namorada, a Poppy, pois a mesma deu algumas entrevistas alegando que aquela história não pertencia aos dois.
- Eu não acho que seja uma boa ideia. - Torci os lábios. - Não quero ficar conhecida.
- Amy, todos querem conhecer a musa do Elliott. - Vanessa revirou os olhos. - Além disso, é uma ótima chance para a sua carreira alavancar. Tenho certeza que você receberá ótimas propostas de emprego depois que souberem que você é.
- Eu amo esse emprego, não preciso de nenhum outro. - Dei de ombros.
- Eu não aceito um não. - Vanessa me encarou. - Você irá! - Ordenou.
As pessoas estavam perguntando ao Elliott se não existia a possibilidade dele reatar com a "Emilly" para que eles tivessem um segundo livro, um final feliz. Ora, o que aquilo estava se tornando? O público estava esquecendo que aquela história não era um ficção, não se tratava de algo que o Elliott imaginou e escreveu ali, eram as nossas vidas, os nossos sentimentos.
***
- Você deveria lançar a sua versão dos fatos. - Steve sugeriu enquanto levava a xícara de chá à boca.
- Você ficou louco? - Arqueei as sobrancelhas. - Isso viraria uma guerra.
- Talvez eles só precisem saber que a "Emilly" não está mais disponível.
- Mas eu sou viúva. - Sorri sem graça. - É claro que estou só.
- Já te disse que isso é algo temporário, meu bem. - Steve apertou o meu queixo e o puxou para mais perto de si. - Você só estará só até o dia que decidir que não quer mais isso.
Ele sorriu e aproximou seus lábios dos meus.
- A Carly sempre será uma linda lembrança dentro de mim, mas há um espaço aqui para que você entre. - Ele apontou para o seu coração. - Eu só preciso saber se também tenho como fazer parte da sua vida.
- Amy? - Elliott lançou-me um olhar desapontado.
- Elli... Você... Você quer sentar conosco? - Forcei um sorriso para ele e me afastei do Steve.
- Para alguém que estava sofrendo pelo marido morto, você parece muito bem.
- Olha a maneira que você fala com ela. - Steve se levantou e caminhou até ele.
- Tá tudo bem, Steve. - Toquei seu peito. - Elliott, nós podemos conversar uma outra hora. - Suspirei.
- Claro, você pode ficar aí com o seu novo namorado. - Ele sorriu irritado. - Quando é que eu terei uma chance com você, Amy? O que é que todos esses caras tem que eu não tenho? Eu sou louco por você... Ah, talvez esse seja o problema. - Ele balançou a cabeça em negação. - Você merece alguém que te descarte na primeira oportunidade, assim como você faz comigo.
- É melhor você ir embora antes que eu parta a sua cara. - Steve grunhiu.
Elliott lançou-nos um sorriso debochado, deu dois soquinhos no peito do Steve e saiu. Senti um par de braços me apertar com força e depositar um beijo em minha testa. Ele sussurrou em meu ouvido: "cuidarei de você".
Steve me levou ao seu carro e dirigiu até a sua casa. Aquela era a primeira vez que ele estava me levando lá. Não sentia medo de estar com ele, Steve era sempre tão cuidadoso comigo.
- Agora você vai ficar deitada aqui enquanto eu preparo o nosso jantar. - Ele apontou para a sua cama e sorriu.
- Eu estou bem. - Sorri para ele. - Não preciso ficar deitada.
- A minha cama é muito fofa, você vai querer ficar aí. - Ele deu de ombros e se jogou na cama, me puxando junto.
- Tenho muita sorte porque você estava de plantão naquele dia. Obrigada por ter me salvado e por cuidar tão bem de mim.
Eu estava deitada por cima dele enquanto contemplava seus lindos olhos azuis e acariciava os seus cabelos macios.
- Então me deixe sempre cuidar de você...
Seus lábios se uniram aos meus em um beijo carinhoso. Steve apertava minha cintura e minhas coxas a medida que o nosso beijo se intensificava. Minhas mãos desceram até a barra da sua camisa, que logo fora parar no chão do quarto, junto com outras peças de roupas nossas.
- Amy, não quero que você se arrependa disso. - Ele acariciou o meu rosto. - Não quero que você se sinta mal pelo Logan. - Eu assenti.
- Por favor, não vá trocar o meu nome pelo da Carly. - Gargalhei baixinho e ele logo fez o mesmo.
- Prometo que não farei isso. - Ele depositou um selinho em meus lábios.
- Eu sei o que eu quero, Steve.
Quando você ama alguém de verdade, isso nunca passará, isso nunca mudará, mas eu precisava ser amada e construir uma nova vida. O Logan me disse que eu deveria encontrar um novo alguém, alguém que me amasse como ele me amou. Alguém que me fizesse sentir como se eu fosse algo precioso o suficiente para ser cuidado com todo zelo. Ele não desejava que eu o colocasse em um pedestal e fosse fiel à sua imagem, mas que eu fosse fiel aos nossos sentimentos, e quanto a isso, eu jamais seria capaz de corromper.